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Artigos-->Mimeógrafo Generation e a Poesia Marginal -- 29/05/2014 - 21:13 (Jayro Luna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MIMEÓGRAFO GENERATION E A POESIA MARGINAL

Ludmila Bats





A chamada poesia marginal, também denominada “geração mimeógrafo”, teve seu período mais significativo durante a década de 70 e não faltam hoje publicações que abordam em análise e criticamente o período. Podemos citar, 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque de Holanda; Retrato de Época, de Carlos Alberto Messeder Pereira; O que é Poesia Marginal?, de Glauco Mattoso e Literatura Comentada: Poesia Jovem Anos 70, entre outros.

Fruto de um cruzamento de influências que foram tratadas antropofagicamente, inclusive a própria antropofagia oswaldiana e se acrescente a contracultura, o rock, a beat generation, o tropicalismo, o concretismo e a poesia engajada, a Poesia Marginal alcançou ainda maior notoriedade quando alguns de seus nomes foram editados por editoras maiores e passaram a ser lidos por um público maior. Com destaque a coleção da editora Brasiliense, Cantadas Literárias, que publicou livros de Chacal, Cacaso, Ana Cristina César, Francisco Alvim, Paulo Leminski, e mais alguns, que foram publicados na década de 80. Assim, quando se entra nos anos 80, alguns poetas marginais já participam da mídia, inclusive com parcerias musicais com grupos de rock brasileiros e tendo seus livros colocados nas principais livrarias do país. No sentido lato, neste momento não são mais marginais, mas poetas que representam uma juventude e que participam do espaço editorial brasileiro.

Motivados pela geração de 70, outros poetas saem em busca de demonstrar seus talentos poéticos e a geração marginal dos anos 80 encontrará outro panorama. A poesia marginal dos anos 80 enfrenta uma situação diferente. O arquétipo do poeta marginal parece que já fora preenchido psicossocialmente pelos poetas da década anterior. O espaço é cada vez mais restrito aos novos poetas e aos poucos e timidamente vai se fundamentando uma nova prática que se estabelece no final dos anos 90 de forma decisiva que é a Internet. Os livrinhos xerocopiados ou impressos em mimeógrafo são agora documentos de historiografia literária.

É neste panorama confuso e híbrido, em que a contracultura é mais tema de documentário e de camisetas de grife do que de práxis, em que Oswald e o Tropicalismo se tornam elementos midiáticos de parte da inteligentsia brasileira do público universitário, bem como o Concretismo, que surge o que me parece ter sido um dos últimos e originais fanzines de poesia marginal com referência aos padrões originais da poesia marginal, trata-se do Mimeógrafo Generation.

Publicado de 1984 a 1989, com 24 números; depois um período de interrupção, e voltando com mais 6 números no período 1992-1994, perfazendo um total de 30 números, o jornalzinho de poesia xerocopiado em folha de sulfite A4, contendo de 8 a 16 páginas dobradas em formato A5, totalmente datilografado e com desenhos à caneta esferográfica na maioria dos seus números, com tiragens de 200 a 300 exemplares, a maioria enviadas pelo correio para poetas e jovens escritores gratuitamente, se tornou um dos ícones da poesia marginal daquele período.

Seu principal editor, redator e “designer” era Jayro Luna. Nos primeiros seis números, período 1984-1985, o jornal tinha também a contribuição efetiva na produção de J.J. Gallahade – cantor desafinado da malfada banda de rock alternativo, The Lee Bats. Porém, Gallahade deixou de participar após este período, quando resolveu se lançar na estrada como hippie. Jayro Luna manteve a produção do poeta até seu período de interrupção em 1989 e curiosamente continuava colocando como autor de vários textos e como redator principal o nome de J.J.Gallahade. Esta estratégia, ao que nos parece, envolve uma tentativa de heteronímia às avessas, digamos. Quando retorna a produção do jornal no período de 1992 a 1994, Jayro Luna conta com o apoio de dois colegas da universidade, Karl Verdi (Carlos Verdaska) e Vicente Mendonça, ambos roteirista e ilustrador de Hqs respectivamente. O trio também compõe uma segunda formação do grupo The Lee Bats, mas por pouco tempo também.

O Mimeógrafo Generation contou com a participação de um time de poetas dos anos 80 como Hugo Pontes, Hugo Mund Hr., Leila Míccolis, Joaquim Branco, Maynand Sobral, Márcio Almeida, Oswaldo Coppertino Duarte, Luiz Fernando Rufatto, Eloésio Paulo dos Reis, Sérgio Campos, Uílcon Pereira, Patt Raider, Artur Gomes, Aricy Curvello, Marçal Aquino e alguns nomes já consagrados àquela altura vindos da década de 70, como Paulo Leminski, Roberto Piva, Chacal, Glória Perez, Duda Machado, Bráulio Tavares, Moacy Cirne, Ledusha e Glauco Mattoso.

O jornal era distribuído em cinco secções, além da página de capa característica com o logotipo do Mimeógrafo Generation em letras de estilo barroco.

As secções eram chamadas de “sessões”, pois existia um objetivo de buscar uma cinematografia da poética. Tinha a “Sessão Revisão” em que se apresentava poetas esquecidos ou não muito lembrados de séculos passados. Neste sentido teve revisão de Da Costa e Silva, Maranhão Sobrinho, Rocha Pita, Emiliano Perneta entre outros.

Na “sessão Marginalia” é onde se colocavam os poemas dos marginais, tanto dos anos 70, quanto dos anos 80. Na “sessão Let Me Traduce”, jogando ironicamente com um quase falso cognato da língua inglesa, se apresentava traduções de letras de rock significativas dentro do movimento da Contracultura. As traduções eram a rigor, transcriações, como as feitas com “Rock’n’Roll” do Led Zeppelin (“Já tem um longo tempo que eu curto a lona, lona, lona, lona...”), “Light My Fire”, The Doors; “Happy Jack”, The Who (“Alegre Jeca”), “Eclipse”, Pink Floyd, por exemplo.

Nos primeiros números existia a “sessão Pim-ball” que se pretendia o roteiro de uma ópera-rock em que poetas marginais eram colocados como personagens numa cena de crítica do cotidiano, declamando poemas. Posteriormente a sessão foi substituída por uma em que se exercitava traduções de poemas de poetas de outras línguas.

Ainda destacamos a “Sessão Paideuma” com predomínio de poemas experimentais, mais formalistas e concretos. A última página e contracapa era dedicada aos recados e informações de correspondência com os leitores.

O jornal de poesia encontrou ecos e foi comentado em várias outras publicações do período em que poemas e trechos do jornal eram reproduzidos, como nos casos de Jornal Correio do Sul, de Varginha (MG), a Revista Sem Perfil (Salvador – BA), O Jornal Folha da Terra (Goiânia); o Nicolau (PR); e vários outros.

O “Mimeógrafo Generation” constituía-se num “Folhetim Alternativo de Poesia” em que uma poética da marginalidade estava se construindo num discurso teórico, pela disposição das secções, o conteúdo de cada uma, e as relações que estabelecia entre os textos colocados nas suas páginas.









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