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Cronicas-->O TOCO DO BARNABÉ -- 13/10/2002 - 10:34 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meus diletos amigos e amigas, temo não ter morrido do coração ou acometido de alguma sequela braba que venha me estuporar depois. Sabem, esta semana tive que buscar de instituição pública para resolver algumas pendências. Patético, pois é, para quem precisa, tudo é demorado. E isso me deixa mais a contragosto que o razoável.
O expediente começa às oito, e às sete você já está lá no fim da fila. Quando escancaram os portões, o vigilante ainda sai escolhendo quem entra primeiro, claro, o que já ganhou sua simpatia($$$). Quando entra, ninguém, só os birós. Nunca vi raça andar mais atrasada que essa. Ao chegarem aos poucos, manzanza, pacutia, conversam uns com os outros, sem olhar ao redor o enfileiramento abundante. E o comentário entre eles, cada qual provando profundos conhecimentos de assíduo telespectador das telelágrimas e enlatados televisivos. - Você viu o capítulo da novela de ontem? E o Ratinho? O vestido da Hebe estava lindo! Notou que o Sílvio Santos está mais velho, mulher? E a bomba: o Gugu vai casar! Ui! - O pior de tudo é a espera mas nunca ali onde será atendido, terá de enfrentar outra fila e mungangas.
O atendimento público de qualquer instituição governamental é de dar nos nervos, tudo na escora enquanto a gente seca os cambitos. Quem nunca teve de deitar um molha-mão a um desses insensíveis birozados, que se valem da burocracia sistêmica para ampliar ainda mais as dificuldades? Parece acertado o que disse Angélica de Moraes, herdeiros da mentalidade nascida com a monocultura extrativista e predatória da urgência de lucro. Ou como inquiriu Marcio Marciano: o dinheiro é o pai de todas as medidas?
Olhem, quando há necessidade de algo no Detran, me dá logo impaciência; delegacia, urticária; prefeitura, náuseas; banco oficial? E a Caixa Económica em dia de pagamento de aposentado, é covardia! Escola pública? Nunca que vi tanta gente contraproducente junta! A turma da roda-presa está lá: encastelados, donos da situação e botando empecilho até para responder qualquer informação enquanto a gente fica no coarador com a maior cara de tacho. Dá vontade de baixar o calão. A carne de pescoço faz até careta para apontar que é ali, se livrando logo da nossa impertinência e tratando a gente como uma mala sem alça ou uma mercadoria sem nota. O negócio é tão sério que ouso perguntar a quem sempre viaja, nunca teve de soltar um toco a um patrulheiro rodoviário (no Rio Grande do Norte tem parada obrigatória para se utilizar deste expediente compulsório); quem no comércio nunca deu uma bola a um fiscal de renda? Quem nunca precisou de qualquer certidão da justiça e não teve que oferecer propina para atalhar os óbices? Quem ingressou numa junta trabalhista e não ficou por anos esperando um despacho porque a classe patronal soltou gorjeta prá todo mundo ali? Esse é o quadro "saudável" da nossa instituição pública, enquanto as nossas tensões e anseios são banalizados.
Mas o pior foi que precisei de ir na prefeitura de Maceió. Lá tem um obeso que fica no atendimento que faz de tudo, menos atender, aboletado na sua mesona limpíssima, arrudiado por requerentes impacientes, nem aí: fiscaliza se as unhas estão limpas, sopra na palma da mão verificando o teor da halitose, troca de meias (!?!?!), folheia jornal, aponta lápis, penteia o cabelo, alisa a mesa, impassível, num levanta nem o olho para ver a cara da gente transida. É só você pegar um real, ele olha de soslaio, inerte; cinco reais, ele franze o cenho; dez, ar de desconfiado; 50, ele arregaça a manga, ajeita o colarinho, tosse; 100, ele mete a mão e procura saber qual é a bronca. Pronto! Abriu-se a porta do céu.
Tem nada não, é por isso que o serviço público brasileiro trata o povo com letargia e quando entra um rico ali, tremem nas bases e se engasgam de um catabi estrondoso de dilatar a escala Richter prá mais de 10. É uma babaovice nojenta. Os barnabés do retrocesso ainda sentam nos birós cultuando a incompetência no serviço público, isso ainda hoje, perenizando a fealdade das condutas escusas.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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