Rancores vão ficando para trás,
No mundo de esplendores cá do etéreo,
Assim que compreendermos quanto a paz
É tema que se trata bem a sério,
Pois só quem não tem ódio é que é capaz
De alcançar o melhor do refrigério,
Subindo, desde logo, a outra esfera,
Ou, em missão, voltando, como espera.
Às vezes, titubeio numa rima.
Aí, peço perdão ao escrevente.
Demonstra que nos tem tremenda estima,
Em registrando o verso tão freqüente,
Mas diz que, sendo assim, não mais se anima,
Pedindo que outro tema se apresente,
Pois se cansou de escritos tão perversos
E quer partir p’ra outros mais, diversos.
A oitava acima foi somente um teste,
P’ra perceber se o médium interfere.
Quando o poeta, em outro tema, investe,
Nem sempre há de cantar o “miserere”.
Foge o povo dos versos e da peste,
Não se importando quanto o autor se esmere.
Alguns que insistem hão de merecer
Que se lhes mostre aqui só bem-querer.
Nosso roteiro inclui falar da trova.
Parece claro p’ra quem leu os textos.
Repetição atroz é que reprova:
Muitos dos versos vão direto aos cestos.
E quando o comentário se renova,
Tornam-se as rimas os sutis pretextos.
De cambulhada, põe-se fogo em tudo,
Dizendo o mestre: — “É hora doutro estudo.”
Mede-se a trova, então, por outro prisma:
Alexandrinos ficam mais na moda.
O tema, aí, se enche de carisma,
Que essa cantiga já não é de roda.
Nesse momento é que o poeta cisma,
Fugindo dessa rima que incomoda,
Querendo unir a forma ao conteúdo,
Para mostrar que aproveitou o estudo.
E quem não tem assunto que aproveite,
Vai relatar como passou o dia.
— “Mas isso não irá causar deleite
Ao infeliz leitor desta poesia...”
Se o gajo é bom, espera-se que aceite
O verso pelo qual alguém diria
O que vai encontrar à sua espera,
Na hora em que chegar a esta esfera.
— “Ninguém tem tanto tempo para isso,
Que a vida tem mais pressa p’ro dinheiro.”
Devo lembrar, então, que este serviço
Não faço porque quero, mas requeiro.
Há sempre de existir um compromisso,
Para limpar a alma por inteiro,
Seja o mortal na Terra a ler a trova,
Seja o poeta a ver se o bem comprova.
Não é difícil, pois, montar a estrofe:
Basta saber um pouco da doutrina.
Caso o final do verso se “enfarofe”,
Reúna o pessoal que alguém ensina
Como deixar de ter a rima-bofe,
Que assim é que o amor se determina.
E quando alguém lhe passa a solução,
Não chame mais de amigo.; diga: — “Irmão!”
Não caia na armadilha, por favor,
Que o verso foi montado p’ra pegá-lo.
Quando se quer amor, se dá amor,
Na forma mais que simples do regalo.
Assim, os “tremeliques” ao compor
Irão prejudicar o bom embalo.
Ao ler o melhor verso, pense em mim:
É boa a alma.; o verso é que é ruim.
Não vou desarvorar os sentimentos:
O pensamento é bronco mas é puro.
Eu já passei por ríspidos tormentos,
Por isso é que dar paz é que procuro.
Se os meus dizeres são bastante lentos,
É que sei muito pouco.; isso eu juro.
Não é o efeito de uma pobre rima:
Ao trabalhar, o verso a dor sublima.
Não me revolto, pois, se o verso é pobre.
O tema da revolta não carece.
Meu sentimento o bom leitor descobre,
Ainda mais se orar a melhor prece.
Aí, posso afirmar até que sobre
Inspiração, que amor mais favorece
Que o verso ganhe foros de poesia,
Instantes de total melancolia.
Agradecendo ao Pai, eu chego ao fim.
Com bom humor, o mal a gente ilude.
Peço somente que, ao rezar por mim,
Não exagere em ver muita inquietude.
O meu trabalho é tenso por ruim.
Aí, é que há de entrar sua virtude:
Prometa, ingenuamente, fazer versos,
Para entender o quanto são perversos.
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