Não posso mais...
Estou quebrada, estou arrasada,
Desde algum tempo,
Venho lutando para escapar,
Escapar à tentação que,
Ora discreta ...
Ora persuasiva, sensível ou sensual,
Dança em volta de mim,
Como em torno das barracas de feira,
A rapariga brejeira.
Não sei mais o que fazer,
Não sei mais onde ir,
Tu me espreitas,
Me acompanhas,
Tu me invades...
Fujo do meu quarto.; lá estás...
Recostado, a me esperar,
Na sala em que penetro,
Apanho um jornal,
E eis teu rosto,
Oculto nas palavras
De um artigo inofensivo ...
Saio, te encontro a sorrir
Por trás de um rosto desconhecido,
Volto às costas,
Olho a parede,
Tu surges de um cartaz...
Entro em casa para trabalhar,
Tu cochilas em meus livros e,
Ao pegar em meus papéis,
Eu te desperto ...
Desesperada,
Ponho a minha pobre cabeça
Entre as mãos,
Fecho os olhos ...
Para não ver mais nada.
Mas descubro-te mais vivo,
Mais vivo do que nunca,
Instalado em minha casa fechada,
Como se fosse ...
Tua própria casa.
Pois tu arrombaste minha porta.
Instalas-te em meu corpo,
Nas minhas veias,
Até as pontas de meus dedos ...
Cantas ao ouvido de minha imaginação,
Tocas meus nervos,
Como se fossem cordas de violão.
Já não sei mais a quantas ando.
Nem mesmo sei se desejo este pecado,
Que me acena...
Não sei mais se fujo dele,
Ou se o persigo.
Sou tomada de vertigens,
O vácuo me atrai,
Como atraí...
O imprudente alpinista
Que não pode mais,
NEM AVANÇAR ... NEM RECUAR...
LEINECY PEREIRA DORNELES - 24/03/2003 |