Pedro chegou-se a Jesus:
— “Mestre, por que nos conduz
Por este mundo sem fim?
Não será mais proveitoso
Que entremos, logo, no gozo
De anjo e de querubim?”
Jesus, eterna paciência,
Consternou-se co’a insciência,
Mas lhe propôs um dilema:
Como é que poderia,
Sabendo que alguém sofria,
Ter felicidade extrema?
Não lhe deu Pedro respostas,
Mas voltou-se sobre as costas,
Para esconder o seu pranto.
Viu a fome que grassava,
Quando a seca os assolava,
Tirando da vida o encanto.
Até hoje, o tal dilema
Contém a questão suprema
Da caridade evangélica.
Há uma multidão que sofre,
Mas o dinheiro do cofre
Serve só p’ra arte bélica.
Porém, existe esperança,
Pois a caridade avança,
Que os Pedros se multiplicam.
Cristianismo redivivo,
O povo está mais ativo,
As almas se modificam.
Mas são tantos os que morrem...
Como também os que correm
Em auxílio, nos dois planos.
Se não der tempo, na Terra,
O trabalho não se encerra:
Não haverá desenganos.
A morte é problema sério,
Que se resolve no etéreo,
Com toda a simplicidade.
Bem pior é ter o mal
Como fator mui normal,
P’ra nossa felicidade.
Hão de inquirir, astuciosos,
Se Jesus tem os seus gozos,
Apesar da dor alheia.
Ou se lá, na eterna esfera,
Todo o povo está à espera
E, no auxílio, titubeia.
A compreensão para a dor
Causa de início pavor,
Nas idéias de injustiça.
A consciência sofre um pouco,
Se se faz ouvido mouco,
Por não se enfrentar a liça.
Mas o dever se reparte.
Cada cidadão, destarte,
Tem responsabilidade.
Assumirá compromisso
Quem não se deu ao serviço,
No campo da caridade.
Por isso, a seara cresce,
Pois o trabalho aparece,
Na proporção desses fardos.
Quem se perdeu, no deserto,
Sobreviveu, quando, esperto,
Viu alimento nos cardos.
Serenidade é preciso,
P’ra se manter o juízo
Equilibrado na vida.
Caso a lição de Jesus
A um dilema se reduz,
Está no amor a saída.
Pedro se doou inteiro,
Mas negou Jesus primeiro,
Como nos fala a Escritura.
Essa mesma condição
Há para quem disse “não”,
Mas tornou a alma pura.
Quer ser feliz, no porvir,
Sem parar de progredir?
Pense no amor de Jesus.
E dedique, direitinho,
A cada irmão um carinho,
Sem reclamar dessa cruz.
— “Mas não me sinto seguro.
Gostaria de ser puro
E me vejo malicioso.
Quando dou alguma esmola,
Minha mente sempre bola
Como reverter em gozo.”
O despertar da consciência,
Conquanto sem inocência,
Aponta p’ra redenção.
O arrepender-se não tarda:
Está cosendo-se a farda
De um bom soldado cristão.
Este que aos humanos fala
Suas malícias não cala
Nem dos males faz segredo.
A imperfeição grassa solta,
Mas a alma segue envolta
Em manta que esconde o medo.
A nossa idéia do bom
É desenvolver o dom
De ajudar, sem ver o custo.
Vale qualquer sacrifício,
Para remover o vício:
Com Jesus, não se tem susto.
Veja como é pobre o verso
— Rima rude, som perverso —,
A refletir nossa mente.
Mas, por trás da tal ruindade,
Atuamos com bondade:
É assim que a turma sente.
Tal exemplo é valioso
E não seria formoso,
Se houvesse sombra do mal.
Não existe ingenuidade,
Mas proceder com piedade
Torna a consciência normal.
Pedro, hoje, abre as portas,
Se cultivarmos as hortas
Das virtudes peregrinas,
Mas o bom de tudo isso
É temperar com serviço
A salada das doutrinas.
Se disfarçarmos o pranto,
Saberá Jesus o encanto
De seus ensinos de luz,
Pois, se o sofrimento alheio
Não nos causar titubeio,
Não há de ser nossa cruz.
Oremos com devoção,
“Nesta forma de canção”,
Tendo o amor por estribilho.
Agradeçamos ao Pai
Mais um dia que se vai:
Assim procede o bom filho.
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