Queridíssimo escrevente,
Não perca tempo, somente
Se dedique a trabalhar,
Que esta turma não demora
A pôr as mangas de fora,
Indo, embora, devagar.
Jesus Cristo esteve, um dia,
A escrever uma poesia,
Nas areias do deserto.
Escreveu lindo poema,
Mas enfrentou um problema:
Ninguém havia por perto.
Decorou-o por inteiro,
Para recitar, faceiro,
A todo o povo reunido.
Falou à beira do mar,
Foi à montanha pregar
E no templo foi ouvido.
Desceu às outras cidades
E, de todas as idades,
As gentes o procuravam.
Queriam curar doenças
E desfazer desavenças:
Os males que os molestavam.
Cordeiro, destinou lã
A quem tinha a alma irmã,
Chamando alguns prediletos.
Contou-lhes histórias lindas:
Pareciam ser infindas
As prendas de seus seletos.
A poesia decorada
Tinha sido transformada
Em cantos de amor profundo,
Mas seu coração aberto
Sentiu que foi no deserto
Que cantou, e não no mundo.
O final de nossa história
Só vai alcançar a glória,
Se fizermos algum verso
Que imite o dom de Jesus,
Em resplendores de luz
Que se espalhem no universo.
Alteemos, pois, a voz,
Que não depende de nós
A repercussão da rima:
No coração do leitor,
É que deve haver amor,
Por quem lhe traz sua estima.
Não foi assim com Jesus,
Que terminou numa cruz,
Por falta do sentimento.
Nem havia muito ódio,
Mas um medo mau, serôdio,
Na salvação do momento.
Esta pregação persiste.
Assim, não se sinta triste
Com o mau fado de outrora.
Lembre-se da tal poesia
Imersa em muita alegria:
A cada dia, uma aurora.
Se Jesus chorou no horto,
Tal sentimento está morto,
Na alma de quem se salva.
— Hosanas! — vamos cantar,
Nos versos de um poetar
Que renasce a cada alva.
Vamos tornar muito certo
Que nós não somos deserto,
Onde o canto se perdeu.
Prestemos socorro ativo,
Cristianismo redivivo,
Poetas, você e eu.
— Senhor, dai-nos serventia
P’ra nossa pobre poesia,
Evangelho revelado.
Fazei com que todo o povo
Não pense na cruz de novo,
Nem ponha o verso de lado.;
Mas que tenha a pretensão
De fazer, de coração,
Poemas bem mais perfeitos,
Rimando Jesus com luz,
Demonstrando que conduz
A vida como os eleitos.
Salvai-nos não só de nós
Mas de quem deseje atroz
O futuro do universo:
Transformai toda a maldade
Num cantar-felicidade,
Mesmo sendo um simples verso.
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