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Cronicas-->O LAMENTÁVEL EXPEDIENTE DA GUERRA -- 20/10/2002 - 08:47 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Agora, falando sério: estamos em pé de guerra! Aliás, estamos mesmo no centro de uma terrível guerra. E mais: lívidos, transidos de pavor e com o coração na mão mediante as estatísticas mais desalentadoras, malgrado as convenções e tratados internacionais de paz, malgrado todo aparato legislativo regendo condutas e tudo o que se possa imaginar.
É o paradoxo do gigantesco aparato da ordem produzindo a parafernália caótica da desordem.
Acredite se quiser. É como se num caleidoscópio víssemos todas as agressões e vinditas, todos os sanguinolentos conflitos desde as campanhas do império assírio e neobabilónico, as greco-persas, as de Alexandre Magno, as púnicas, as do império romano, as invasões bárbaras e árabes, as cruzadas, as do império otomano, dos sete, dos trinta e dos cem anos; o sangreiro da revolução francesa, os conflitos da primeira e segunda guerras mundiais, e as muitas que se fizeram eclodir depois da Organização das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, como as do Vietnam, do golfo, a balcànica, e agora contra o terrorismo, fora as de sobrevivência na África e de outras regiões em conflitos eternos.
Parece-me, depois de tudo isso, que em nenhum momento a humanidade realmente gozou a paz. Há sempre o estrépito de um conflito aqui ou ali, no planeta.
Cá para nós, esses sangrentos estúpidos ocorridos depois da última grande guerra até hoje, só invalidam todas as tentativas de respeito aos direitos humanos e à esperança de um mundo melhor e mais justo, discutindo-se, portanto, afinal, qual é mesmo o papel das Nações Unidas.
O desapontamento com desvario humano levara, por exemplo, Adorno a mencionar que não poderia haver mais poesia depois de Auschwitz. E isto torna quase desnecessário dizer, para nossa maior incredulidade, que entre animais da mesma espécie quase nunca o confronto aberto conduz à morte do opositor, isto, claro, sem contar com a domesticação de alguns animais pelo homem, prontos para a briga e o ataque, deixando-nos, enfim, parecer ser exclusiva ao ser humano a beligerància, e deixando antever a iminente degeneração humana nessa agressão violenta permitida, tornando a todos prisioneiros num barril de pólvora de uma guerra letal.
Dá-me a impressão de que quando pensamos que tudo está em ordem, o obscurantismo triunfa e os postulados de Sun Tzu está mais que vigente nesse tempo de desenfreada competição globalizada.
Resta-nos, em primeiro lugar, reavaliar sempre. Pois que, remontando no tempo, Montaigne já revelava que "o crime nivela os cúmplices", quando os sequiosos de glória ainda não satisfeitos, atiram-se como "quem não a tem ainda, procura alcançá-la a qualquer preço".
Noutra investigação, Hobbes também chegou ao ponto de mencionar que o homem é mau e corrupto, justificando que "a competição pela riqueza, a honra, o mundo e outros poderes leva à luta, à inimizade e à guerra, porque o caminho seguido pelo competidor para realizar seu desejo consiste em matar, subjugar ou repelir o outro". Arrematando: "(...) onde não há propriedade não pode haver injustiça".
Isso reiterado por Locke: "não haveria afronta se não houvesse a propriedade". É o que nos deixa por conclusão a "História da Riqueza do Homem", de Leo Huberman.
Não menos relevante foi Rousseau admitir que a capacidade humana chega ao cúmulo de auto-destruir-se, porque "só o homem é suscetível de tornar-se imbecil (...) a ambição devoradora, o ardor de elevar sua fortuna relativa, menos por verdadeira necessidade do que para colocar-se acima dos outros, inspira a todos os homens uma negra tendência a prejudicar-se mutuamente".
E Bergson, ao testemunhar os horrores da primeira guerra mundial, percebeu: "Hecatombes inauditas, precedidas dos piores suplícios, houveram ordenadas com inteiro sangue-frio (...) é curioso ver como os sofrimentos da guerra se esquecera depressa durante a paz (...) só que a guerra é feita com as armas forjadas por nossa civilização e o morticínio é um horror que os antigos não poderiam jamais imaginar".
Em Camus encontramos que "a vida vale a morte; o homem é a madeira da qual se fazem as fogueiras... (...) A própria guerra tem suas virtudes (...) porque existem imbecis desenfreados, que matam por dinheiro ou por honra (...) Ninguém pode ser feliz, sem fazer mal aos outros. É a justiça desta terra".
É quando passamos a entender a idéia de Edgar Morin ao afirmar que ainda estamos na idade da pedra do conhecimento. E isto nos faz prever o pior, o de que, na saga humana, o homem nunca se libertara da barbárie, esta a razão de estarem sempre no centro dos conflitos, das hostilidades, dos antagonismos, das perversidades, da violência levada a extremos.
Resta-nos, de verdade, a dor da amargura e o repúdio à indiferença sobre o sangue derramado e os escombros de um verdadeiro assassinato do planeta, valendo-nos, ainda que tarde, da esperança, se bem que longínqua mas, com certeza, factível, de apostar na solidariedade humana e na emancipação do homem no direito de viver e deixar viver para a construção de um mundo melhor.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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