Usina de Letras

Dizer que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) não sabia que seus subordinados diretos desviavam dinheiro e recebiam propina é o mesmo que dizer que ex-presidente Lula não sabia sobre a compra de votos que originou o escândalo do “Mensalão”. Talvez Kassab não tenha participado do esquema, assim como Lula não fez parte do “Mensalão”, mas dizer que ambos não tiveram conhecimento do que estava ocorrendo é de uma ingenuidade sem tamanho. Sem ter como combater e coibir a prática, uma vez que se o fizesse muito provavelmente causaria um estrago político sem tamanho na sua administração, Kassab tenha feito vistas grossas ao caso ou simplesmente deixado a coisa rolar. Embora seja dever de todo administrador zelar pelo bem publico e apenas agir em nome do interesse da população, é evidente que nossas instituições estão tão fragilizadas e corrompidas que, muitas vezes, a conivência é a única forma de sobreviver. Apesar de São Paulo ter um orçamento maior do que alguns estados da federação, ainda sim é uma cidade onde o prefeito não tem a força política de um presidente ou de um governador, o que torna os conchavos políticos e o jogo do toma lá da cá bem mais significativos e relevantes, enfraquecendo a capacidade de ação do governante. Não quero isentar Kassab de suas responsabilidades, até poque ainda não há provas de que realmente ele estivesse envolvido nesse esquema de desvio do ISS ou de que tenha apenas sido conivente, mas não há dúvida de que algum tipo de informação tenha chegado em suas mãos e ele não tenha tido coragem de tomar uma decisão que se esperava de alguém que ocupa o cargo que ele ocupava. Agora que as denúncias estão pipocando e escândalo vem ganhando contornos, o envolvimento do ex-prefeito, se vier a se confirmado, poderá ser um duro golpe não só para suas pretensões políticas como também para o próprio PSD, tendo reflexo direto nas eleições do ano que vem.