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Artigos-->Só Funciona no Tranco -- 02/04/2002 - 11:16 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Alguns órgãos da mídia costumam falar e se posicionar do mesmo jeito, seja contra ou a favor, sobre determinados assuntos. Parece que eles pensam do mesmo modo sobre qualquer assunto. Parece, ainda, que não têm independência para emitir suas próprias opiniões.



Pode ser que tudo isso venha a ser explicado pelo fato de que alguns jornais, por medida de economia, recebem e trocam informações e reportagens entre si, comprometendo-se a seguir a mesma linha de raciocínio de quem emprestou parte das filmagens, dos documentos, das provas ou dos textos da reportagem, a fim de que não possa haver, entre eles, opiniões diferenciadas.



A grande verdade é que, dificilmente, a gente encontra um jornal tecendo opiniões diferentes sobre qualquer assunto, principalmente nos editoriais. Às vezes, estas diferenças, quando existem, ficam por conta de ações isoladas de alguns colaboradores, sejam permanentes ou eventuais, ou contidas em matérias pagas. O caso da invasão da fazenda do presidente, em Buritis, MG, pelo MST, é bom exemplo.



Até agora, todos os jornais que tenho lido dão muito mais atenção ao aspecto da “violência” praticada pelos militantes do Movimento dos Sem Terra,, da “invasão” de propriedade alheia, da indiferença e do descumprimento em relação ao ordenamento jurídico vigente, e outras razões semelhantes. A condenação pelos atos praticados tem sido a tônica de quase todos os jornais.



Em que pese o fato de que não se pode admitir invasões de propriedades alheias, o assunto deveria, no meu modo de ver, ser melhor explorado pela imprensa, a fim de que a informação não ficasse prejudicada e que a população não ficasse,do mesmo modo, com a impressão de que alguns jornais estariam ajudando a denegrir a imagem do MST..



Por exemplo: até agora, ninguém sabe, ao certo, de quem é a tal fazenda. Este dado é importante na medida em que pode esclarecer algumas dúvidas junto à opinião pública.



Se a fazenda é do presidente, ela teria, para tanto, que estar registrada em seu nome, conforme manda a lei. Se é do presidente, e não está registrada, do ponto de vista legal a fazenda não é do presidente. E, nesse caso, ter-se-ía que questionar os motivos? Seria para esconder este patrimônio junto ao Imposto de Renda? Ou a fazenda não é mesmo do presidente. Se não é do presidente, de quem seria?



Considerando, ainda, a primeira hipótese, a de que a fazenda seja, de fato, do presidente, mas não de direito, porque não foi registrada, não seria esse o caso de flagrante descumprimento do ordenamento jurídico vigente? Nesse caso, a lei garantiria o dever de as forças armadas serem convocadas para defender o citado patrimônio?



E se a fazenda pertencer, de fato e de direito, à filha do presidente? A lei garante, por acaso, a proteção das forças armadas ao referido patrimônio? E não seria o caso de verificar, a título de ampliar a reportagem, o valor da fazenda e em que condições a filha do presidente teria adquirido tal patrimônio? Teria, ela, na condição de filha do presidente e de ocupante de cargo comissionado junto ao Poder Executivo, o direito de viajar para Buritis, até a sua fazenda, às custas do erário público?



E as primas do presidente? Suas sobrinhas, suas netas, seus afilhados, seus amigos de infância? Como ficaria a situação se todos eles tivessem fazendas invadidas.? O exército teria que protegê-las?



E o apartamento do presidente, em São Paulo, teria direito à proteção do exército? Inclusive os demais moradores do edifício?



Faltou dizer muita coisa na reportagem. Inclusive, que esses movimentos são suscetíveis de invasões de gente com interesses diversos daqueles a que se propõe o MST. Tanto militantes que desvirtuam o movimento, por interesses escusos, como gente que nada tem a ver com a terra. Faltou dizer que o governo, se quisesse, já teria avançado mais na reforma. Faltou dizer que o governo retirou mais da metade dos recursos que iriam para as ações complementares da reforma agrária.



O superintendente do INCRA, em entrevista na TV Minas, levada ao ar no dia de ontem, disse que a reforma agrária depende de vontade política do governo, e de parcerias com outros ministérios, como o da educação, do trabalho e assim por diante. Disse, ainda, que a reforma só não anda mais rápido porque é pequeno o poder operacional do órgão. E que o problema da reforma agrária é, também, dos governos estaduais. Faltou dizer, apenas, que a reforma não é prioridade do governo. Pois, se assim o fosse, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista técnico, o governo está com a faca e o queijo na mão. Só falta agora o governo dizer que tem alergia a queijo.



A grande verdade é que o MST tem lutado por algo justo. Pela terra e pelo trabalho. E tem deixado ensinamentos à sociedade. Ensinamentos do tipo de que é preciso lutar para acabar com esta perniciosa mania de concentração de quase tudo, nas mãos de uma minoria. Concentração de riquezas, concentração de poder, concentração de terras, concentração de rendas, enfim. E toda essa concentração, não tenho dúvidas, visa interesse único: multiplicar e acumular capitais, no ritmo da política americana.



Graças ao MST, foi aberta à ferida da grilagem nacional. Muita gente, durante muito tempo, e até hoje, acredito, possui milhares e milhares de hectares de terras, de forma irregular, improdutivas, esperando o bom preço, a hora de negociar em condições que lhes são mais favoráveis, para retirar dos cofres públicos e da boca dos miseráveis, os parcos recursos em pagamento de terras que, a rigor, nem lhes pertence.



O MST ensinou e ensina muita coisa aos brasileiros. E o maior dos ensinamentos é que os governos, de modo geral, quando se trata de beneficiar a população, são iguais aos carros velhos: só funcionam empurrando. No tranco.



Domingos Oliveira Medeiros

02 de abril de 2002

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