VIRTUOSA MÁCULA
Da rotina dos sonhos corretos,
A lembrança de velhas verdades brota
A disfarçar o bolor, de capa nova,
Esquiva dos pesadelos indiscretos.
Ante o poder da pureza - inocência vil
E a força do pecado - essência sem retoques,
Impossível conhecer o mais sujo do covil
Se o simples pecador ou o hábito que o absolve.
A transparência vê-se prisioneira das manchas
Deve seguir imaculada para ser inteira
Melhor então ser mero caco livre
Que ser cristal de penteadeira.
Talvez, no entanto, a face desse caco, um dia,
Insuspeito que era da liberdade baldia,
Tenha espelhado a empáfia de nariz erguido
E as sombras opacas de olhares oprimidos.
Da rotina de alucinações penitentes,
Emerge, sem nódoa, uma antiga recordação
No fundo da agonia, despojada de paixão,
A libertação de sonhos sobreviventes.
Lílian Maial
Rio, 03/09/00.
http://www.geocities.com/lilianmaial
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