Agora
salto sem corda em algum espaço
e resta só o olhar para me agarrar
cadê você que eu te vi
muitos anos correram a me seguir
e voaram como pássaros
e cadê eu, que não vi?
Mas agora não importa.
Porque pode-se inventar um cometa
e passar com o tempo dentro dele
sugando-lhe as entranhas
com sol ou neve
pode-se inventar a poesia
insana
comestível
ou cigana
aquela que antes não víamos
a que acendia a lareira das paixões
atrevidas
porque embora fuja hoje
o frescor do que passou
o século pode agora
morar dentro do instante
no encontro de um olhar
com outro olhar; outro dia
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