A FALA DO SILÊNCIO
Elane Tomich
Do silêncio, expressividade...
Num tremor de pálpebra,
umedecida lágrima
queimando lábios,
sela em sal, a página
do doce silêncio do desejo.
Lógico como a álgebra!
Mais forte cantassem
os batimentos acelerados
do coração, decerto fossem
foice que ceifaria
o suspense da harmonia...
num cochilo, átimo
de suspiro, qual querer matemático.
Por traz de uma nuvem calada
de chuva, um pássaro canta
estranha sentença
do não ser preciso dizer.
As mãos falam na mímica
a peça que pensa
moldes do que fazer
do amor maior, em tom menor.
Um sussurro de tempo
traz a mensagem cúmplice
das festividades do acaso,
do mormaço, do abandono...
Do medo súplice
das traições do ocaso,
na preguiçosa coreografia
desmaiando em folhas de outono.
A chuva bate no telhado.
O cheiro do café convida
à comunicação curiosa
das palavras silenciosas
que trazem o som da vida.
04 / 2003
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