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Contos-->SEPULTURA -- 15/01/2003 - 19:36 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SEPULTURA
Por Lílian Maial

Ele sempre tivera a curiosidade mórbida de observar as lápides. Apreciava a inventividade dos escritores de epitáfios. Inúmeras vezes refizera o seu. Queria algo de impacto, algo que o destacasse na morte, já que em vida nunca fora sequer notado por trombadinhas.
Naquela manhã decidiu-se. Vestiu-se como de costume, para o trabalho, e caminhou pela calçada que margeava o cemitério. Seu fascínio era tão grande pelo “outro lado”, que não pensara que até seu endereço passava em frente aos mausoléus.
Parou no portão principal, olhou para os lados. Ninguém, mais uma vez, o percebera. Entrou. Caminhou pela alameda principal e logo dobrou a esquina, assim que pôde. Estava ansioso, suando, com os batimentos cardíacos acelerados. Reconhecia os nomes dos mortos, de tanto que já os lera, em sua gana de buscar sua frase final. Sorria a cada conhecido, como a cumprimentá-los. Eventualmente ajeitava flores murchas de um arranjo qualquer. Até que chegou num local mais afastado, sem ninguém por perto. Havia uma cova, pronta para um túmulo. Solenemente entrou no buraco, deitou-se com cuidado, fechou os olhos e imaginou a terra cobrindo-lhe o corpo, o rosto, as narinas. Sentiu-se sufocando, aos soluços. Buscou o ar, vinha terra, mais terra. Sentiu as pétalas de rosas atiradas com cal, e os animais rastejantes aguardando em expectativa. Viu o desfile de falta de acontecimentos em sua vidinha, como um filme mudo curta-metragem sem título ou legenda.
Ansiava pela passagem. Queria ser recebido por anjos, banhado por ninfas, ser premiado com as vestes mais alvas que jamais vira. Queria sorrir para o horizonte, fazer parte do coral de arcanjos, soltar a voz que sempre embargara.
Sim, já podia sentir as mãos a tocar-lhe a tez, a afastar-lhe os cabelos. Fora tomado por mãos de anjos, ouvia sinos e vozes celestiais. Sentia a chuva a respingar-lhe a alma. Finalmente era feliz.
Passado o efeito sedativo, deu-se conta do pátio amplo e claro e dos anjos todos vestidos de branco, como ele, a zanzar para lá e para cá, em busca. De súbito um deles se aproxima, abre-se-lhe as mãos e pousa uma imaginária borboleta morta. Volta para sua enfermaria, com recomendações de aumento da dose de anticonvulsivante.
No caminho para o quarto, ele solta a borboleta, que voa hesitante e paira, mais adiante, sobre sua lápide-leito. Na pior das hipóteses, louca de pedra.
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