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Artigos-->SUZU-YAKI - A CERÂMICA E SUZU, CIDADE IRMÃ DE PELOTAS -- 10/11/2013 - 16:33 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


SUZU-YAKI – A CERÂMICA DE SUZU,



CIDADE IRMÃ DE PELOTAS



 



L. C. Vinholes



 



Quando em 1962 visitei a cidade de Suzu pela primeira vez tive a oportunidade de conhecer dezenas de peças inteiras e fragmentos do que, com os anos, passaria a ser conhecido como Suzu-yaki (&
29664;&
27954;
), cerâmica produzida no extremo norte da Península de Noto, na Prefeitura de Ishikawa, às margens do Mar do Japão, imenso espelho d´água que separa este país da área continental asiática onde estão as Coreias do Sul e do Norte e a Rússia.



 



Suzu, cidade irmã de Pelotas (RS), resultou do amalgame, em 15 de julho de 1954, de 14 povoados da Região de Noto, ocupando área de 247,20  km2, com sede municipal no bairro de Iida e, hoje, com população de cerca de 18.000 habitantes.



 



Yaki, quetem como raiz o verbo yaku (&
28988;&
12367;
) - cozinhar, queimar -, significa cozido, grelhado, queimado, assado. Suzu-yaki floresceu do final do Período Heian (794-1185) ao final do Período Muromachi (1333-1573) desaparecendo na Era Sengoku, marcada por guerras internas entre 1493 e 1573. Levada em barcos, foi comercializada nos mercados de Izumo, Sado e Ezzo, hoje províncias de Niigata e Akita e da ilha de Hokkaido, a mais ao norte do arquipélago japonês.



 



Os planos de desenvolvimento da Península de Noto na segunda metade do século XX contemplaram a construção de estradas, fundações para edifícios até então desconhecidos na região, túneis e outras benfeitorias públicas. Das escavações feitas surgiram fragmentos e peças inteiras de uma cerâmica de uso doméstico, cinza escuro, não esmaltada; produzida em fornos que alcançavam temperaturas de mais de 1.200ºC, utilizando o Pinus densiflora, conhecido como “pinheiro vermelho japonês”, e o resfriamento chamado kusube-yaki no qual o fluxo de oxigênio é drasticamente diminuído. Nas encostas derrubadas para criar espaços aos novos empreendimentos foram encontradas urnas funerárias e do mar as redes dos pescadores içaram peças cobertas de cracas, crustáceos marinhos comumente fixados aos cascos de embarcações, nas carapaças de tartarugas e no couro das baleias.



 



Em meados dos anos 1950, foram localizadas ruínas de fornos identificadas como sendo os utilizados na produção da cerâmica suzu-yaki que, no processo de queima de argila com alta concentração de ferro combinado com carbono, produz a “cor preta enfumaçada” com a cinza se espalhado sobre a sua superfície dando acabamento natural e único. É opinião corrente entre os especialistas que, com o tempo, a cor da superfície da cerâmica suzu-yaki “amadurece” e fica, ainda, mais singular e apurada.



 



Em 1978, cerca de 400 anos depois do desaparecimento da suzu-yaki, após recolher significativo número de peças de expressiva beleza e de valor arqueológico, a Municipalidade de Suzu construiu o Suzu-yaki shiryokan, Centro de Preservação de Relíquias, espécie de museu aberto à visitação pública, com equipe técnica presidida por Tenshyu Hirata, administrada pelo gerente de Bens Culturais Syojyu Oyasu, onde são promovidos cursos e oficinas para a formação de ceramistas. No seu pátio foi construído um forno nos moldes ditados pelas pesquisas e o jardim que o circunda está ornamentado com réplicas produzidas em 2009. Com o surgimento de fornos com as especificações daqueles que foram pioneiros, esta cerâmica ressurgiu, marcando o renascimento da suzu-yaki.



 



Peças de cerâmica suzu-yaki fizeram parte dos equipamentos domésticos usados no cotidiano não só dos habitantes da parte norte da Península de Noto, mas também em toda a costa do Mar do Japão, passando de geração em geração. Depois da divulgação das pesquisas e de estudos feitos na década de 1950 e da criação do Suzu-yaki shiryokan essa cerâmica ganhou reconhecimento o que levou a muitos herdeiros a vendê-la, razão pela qual é encontrada no mercado de antiguidade a preços elevados.



 



Desde outubro de 2013, o acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas, RS, tem seis peças de suzu-yaki produzidas pelos mais renomados ceramistas contemporâneos, dentre os quais despontam os nomes de Eiichi Konishi, Kazuko Konishi, Kou Nomura, Gen Onodera e Takashi Shinohara, mais oito fragmentos doados pelo Suzu-yaki shiryokan que permitem observar as características das peças do período medieval japonês: espessura robusta, colorido inconfundível, textura externa enriquecida por desenhos produzidos por tataki-ita (tábua de bater), espécie de “palmatórias”, com sulcos paralelos ou cruzados, nervuras de folhas de árvore e logotipos (monsho = &
32011;&
31456;
). Há divergências sobre a forma deste instrumento de madeira, uma vez que não foi encontrado um só exemplar, mas acredita-se que era robusto e pesado suficiente para bater e imprimir desenhos na superfície das peças. Conforme reza a tradição oral, enquanto a face externa era batida a correspondente face interna era apoiada por uma pedra redonda, como suporte. 



 



[1]Versão reduzida deste artigo foi publicada na página Opinião, o jornal Diário Popular de Pelotas, RS, em 11.11.2013.


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