Mui grandessíssimo otário,
Eis o golpe do vigário
Do plano espiritual.
Não escapa você desta,
Nem que fuja p’ra floresta,
Nem com um rezar banal.
Há de ter muita coragem
Em pegar a tal mensagem,
Sem um sequer titubeio.
Ou você nos tem estima,
Ou é a gana da rima,
Ou é sentimento feio.
Sabemos que a estima cresce,
Quando o bom verso aparece,
Conteúdo e formosura.
Mas nos diz que é bem cedo,
P’ra de nós ter grande medo,
Inda menos nesta altura.
Quem nos quiser ajudar
Que comece devagar
A rascunhar os versinhos.
Depois de luta renhida,
Já se passou toda a vida:
Não farão mal os espinhos.
Queridíssimo escrevente,
Você, queremos que agüente
Tudo, tudo com mais calma.
Se for para se enervar,
Escolha um outro lugar:
Neste aqui, não “lava a alma”.
Jesus daria um conselho:
— “Mire-se você no espelho,
Quando estiver bem zangado.
Assimile a carantonha
E, se ficar com vergonha,
Ponha a tal zanga de lado.”
Ao tomar-se de paixão,
Consulte o seu coração,
Sobre o amor do seu vizinho.
Será falso ou verdadeiro?
Será que o seu vem primeiro,
A oferecer bom carinho?
Que culpa tem toda a gente,
Se é você que a zanga sente?
É melhor ser mais cordato.
Não há nada a se ganhar
Em pôr “de pernas p’ro ar”
O bazar, co’espalhafato.
Como é bela essa figura!
Pensa logo a criatura
Em apanhar os botões,
Ali no chão, de gatinhas.;
Em enrolar as fitinhas.;
Em recompor corações.
Quem chegou com as ofensas
Fez estrofes bem extensas,
Sem proveito p’ra ninguém,
Até que pediu perdão,
Por chamar “otário” o irmão,
Sem nenhum golpe também.
Mas aproveitou os versos
Cujos sons não são perversos,
Para fazer algo bom.
Demonstrou alguma estima,
Como evidenciou acima,
Tendo Jesus dado o tom.
Perversidade na rima
É bem este o nosso clima,
Nestas tardes de poesia.
Mas não importa se erramos,
Desde que pendam dos ramos
Os frutos desta alegria.
Caminhamos uma légua,
Nestes momentos de trégua,
No plano espiritual.
É que a palavra distrai,
Quando pedimos ao Pai
Que nos afaste do mal.
Sentimentos superiores
Vão afastar-nos das dores,
Nestes instantes felizes.;
Mais ainda, se soubermos
Que as alegrias que dermos
Nos corações põem raízes.
Se a vida lhe for sofrida,
Saiba que a gente convida
A que sinta a nossa dor:
Sofrimento partilhado
Põe egoísmo de lado.;
Recrudesce o nosso amor.
Vão dizer: — “Não basta a nossa,
Querem até que se possa
Agüentar a dor alheia.”
Se dessa forma ocorrer,
Saberão que é de dever
Julgar a dor menos feia.
Quanto a nós, sempre estaremos
A carregar os seus remos,
Esforçando-nos deveras.
Não nos chamem “burros xucros”,
Se desconhecem os lucros
Que se dão nestas esferas.
Mas fazemos sem malícia,
Que há rigorosa polícia,
P’ra saber se se falseia.
Ao fazer versos formosos,
Se não se sentirem gozos,
A tarefa fica feia.
Aceite, pois, nosso empenho,
Dizendo: — “Aqui, hoje, eu venho,
Com o coração na mão,
Buscando ajudar quem sofre,
Abrindo a porta do cofre,
Sem falar a ninguém: — Não!”
Espiritismo é abrigo
Que se dá a todo amigo
Que se deseja ver são.
Uma palavra de aviso,
Promessas de paraíso:
Caridade é salvação.
Lembranças de Jesus Cristo?
Diga sempre: — “Não resisto
Às lições do caro Mestre.
Que estoure meu coração,
Mas os meus amores vão
Abarcar o orbe terrestre!”
Pensamento em desalinho?
Na verdade o tal carinho
Dá Jesus a todos nós.
Inda assim, é só um pouco
E não faça ouvido mouco:
Ouça bem a nossa voz.
Atendeu ao bom conselho?
Já foi mirar-se no espelho?
Como anda a sua zanga?
Envergonhou-se de todo?
Quer dar-nos perdão a rodo?
Vai livrar-se dessa canga?
Ficam aí as perguntas.
Não responda a todas juntas:
Uma a uma é bem melhor.
Peça ajuda superior,
Discutindo co’o mentor,
P’ra saber tudo de cor.
Ao terminar o trabalho,
Estenda o seu agasalho,
Para algum irmão carente.
Quem se sente mais perfeito
Tem um coração no peito
A dizer sempre: — “Presente!”
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