Usina de Letras

É lamentável que pessoas que se arriscaram tanto no combate à Ditadura Militar e tiveram um papel de destaque na redemocratização do Brasil tenham se envolvido, em tempos recentes, num ato tão reprovado quanto a compra de parlamentares para votar com o governo em projetos de interesse do Governo Federal. José Genoino foi um desses homens. Lutou bravamente pela redemocratização do Brasil num dos momentos mais difíceis e vergonhosos de nossa história; e, no entanto, acabou manchando sua história ao participar do “Mensalão”, embora ele se declare inocente. Mas o que a história, principalmente a sociedade civil, julga não é a inocência ou culpabilidade de um homem, mas aquilo que o tribunal julgou. Se ele é de fato culpado ou inocente isso não vem ao caso agora, até porque não fará a menor diferença. O STF o julgou culpado e ponto final. Talvez, ciente da enorme mancha que respingou em sua bela história, Genoino tenha decidido, para não manchá-la ainda mais, renunciar ao mandato de Deputado federal. Foi um ato digno de um homem que não teve medo de enfrentar os maiores desafios ao longo de sua vida. Sua renúncia é provavelmente o último ato de sua carreira política, uma vez que, doente e com a idade avança, deve ser esquecido tão rapidamente quanto foi a sua brava luta e contribuição para que hoje sejamos um país livre, democrático e onde as instituições não são coagidas e obrigadas a encobrir os desmandos dos governantes como ocorria até duas décadas atrás. Na realidade, José Genoino foi vítima daquilo para o qual ele tanto lutou. Mas assim é a história dos grandes homens. Muitos acabam se tornando vítima de seus grandes feitos. Napoleão Bonapoarte é o maior exemplo disso. A história, por seu lado, se encarregou de resgatá-lo. Agora, quanto à José Genoino, só o tempo dirá se será lembrando pelo que lutou ou somente pelo erro que cometeu.