O serviço de meteorologia
Toda a vez que chove, eu me lembro de seu Jaime. Não pela chuva em si, mas pelos seus acertos meteorológicos.
Quando ainda viva, eu visitava sua casa toda a semana. Não encontrei até hoje conversa mais agradável. As horas voavam ao seu lado, principalmente quando de folga financeira, eu levava uma garrafa de vinho, Com setenta e cinco anos, discorria história de seus tempos de vira-mundo.
Mas o que mais me surpreendia em seu Jaime era a forma como acertava a previsão do tempo. Muitas vezes as nuvens fecharam o céu, e eu comentava:
_ Chuva na certa, seu Jaime.
_ Chuva nada, logo isso se espalha.
E realmente não caia uma gota.
Outras vezes ele aconselhava, com o sol rachando:
_ Hoje vem da grossa, Leve meu guarda-chuvas, pra não se molhar.
Pouco tempo depois descia um toró.
Houve ocasião em que, diante de minha apreensão com a escuridão do céu, ele me acalmava:
_ Aperreie, não! É chuvinha pra molha bobo.
E uma garoa leve caia.
Nunca errou. Mesmo com a previsão oficial contrariando, ele batia o pé e acertava.
De tanto assistir a estes acertos, um dia o questionei:
_ Seu Jaime, como é que o Senhor acerta tanto?
_ O quê?
_ A previsão do tempo?
Ele riu alto e confessou-me:
_ São as minhas bolas...
_ Como?
_ As bolas. Quando elas estão seca, o tempo firma; quando estão levemente suadas, garoa; e quando suam muito, a chuva é firme.
Entenderam? Ele jurou-me que era sério. Eu nunca quis testar nada.
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