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Artigos-->O Poder. Um Fim em Si Mesmo? -- 24/03/2002 - 13:09 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Pensando bem, não sei até que ponto valerá à pena participar das eleições que se avizinham, para renovar a estrutura de poder neste País. Não que eu seja contra o processo democrático de eleições livres e gerais para escolha de nossos representantes. Não é isso. Aliás, é bom que se diga, sou contra qualquer tipo de continuísmo. E muito francamente a favor da renovação do poder, pois entendo ser esta a forma mais democrática de oxigenação política. Não foi por outra razão que muito critiquei, enquanto pude, a adoção da reeleição no Brasil.



A reeleição produz o desgaste político, a vulnerabilidade do poder e desemboca, quase sempre, no fisiologismo, no desperdício de recursos, na corrupção e tantas outras mazelas já conhecidas do povo brasileiro. A rotatividade do poder, ao contrário, é medida saudável e necessária, pois traz consigo a oxigenação política, de que falamos, apagando desenganos e reacendendo esperanças.



A bem da verdade, estas eleições não estão me agradando. Primeiro, porque os que postulam à presidência da república, até agora, não se fizeram claros em relação aos planos, projetos e programas de que dispõem para resolver o elenco de questões nacionais pendentes, que não são poucas.



Ademais, dentro do que seria a seqüência lógica dos planos, projetos e programas, não há, de idêntico modo, qualquer alusão à forma, à maneira, aos meios, ao “como” esses candidatos pretendem, efetivamente, dar curso à resolução do rol de problemas a que fizemos referência.



Depois, com todo o respeito aos candidatos, tenho a impressão de que entramos num supermercado prá fazer as compras do mês e, de repente, nos demos conta de que os produtos ali oferecidos, além de caros, são de segunda categoria. Não apetecem aos olhos. Não vi nada de interessante no açougue, na peixaria e nos enlatados. Nem na padaria, que costuma ter uma diversidade maior de doces, pães e bolos bem produzidos e apetitosos. Sinto-me como se estivesse sem apetite. Doente. Comprando apenas por comprar. Porque precisamos comer. E mais nada. Apesar dos muitos enlatados estragados, com prazo de validade vencido e outros produtos mal cheirosos, nem o gerente se faz presente para receber as reclamações e tomar as providências cabíveis, antes que o povo seja intoxicado por alguns desses produtos suspeitos.



O que se percebe, com clareza, é a distância dos candidatos em relação à população, aos seus anseios, às suas necessidades. A discussão gira em torno, exclusivamente, de uma disputa pelo poder e para o poder. Um fim em si mesmo. Trocam-se acusações, levantam-se suspeitas de toda ordem, fazem-se ameaças e o povo, que deveria ser o mais interessado, fica apenas assistindo ao eterno “bate-boca” que gira, quase sempre, em torno de justificar o injustificável. De quem é pior, e de quem é apenas ruim. Às vezes temos a impressão de que se trata de um tipo de Big Brother oficial.



Nem para síndico de condomínio a gente vê tanta indiferença em relação aos condôminos. E a imprensa, de modo geral, também tem culpa. A tônica das notícias são os escândalos, os discursos agressivos, as chances nas pesquisas, enfim, nada que se relacione com eleições, propriamente ditas. Ocupar a presidência é o objetivo único. O que fazer na presidência, é detalhe para se ver depois. Não há compromissos com o futuro. Nem com os eleitores. E muito menos com o Brasil.





Ademais, face ao confuso e desordenado contexto internacional, aliado ao grande nível de endividamento público e privado em que se encontra o Brasil, não vejo, qualquer que seja o eleito, dentre a oferta de candidatos já expostos, nenhum capaz de reunir as condições necessárias para implementar medidas saneadoras que traga de volta o desenvolvimento sustentado deste país. Tenho a impressão que, qualquer que seja o resultado das eleições, será mais um governo, infelizmente, vítima da globalização e, portanto, presa fácil do sistema financeiro internacional.



E até chego a me perguntar o porquê de tanta briga para se eleger presidente da república? Será puro masoquismo? Tudo me leva a concluir, que o eleito, seja ele qual for, passará todo o tempo de seu mandato desenvolvendo a mesma política do “chove e não molha” (olha aí a chuva novamente!) dopado pela obediência aos amargos e repetidos remédios ministrados pelos representantes do sistema financeiro internacional, que nos empurram pela goela abaixo, remédios amargos, em doses exageradas e sem levar em conta as interações medicamentosas e os efeitos colaterais.



E tudo indica que o filme irá se repetir. Voltaremos a caminhar na direção da atração de investimentos estrangeiros, do desmantelamento da máquina pública, na falta de recursos para investimentos em setores estratégicos, tornando o presidente indefeso, anêmico e sem forças para atacar, sequer, um mosquitinho da dengue ou, quem sabe, da febre amarela, para mudar as cores do novo cenário?



É visível, portanto, a pouca influência de que dispomos, nós, os eleitores, em relação aos mandatários que, por ironia, iremos eleger para serem nossos representantes e que, em nome do Estado, a eles estaremos subjugados.



Um Estado, por seu turno, cada vez mais distante, encolhido, frágil e sem forças para o exercício de suas funções públicas. Que perdeu a capacidade de influenciar, positivamente, os rumos de sua própria política interna, face ao predomínio do capital externo, que visa, tão-somente, a reprodução do capital aqui empregado, exigindo enormes sacrifícios da população, sem que se vislumbre, a médio e longo prazos, qualquer saída plausível. Um estado que só tem trabalhado para manter em dia o pagamento de uma dívida, sabidamente impagável, que cresce em proporções geométricas, e que, somente no ano passado, conforme dados colhidos no SIAFI, Sistema de controle de despesas do governo, gastou, só com juros e encargos da dívida externa, R$52,8 bilhões.



Não vejo, portanto, outra saída. Por enquanto estou convicto de que pertenço ao grupo dos indecisos.



Domingos Oliveira Medeiros

24 de março de 2002

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