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Contos-->O pagamento de Deus -- 16/01/2003 - 13:48 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pagamento de Deus


A coisa estava feia. Não se podia mais esperar.
_ Amanhã vem a conta do hotel, com que dinheiro vamos pagar? – bradava Lili
_ Meu amor Deus há de ajudar – tentava acalmar a esposa.
_ Há sim, Deus!. Amanhã na hora da conta Ele vai entrar aqui e deixar trezentos reais. Claudio, acorda! Estamos sem dinheiro, sem ninguém, a não ser nós. Você está doente, mal anda... eu preciso fazer alguma coisa.
_ Alguma coisa, é! Voltar para aquele lugar, vender seu corpo?
_ O que tu preferes? Roubar? Matar? Ser desonesto, de novo? É?
_ Não sei! O que eu não quero é você naquele lugar, entendeu?
_ Aquele lugar vai dar o dinheiro para pagar esta conta.
_ Não, não, não...
_ Meu amor, você sabe que te amo. Você sabe que minha alma é só sua, de mais ninguém.
_ Outros homens vão te tocar
_ Para com isso! Já chega, eu vou e pronto.
_ Amor, não faz isso...
_ Não chora. Eu vou fazer e pronto. Tchau!
Saiu batendo a porta, deixando atrás de si um homem arrasado.
Já haviam passados trinta dias e a solução não aparecia. Doente, em um hotel sem poder trabalhar, gastara tudo o que tinha e o dinheiro acabara à três dias; e, naquela tarde, a gerência exigiu o pagamento da quinzena. A busca de ajuda entre amigos resultara em nada, ninguém moveu uma palha, afinal mal o conheciam naquela cidade e recorrer ao irmão, mais uma vez, seria humilhante.
Lili sempre foi fiel, dedicada ao seu lado, porém o limite tinha chegado. Era necessário tomar uma atitude. A única alternativa encontrada foi voltar para a boate, onde a esposa tinha amigos e amigas que lhes ajudariam. Além de que, uma boa noite poderia render até duzentos reais, um salário mínimo; coisa que muitos trabalhadores levavam até um mês para conseguirem.
Todas estas ponderações batiam na cabeça de Claudio. Rolou na cama, sem paz, buscou o espelho e se sentiu um canalha. Tentou encontrar Deus com todas as forças, mas qual, Deus já lhe dera inúmeras oportunidades, e veja no que deu? Acabava sendo sustentado por uma mulher, naquele tipo de trabalho. Que desgraça a sua. Coitada de Lili, ter que voltar para a vida de onde fora tirada; ela que não agüentava mais aquilo.
A vida tinha sido por demais ingrata com a menina; uma série de acontecimentos a tinha levado para a prostituição. Mas ele queria regenerá-la, fazer dela sua esposa, cuida-la. Vejam a que ponto chegou.
Havia se passado uma hora desde a saída de Lili. Claudio morria por dentro, sacou a parede, andou pelo quarto, sem sossego. Num ímpeto de raiva, saiu do quarto, disposto a ir até a boate e impedir sua esposa daquele sacrifício. Pegou a primeira lotação, que em meia hora o colocou na porta da casa. Tremendo todo, entrou. O salão estava lotado, com as meninas buscando seus clientes. Mas de Lili nada. Será que já tinha subido? Não podia ser!
_ Em qual mesa o senhor prefere ficar? – perguntou-lhe uma jeitosa morena
_ Co... como?
_ Não vai sentar?
_ Há sim... claro!
Foram para a primeira mesa vaga
_ Vai querer companhia? - insistiu a morena
_ Bom... não exatamente...
_ Não entendi
_ Bem... é que estou a procura de uma moça chamada Lili. Você viu ela?
_ Lili, claro. Ela entrou agora no banheiro. Vai mudar a roupa para o show.
_ Show! Que show?
_ Um strip. Por quê?
_ Bom... é que eu sou amigo dela
_ Muitos são
_ É?
_ Mas eu não poderia substitui-la?
_ Infelizmente não.
_ Entendo. Mas ela já tem companhia. Aquele moreno lá – apontando para um sujeito sentado no canto.
_ Como assim?
_ Ora, companhia! Depois do show eles vão subir. Vai ter que espera por uma hora.
Mal a moça acabou, a música começou a tocar; eis que surge Lili fantasiada de marinheira, dando inicio à dança. Claudio mal conteve-se sentado. O mundo rodava sobre sua cabeça. Sua posição impedia que Lili o avistasse. Não sabia que atitude tomar. Erguer-se, ir até lá, para justificar o quê? O que diria aos presentes? “Olhem, esta é minha mulher; ela está aqui neste lugar porque não preciso de dinheiro e não posso trabalhar. Sou um inválido, não consigo dar de comer à minha esposa. Diria isso ou coisa do gênero. Mas as dores do pós operatório impediam que fizesse maiores esforços, e já os tinha feito naquela noite. Ficou quieto, sem coragem para qualquer atitude.
Lili fez o trabalho. Dançou, rebolou, ficou nua; arrancando aplausos dos presentes, menos dele, que já conhecia a coreografia de cor. O mais entusiasmado era o tal da mesa do canto. Foi recebe-la no palco e a conduziu para sua mesa. Os dois sentaram-se e iniciaram uma conversa animada. Claudio procurava cada gesto, cada movimento labial, na expectativa de atacar na hora certa. Algo lhe dizia para aguardar. Uma calma tomou conta do seu corpo, nada que se pudesse explicar, mas estava calmo.
Passou meia hora quando o homem se levantou. Claudio também. Ia ser agora; os dois iriam para o quarto. O outro sacou da carteira e deixou algo sobre a mesa, que Claudio não pode precisar o que era; deu um beijo na testa de Lili e foi embora.
Claudio foi na direção da esposa, que chorava. Imaginou que chorava por não conseguir o dinheiro. O hotel iria coloca-los na rua; mas pelo menos estava salva.
_ Amor!
_ Claudio! O que faz aqui?
_ Eu não aguentei e vim – sentando-se
_ Que bom...
_ Bom?
_ Olha, lembra quando eu mandei você pedir a Deus para mandar trezentos reais, para pagar o hotel?
_ Sim, mas aquilo....
_ Pois ele mandou mais
E falando isso, estendeu cinco notas de cem reais que recebera do homem da mesa do fundo; sem que tenha feito nada além do que foi narrado
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