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Artigos-->O louco da minha rua de Waldir Rodrigues -- 25/02/2014 - 23:36 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"O LOUCO DA MINHA RUA" DE WALDIR RODRIGUES

João Ferreira

2014

Temos aí um belo livro repartido pelos gêneros de narrativa, de ensaio biográfico e de filosofia poética. É tudo isto "O louco da minha rua e outros contos" de Waldir Rodrigues Pereira que passa a contar, a partir de sua publicação, como uma das obras notáveis da literatura candanga e brasiliense produzidas nos últimos tempos. Nascido no Rio Grande do Norte, Waldir Pereira é um escritor com muita habilidade e carisma para escrever histórias curtas. Aportando a Brasília após muitos anos de residência no Rio de Janeiro, teve a oportunidade de acompanhar, na cidade maravilhosa, a típica vida boémia carioca, as rodas de samba e os grupos e conjuntos musicais que por ali pululam, o que lhe forneceu muito pano para manga, e, sobretudo, oportunas observações e vivências sociais para muitas narrativas. Hoje revisor do Centro Educacional Sigma, em Brasília, Waldir Rodrigues Pereira já exerceu diferentes cargos públicos ligados ao campo da escrita e da publicidade. Foi redator, copidesque, ghostwriter, em vários órgãos públicos federais brasileiros. Como escritor e poeta, foi já galardoado em concursos literários, com destaque para a vitória do amor", que ganhou o primeiro lugar no Concurso "Contos do Rio", 1ª edição. Com "O louco da minha rua”, o autor passa a marcar seu território nas letras candangas e potiguaras. E não só. Talvez nas letras cariocas e nacionais, dependendo da divulgação valorativa que dele fizerem os críticos literários que do livro se ocuparem. Para já diríamos que pelo autor, pela temática e pelo personagem principal, pareceria justo dizer que este texto, fundamentalmente, tem uma voz telúrica própria. O acento mais forte dessa voz, pela topologia da história, é o potiguar, pela razão imediata de que " saiu das águas azuis e verdes do mar de Natal, cidade cristalina de luz e de raízes humanas inesquecíveis".

O livro de Waldir consta fundamentalmente de duas partes. A primeira é formada pela história de "O louco da minha rua", acompanhada dos capítulos "Ah, vida boêmia", "O mendigo, o louco", "O homem e as lembranças", "Esta é a minha vida", "O julgamento, a censura", "Rasgue as anotações" e "Levai-me ao etéreo". A segunda parte exibe mais seis contos, todos eles brevíssimos, autênticos "short story". São eles: "A vitória do amor", já galardoado com o primeiro lugar no Concurso "Contos do Rio, 1@ edição. Tema: "A paixão". O Globo -Caderno Prosa & Verso. Além de "A vitória do amor", há ainda "A Pedra", "O toureiro", "A chave na porta do casarão de Planaltina", "Procura-se" e "O retorno da velha senhora". Um conjunto total de 89 páginas, em edição de 2014 da editora candanga "Ler Editora".

Com o livro submetido a uma atenta leitura, nós podemos nos entreter, nos divertir e aprender muito com a maneira como escreve Waldir Rodrigues. Em primeiro lugar, ele é um escritor que prima pela pintura de ambientes. As boites, os bares, as ruas, as cidades são povoadas, têm gente, têm almas, têm comportamentos, sentimentos, filosofia de vida. Waldir sabe esmiuçar a psicologia da rua, sabe entender os dramas e as misérias, os hábitos e o inconcebível vício de certos tipos humanos que se amarram ao passado, e não mostram capacidade para se levantarem e saírem de uma situação prisioneira. Waldir sabe descrever como este louco boêmio da história se enreda, como se complica ainda mais, como se vicia, como ama, como pensa, como se esconde, como se torna fraco, e como em seu íntimo mantém vivíssima uma visão de vida própria, porque este louco é especial, um cara que peregrina com versos de Vítor Hugo na cabeça, com a memória plena do que já teve, do que já foi. Na história temos essencialmente a peregrinação de um "boêmio mendigo que amava perdidamente e ao mesmo tempo tentava ofuscar o rosto de um poeta". No louco está condensado o espírito daquele pensamento de Vítor Hugo: "Ao homem...um grande ideal ou um grande amor". Além de pintor de ambientes, Waldir consegue uma tessitura narrativa muito própria e densa em "Ah, vida boêmia" e "O Mendigo louco" com uma caracterização do personagem em grande plano, juntando à caracterização do personagem, a psicologia da multidão, mostrando sensibilidade poética, trazendo uma boa porção de elementos de cultura popular, de vivências urbanas, sobre o alfabeto básico do boêmio, sobre ambientes artísticos, de rodas de samba e chorinho, seresteiros e amantes de poesia, o ritual de lazer coletivo em lugares públicos. Para que a biografia dos personagens não fique reduzida à popular figura que muitas vezes têm, o autor sempre semeia em sua narrativa a citação de autores, alargando horizontes, citando figuras como Moisés da Bíblia, Antero de Quental, Vítor Hugo, Albert Camus, Mauro Mota, Juan Ramón Jiménez, Manuel Bandeira e outros, com incursões por línguas estrangeiras, através de citações apropriadas, em francês e inglês, principalmente. O narrador escreve em primeira pessoa e "é poeta também". No desdobramento da escrita, o livro se autodistribui entre a narrativa ficcional e a narrativa biográfica, fazendo-nos alcançar com muitos detalhes e depoimentos da grande figura popular do "louco" do livro, a figuração de uma personagem muito rica que se divide entre as figurações de louco da rua, de louco entre a multidão de loucos, de louco silencioso, de louco amante, de louco poeta e de louco sábio, que se transforma em filósofo do cosmos, em analista e crítico da vida, em psicólogo que desentranha a estrutura da própria personalidade, em testemunha e formulador de teoremas sobre a visão de mundo e muito mais. Alienado por um lado e excêntrico de grande densidade, por outro, "o louco da minha rua" traz muitas lições. A maior de todas é a revelação de que a verdade de cada um pode estar escondida no escaninho mais íntimo da pessoa, e que pode nos surpreender quando resolve se revelar.

Brasília, fevereiro de 2014

João Ferreira

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