Usina de Letras
Usina de Letras
50 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62193 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50598)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Conversinha de morte -- 15/01/2003 - 14:22 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma convesinha de morte


O dia tinha sido um inferno, culminando com aquele mal-estar , que o colocara naquele banco de espera, na cirurgia geral do Hospital das Clinicas. Tentou ligar par o sobrinho de criação, que não pode acompanha-lo; levando Generaldo à tal situação.
Ao sentar-se, percebeu uma senhora, bem mais velha que ele, escorada na parede. A idosa estava branca, cor de morte. Devia estar aí a muito tempo. Pela cara a coisa parecia grave.
Precisava conversa com alguém, Esperar para ele era um tormento, ainda mais num local como aquele: cheio de choro, com almas humanas humilhando-se por um médico público.
De repente um movimento. A mulher mexeu-se, pelo menos fora a impressão. Bom momento para iniciar um conversa, pensou.
_ A senhora esta doente...? Que pergunta besta a minha. Tá branca! É assim mesmo ou é a sua doença? Sim, porque tem gente que é branco mesmo. Conheço uns cinco ou seis que são como a senhora: branquinhos. Eu estava trabalhando normalmente, lá no escritório, quando esta maldita gastrite voltou a me atacar. Foi uma dor tão fina e forte, que me derrubou. Mal agüentei a vinda de casa. E o pior é que não tinha ninguém pra me acompanhar. Liguei pro meu sobrinho de criação, mas o danado agora é chefe da CONAB, e não pode me acompanhar. É um menino de ouro. Lembro de quando foi abandonado pela minha irmã, pequenino, franzino. E olha agora: chefe da CONAB. Quem diria! A senhora tem filhos? Eu nunca tive, esse meu sobrinho é como se fosse. Às vezes eu sinto falta de um filho. Todo homem precisa ter filhos, não é? Mesmo que alguns sejam ingratos a ponto de abandonarem... Bom! Mas filhos são filhos. A senhora é muito calada, parece muda.. Desculpe a indelicadeza, imagine; mal conheço a senhora e já a qualifico. Desculpe! Que demora. Esses médicos são mesmo preguiçosos. Mas também com esse Presidente! Paga um salário de fome, poucos funcionários; só pode dá nisso: gente jogada como se fosse bicho. Uma vergonha esse Presidente, a senhora não acha? Eu nunca votei nesse sociólogozinho. Estou em paz. A senhora votou em quem? Há! Não quer falar. Tá certa, o voto é secreto mesmo. Eu também não falo abertamente, não. Só para pessoas como a senhora, que é de confiança; senão lá na frente a gente sofre retaliação. Sabe como é, né? No Brasil abusam da gente e ficamos quietos. Coisa de curral. A senhora veja o nosso caso: horas de espera por um médico, que mal olha e enche de remédio. É pau! Xi! O meu sobrinho... Aquele engravatado lá na entrada, deve estar me procurando. Mas que elegância, olha dona, um bitelo. Bom... eu vou indo. Até outro dia. Rubens! Rubens! Tô aqui.
Generaldo segue na direção da porta, onde seu sobrinho vasculhava, buscando-º
_ Oh! Tio. Onde o senhor estava?
_ Lá, naquele banco.
_ E como é que esta se sentindo?
_ Melhor agora que te vi.
_ Vamos que o médico está te esperando.
_ Mas já? Àquela mulher está a um tempo na espera...
_ Eu dei um troco pra adiantar o senhor. Bóra.
E foram para o consultório, transpondo uma fila longa, furada com módicos dez reais dados a algum enfermeiro. Coisas do serviço público brasileiro.
Após dois minutos de consulta, contando o percurso pela escada, entrar na sala e sentar-se; veio o diagnóstico:
_ O senhor compre estes remédios e volte em vinte dias; próximo...
_ Só isso?
_ Só!
_ Mas não vai me examinar?
_ Não, não. O senhor tem uma saúde de ferro.
_ Mas a minha gastrite...
_ Gastrite? Que disse que tens gastrite?
_ Eu
_ O senhor é médico?
_ Não
_ Então beba estes remédios e volte em vinte dias
A conversa encerrou-se com a entrada de outro paciente, afinal, a saúde pública não dispunha de tanto tempo para perder. Indignado com a inoperância profissional do médico. Rubens puxou o tio para fora do consultório.
Cheio de raiva, pelo tratamento recebido, Generaldo sem ver nada pela frente, vindo chocar-se com uma maca, que transportava um corpo sem vida de uma mulher.
_ É a mulher do banco!
_ Quem tio? – perguntou Rubens
_ A mulher que estava falando comigo, antes de você chegar.
Os enfermeiros olharam-se entre sí, e o moreno não se conteve, e olhando para Rubens falou:
_ Eí irmão! O coroa aí pirou?
_ Por quê?
_ Essa mulher morreu já faz mais de hora, e ele disse que esteve conversando com ela. Conversiha de morte, hem!
Saíram levando o corpo para o enterro público, entre os indigentes.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui