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Artigos-->Cheio de histórias -- 21/12/2014 - 17:18 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cheio de histórias



Moro em Brasília há cerca de 40 anos. Desde então pertenço a esta cidade e provo todos seus sabores e dissabores. Cheguei criança e falava com sotaque das raízes nordestinas.



Aqui vivi momentos inacreditáveis como, aos 12 anos, ouvi o policial dizendo que afundaria meu coração se eu não saísse dali. Senti o mesmo coração disparar ao primeiro sorriso da minha filha lá na maternidade.



Vivo intensamente as amizades sinceras de alguns que não medem esforços para sorrirmos as alegrias ou chorarmos as dores da vida. Dou gargalhadas por aqueles que fingem falar ao celular ou atravessam a rua para se desviarem da minha presença.



Vi políticos que se julgavam importantes serem desmascarados, presos e caírem em desgraça com a mesma velocidade que subiram com suas mentiras. Há poucos dias um deles que ainda está no poder esbravejou contra a população que paga o salário dele: “...vinte e seis assalariados não podem impedir a sessão do Congresso”.



Ao longo desse tempo, e por causa das aulas de Geografia, aprendi a ver a capital com olhar mais apurado, já que cidade é um organismo vivo que se movimenta, cresce e se reinventa. Acompanhei o aumento dos números dos telefones que outrora sabíamos que o prefixo 272 era de quem morava na Asa Norte; 377, na Ceilândia e 562, em Taguatinga. Por aquela época tínhamos o Jumbo e eu não entendia a propaganda do “papai noel de agosto Onogás”. Ainda naqueles tempos íamos aos bares e restaurantes para conversar, não havia televisão e celular para desviar nossa atenção.



Vi com angústia o crescimento dos engarrafamentos. Ainda ecoa a voz do locutor dizendo, há 20 anos, que o trânsito estava lento por causa de um engarrafamento de um quilômetro. Hoje passamos cerca de duas horas presos no carro na companhia do mesmo locutor. O que dizer das inundações? Ele tinha pouco trabalho. Anunciava uma árvore ou um poste caído aqui ou acolá. Não conhecíamos inundações, carros sendo arrastados e crianças morrendo afogadas dentro dos carros. Isso era coisa lá de São Paulo.



Nos tempos em que morei na Ceilândia - àquela época a maior favela das Américas - a violência era com facas e porretes, geralmente praticada por desempregados, bêbados ou bandidos que morriam de medo da polícia. Aos poucos os bandidos foram diminuindo de idade, ficando mais violentos e aperfeiçoaram o manejo com armas de grosso calibre. Eles invadiram a cidade e podem nos encontrar em qualquer esquina. Opa! Brasília não tem esquina.



Nesse crescimento, aos poucos estamos substituindo os endereços SQS, CLS ou 106, 306 por nomes de ruas. Qualquer taxista nos leva à rua das farmácias, rua da igrejinha, rua dos restaurantes e rua dos computadores. Se ele te perguntar a que altura do eixão você quer descer, relaxe, você não vai voar.



Foi nesta cidade que assisti o maior espetáculo do futebol, a Copa do mundo de 2014. A capital federal chorou ao ver o Brasil perdendo de 7 a 1 para Alemanha. Tínhamos nas mãos o controle da televisão mas não controlávamos os alemães. Dias depois o gramado do estádio Mané Garrincha foi a passarela da nossa seleção canarinho. Noutros tempos sorrimos e nos abraçamos com as vitorias daquela mesma seleção que perdia para a Holanda ali, na nossa frente, aos nossos olhos. De novo impotentes. O silêncio tomou conta do estádio. Aqueles são dias que gostaríamos de apagar da nossa história. Porém, é mais uma situação que não pudemos fazer nada para mudá-la.



Hoje levantei cedo e fui ao parque Olhos d’Água confraternizar com os observadores de aves. Depois acompanhei nosso papai noel distribuir brinquedos para crianças carentes. À noite me emocionei com a irmã dele na serenata de natal. Esses momentos estão nas fotos no meu facebook.



Brasília é assim, deixa a gente cheio de histórias



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