O PINTOR SOROKU WANI
L. C. Vinholes
Em agosto deste 2015 terão passado 50 anos transcorridos desde a visita que o pintor Soroku Wani fez a São Paulo.
Conheci Wani na Galeria Yoseido de Tokyo uma das tantas exposições que costumava visitar para me familiarizar com a variedade das obras dos pintores japoneses do final dos anos 1950 e da década de 1960. Nos tornamos amigos e convencido da qualidade dos trabalho por ele produzidos com diferentes técnicas, decidi apresentá-lo ao artista plástico Kenzo Tanaka diretor-fundador, em junho de 1962, da Sociedade Internacional de Artes Plásticas (ISPA) que em 1963; por sugestão minha, passou a chamar-se Sociedade Internacional de Artes Plásticas e Áudio Visuais (ISPAA), visando ampliar seu campo de abrangência e acomodar obras de poetas e músicos. A ISPAA definiu-se como “um grupo e movimento com o propósito de congregar artistas de todos as formas de arte moderna do nosso tempo – pintura, escultura, música e poesia - e promover amplo intercâmbio cultural baseado em incondicional respeito pela criação individual”. Pela primeira vez, como membro da ISPAA, Wani participou da exposição na Galeria Nunu em Osaka (12/18 de julho de 1965) e no Museu de Arte Homma, em Sakata (21 de agosto a 3 de setembro de 1965) juntamente com os artistas Shinzo Adachi, Mitsuyoshi Kageyama, Masao Komada, Msuhiro Kubota, Hiroyuki Nakano, Tatsuki Nanbada, Kenzo Tanaka (Japão), Raul Porto, Sansom Flexor, Wesley Duke Lee (Brasil), Sang Yu Kim, Se Duk Lee e Young Kuk Yoo (Coreia). Da mesma mostra figuraram mini paineis com poesias de Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald, Edgar Braga, Pedro Xisto, Ronaldo Azeredo, L. C. Vinholes, Eusélio Oliveira, Mario da Silva Brito, Alcides Pinto, Dora Ferreira da Silva, Roberto Thomas Arruda, João Adolfo Moura (Brasil), Seiichi Niikuni, Toshihiko Shimizu,Yasuo Fujitomi (Japão), Ian Hamilton Finley, Edwin Morgan (Escócia), Pierre Garnier (França), Max Bense (Alemanha) e Eugen Gomringer (Suíça).
Wani nasceu em 1932, em Hakodate, capital da Província de Hokkaido, a ilha mais setentrional japonesa, fez suas estudos na Tokyo Geidai, Universidade de Artes de Tokyo, participou das mostras da ISPAA em Osaka, Sakata e Seoul (1965/1967), no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1968), Kyoto, Naha, Malásia, Singapura, Hong-Kong, Austrália, Taiwan e Kobe (19698/1972). Antes de viajar ao Brasil, Wani realizou anualmente exposições individuais na Galeria Yoseido de Tokyo (1959/1975). Suas obras figuram em coleções particulares nos Estados Unidos da América do Norte, Japão, Brasil e nos museus de arte moderna de São Paulo e Taiwan.
Dez anos antes da sua visita ao Brasil, no catálogo da sua mostra individual de março de 1966, na Galeria Yoseido, Wani fraternalmente abriu espaço para meu poema de 1962, dedicado à cidade de Suzu, Província de Ishikawa, que, no original, chamou a atenção pela sonora rima dos seus versos, rima esta desconhecida da poesia em língua japonesa
Suzu no Hanataba amalhete de Suzu
suzu no umi mar de suzu
suzu no yama montanha de suzu
suzu no yoru noite de suzu
suzu no hora gruta de suzu
suzu no asa manhã de suzu
suzu no suna areia de suzu
yoru no suzu suzu a noite
suzu no iwa rochedo de suzu
suzu no tani vale de suzu
suzu no kawa rio de suzu
suzu no tori pássaro de suzu
suzu no sora céu de suzu
suzu no ki árvore de suzu
suzu no ha folha de suzu
suzu no tane grãos de suzu
suzu no kaze vento de suzu
suzu no tera templo de suzu
suzu no kane sino de suzu
suzu no uta canto de suzu
suzu no mine cume de suzu
suzu no ao verde de suzu
suzu no yane telhado de suzu
suzu no gakko escola de suzu
suzu no taiko tambor de suzu
suzu no Ohtani Ohtani de suzu
suzu no kora crianças de suzu
Em 1976, coloquei Wani em contato com Kasuo Wakabayashi e Tomie Ohtake que interessaram a André Galeria de Arte de São Paulo a promover mostra dos seus trabalho. No final de julho Wani e eu viajamos para o Brasil tendo ele sido meu hóspede na casa da Rua Antônio Canarella, da Vila Moraes. Da janela do segundo piso Wani costumava observar, atendo e um tanto apreensivo, o movimento de gente acelerada na ida para o trabalho e na volta para casa, fazia comentários e ficava impressionado com a variedade de fisionomias, algo completamente diferente daquilo com que estava acostumado na sua Hakodate, reduto dos aborigenes ainu, ou em Saitama onde, em virtude dos seus estudos, passou a morar quando mudou-se para Tokyo.
Para o catálogo da mostra de Wani na André Galeria, atendendo a pedido de Wakabayashi, preparei o texto que segue:
A arte abstrata que nas últimas décadas catalisou o interesse de uma significativa parcela do público consumidor, contou, positivamenmte, com a participação e a colaboração criadora de artistas japoneses. A formação cultural baseada em uma arte com tradição milenar, presença viva no inconsciente coletivo do povo japonês, nunca foi obstáculo à criação nova e atualizada dos seus artistas mais representativos. O artesanato que uniu gerações de mestres e discípulos não impediu que os valores da arte de vanguarda, individualemente gerados, tivessem vida própria. A participação japonesa em mostras internacionais dão provas da existência de uma arte atuante e em sintonia com os valores e a problemática do momento. Wani Soroku é mais um exemplo do espírito criador que o Japão oferece. Suas cores e linhas, seus pontos e contrastes, suas formas e densidades dão à sua obra um dinamismo e um vigor só raras vezes alcançados. As obras desta mostra tem algo com os aspectos do mundo que nos cerca, revelado pela ciência mais sofisticada dos nossos dias.
Infelizmente, devido a repentina mudança da data de vernissagem da mostra de Wani e a compromisso inadiável anteriormente acertado com artistas plásticos em Porto Alegre, não me foi possível acompanhar o amigo naquele importante momento de sua estada na capital paulista. Wani nunca aceitou esta justificativa.
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