O Dedo do Americano
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Há coisas que viram rotina
Como cachaça e cinzano
Como dor- de- cotovelo
Como gostar de bichano
Nessa pátria mãe gentil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Ninguém esquece a lição
Entra ano e sai ano
Desde a Proclamação
A coisa debaixo do pano
Nessa terra varonil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Brasil dos Estados Unidos
Nome dado por fulano
Começava a gozação
Nosso eterno desengano
Assim o nome surgiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Nascia a Federação
Logo no primeiro ano
A bandeira que surgiu
Tinha outra cor no pano
Vermelho e azul anil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Na fundação da República
Nasceu a história do cano
Tudo feito de improviso
Não havia nem um plano
O povo inteiro sumiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Naqueles tempos passados
O Fundo cobrava por ano
O juro que lhe cabia
O sagrado e o profano
O dólar a mais de mil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Veio a guerra mundial
Triste foi aquele ano
Afundaram o navio
Em nome de um fulano
Mas a coisa ninguém viu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Assim entramos na guerra
Entramos também pelo cano
Fomos brigar na Itália
Monte Castelo o plano
Morreram pra mais de mil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Nossa marinha até hoje
Vive o seu desengano
Recebeu o porta-aviões
Do amigo do beltrano
A Inglaterra decidiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
E o tempo foi passando
Lembro bem daquele ano
No mês de abril de sessenta
Muito trabalho insano
Brasília logo surgiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Juscelino que o diga
O Fundo com voz de soprano
O dinheiro da construção
Juro alto à cada ano
A dívida assim subiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Pró-álcóol não deu em nada
Na tecla do mesmo piano
Fizeram com que o programa
Desse errado o nosso plano
Criativo e bem sutil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Entramos na era Fernando
Presidente puritano
O sistema financeiro
O inimigo e o tirano
O juro de novo subiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Eleito o companheiro
Permanece o desengano
Nada de novo acontece
Entrou ano, saiu ano
O risco desceu e subiu
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
No Congresso Nacional
A reforma sem um plano
Agrada todo banqueiro
A festa de fim de ano
A convocação se torna vil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Deputado é convocado
Com sorriso pueril
No bolso alguns trocados
Nem a vergonha assumiu
Para nosso desengano
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
Veio a guerra do Iraque
Mais um ato profano
Bravatas e violência
Do piloto do aeroplano
Mostrou-se nada gentil
Tudo que se faz no Brasil
Tem dedo do americano
O dedo maior de todos
Fura bolo e fecha a lista
Do abuso estrangeiro
Que vai dando a sua pista
E depois ainda reclama
Quando o povo ele chama
De país imperialista