Jesus pequenino, um dia,
Quis fazer uma poesia
De puro amor a seu pai:
— “José, eu te amo, querido,
Se alguém já amou, duvido
Que sobre o meu sobressai.”
Muito tempo se passou.
José para o Céu voou
E quis proteger Jesus,
Mas ficou muito surpreso,
Pois viu todo um templo aceso,
No filho cheio de luz.
Acreditou na poesia,
Pois ninguém melhor diria
A rima cheia de graça.
Pediu ao Pai, no infinito,
Que desse um fim bem bonito
Àquela gema sem jaça.
Mas para o seu desespero,
Eis Jesus em exagero
De sofrimento e de dor.
José se pôs muito aflito:
Não era o “fim bem bonito”
A quem lhe tivera Amor.
Quis acusar a Deus—Pai
De rejeitar a quem vai
Perder a vida na cruz.
Sobe correndo a montanha
(Nunca vira dor tamanha):
Lá em cima estava Jesus.
O cravo lhe fura o punho.
É bem duro o testemunho,
Mas Jesus só diz sereno:
— “Eu te amo, Pai querido.
Se alguém já amou, duvido
Que teve fim tão ameno.”
Aí José compreende
(Quanto n’alma o amor rende!)
Que Jesus ultrapassava,
Em vigor e piedade,
Em justiça e caridade,
Aquela dor que o levava.
Em preces, passou a tarde,
E agora que o Sol mais arde
Vê o filho estrebuchar.
A Natureza acompanha
A morte lá na montanha
E faz fremir todo o ar.
José não mostra mais medo,
Pois percebeu o segredo
Daquele ser superior,
Vendo, em tanto sofrimento,
Sem um único lamento,
Toda a pujança do Amor.
Antes que o filho apareça
E seu carinho ofereça,
Eleva uma prece ao Pai:
— “Eis nosso amor, Pai querido,
Se alguém já amou, duvido
Que do nosso sobressai...”
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