Tenho certeza que você também já parou para admirar aqueles artistas de rua que colocam um chapéu no chão à espera da nossa contribuição. São malabaristas, pintores, músicos, artesãos, engolidores de fogo e até o homem da cobra. Num só dia conheci quatro desses artistas em Florianópolis, embora alguns não precisem de chapéu.
Primeiro foi o Alceu. Ele vendia sua arte numa banca na rua. Eram copos de madeira para fazer caipirinha. “São feitos de cedro rosa. Pode ver, não tem emenda.” E continuou com entusiasmo. “Fui na Alemanha aprender como fazer caipirinha”. Emocionou-se ao falar do pai falecido há seis anos. Juntos falamos desses nossos heróis e minha voz também engasgou. “Vivi com ele até os meus 40 anos”, revelei. “Vivi com o meu até os 48 anos, ele era Federal”, disse ele com os olhos marejando.
A poucos metros dali parei na loja da Leila e da Rose. Impressionei-me com suas flores de madeira colorida. Leila explicou orgulhosa: “São raspas de madeiras usadas. Nenhuma árvore precisou morrer para fazermos essas flores”.
Mais adiante parei para admirar a arte da D. Luiza. É uma casa azul, em madeira estilo sulista, cuidadosamente enfeitada com motivos que lembram a vida na natureza. Vários ninhos de passarinhos em forma de casinhas caprichosamente pintadas. O beiral da casa foi cuidadosamente desenhado com flores graciosas. Na varanda as redes se balançam à esperam dela e do marido. No jardim habitam a Branca de Neve e os sete anões, pássaros em gesso, dentre eles uma coruja curiosa. Quando pedi autorização para fotografar sua casa, simpaticamente ele abriu o portão e deixou-me à vontade. Aquela casa é uma obra de arte.
Em seguida, e por mais tempo, apreciei a arte do Jandson. Ele domina a Aerosolgrafia. Rodeado de latas de aerosol, com papel fotográfico à frente ele desenha e pinta o que pedirmos. Da folha branca brotam pôr-do-sol, luar e paisagens urbanas. Crianças e adultos o rodeiam. Quando ele começa a trabalhar todos nos perguntamos: “o que será que ele vai fazer?” As crianças são mais afoitas e tentam adivinhar os primeiros rabiscos. “É um lobo. Não, vai ser uma árvore... Ele fez a ponte” (Hercílio Luz), gritam entusiasmadas. Os adultos encomendam seus trabalhos e orientam o artista: “quero uma lua bem amarela”, “você pode fazer uma paisagem em preto em branco”? Jandson atende a todos com presteza. Poucos minutos depois, ele exibe aos olhos curiosos o fruto da sua fantástica imaginação.
Paira no ar uma torcida para que ele faça o mais belo desenho. Só assim poderemos soltar aquele suspiro de encanto. Ninguém fica indiferente. Afinal, só a arte tira o fôlego desde o analfabeto até ao doutor mais sabido. Aliás muitos desses artistas reúnem essas duas qualidades, tem pouco estudo e são doutores em suas artes.
Jandson é de Goiânia, “lá é minha casa”, afirmou. Sua arte já o levou a treze estados. “Há poucos dias eu estava nos Lençóis Maranhenses. Lá começou o inverno e vim para Floripa. Vou passar uma temporada aqui. Quando começar chover vou embora. Trabalho na rua, preciso de calor. Minha arte me leva sempre à procura do sol”
Obs.: As fotos desses personagens, ou de seus trabalhos, podem ser vistos no meu Facebook, Notas.
