No reino da literatura há seres poderosos. Nele, surgem deuses do fogo, do céu e do mar. E não veem da cartola do escritor. Chegam no silêncio das noites de e incendeiam o palco. Destroem, constroem, e reconstroem cenas e cenários. Quebram estruturas, criam suas regras e põem em prática novas técnicas.
Robert levantou, aproximou-se da janela e meteu a mão nos bolsos. Mordeu os lábios e apagou as fantasias que povoavam sua mente. Sentou-se outra vez.
— Dormi com Clarice, sem prevaricar, quando fiz do livro dela meu travesseiro, mas deixar os sonhos na cama e acordar para viver, não me pareceu coisa da Clarice. Afinal, não vivemos de sonhos? ‘O poeta é um sonhador’.
— Queres dizer um fingidor, não?
— Não o disse fingidor, para que não me ponhas a dormir com Fernando Pessoa.
— Às vezes, sonhamos com um regato loiro.
— Ilha, regato loiro... Tudo é um lindo sonho de se viver. Clarice, publicava crônicas em jornais, depois reunia todas elas em um conto e assim, viveu sua felicidade clandestina. Não foi também assim que o fizeste? Teu livro é o resultado da compilação de fragmentos, antes, publicados em sites literários. O resto é o lado externo do coração.
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Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...
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