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Ensaios-->Construção do "opúsculo" -- 18/12/2016 - 00:23 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Abriu um livro, leu Iracema e viu Alencar colocar a índia nos braços de Martim: ‘trêmula e palpitante como tímida perdiz...’ É hora da estrela. ‘Por que não agora? Por que não soltar seu grito de gaivota, e derrubar as muralhas de Jericó?’ Estava cansada de comprar os beijos de Amarildo com o salário da loja. Amarildo  não pensava no futuro! Gastava tudo com anabolizante para cavalo, e pagamento das mensalidades de uma  academia.  de subúrbio. Nada guardava do salário que recebia. 
— Seja parcimonioso no gastar. Nenhum ganho oferece maior segurança do que economizar o que se tem. 
Amarildo não representava futuro promissor para ela. 
Tomou os originais de seu  livro, ainda em construção, e dirigiu-se à casa de Robert. Logo que sentaram, surgiu o primeiro impasse: Pelo gosto de Ravenala, declinaria o nome de todos os colegas do Marista, até o gol de Cibório que deu à sala o título de campeã em 1980, merecia registro. Haveria de conseguir algum papel para muitos colegas, mesmo que fosse uma ponta, uma passagem rápida, como figurantes em telenovelas. Robert examinou os rascunhos, leu alguns títulos e deu seu parecer:
A primeira coisa a ser definida é o público-alvo, depois, constroem-se as cenas, escolhem-se personagens e traçam-se perfis e cenários. É preciso introduzir cada capítulo, sem contudo, fazer um prefácio dele. Cuidar da arte como se cuida de um filho em tenra idade. Há que se mesclar técnicas, colocar uma pitada de sal e outra de açúcar, levedar a massa e produzir um alimento de agradável sabor. O escritor deve retirar as amarras, deixar  o cavalo solto no pátio, de modo a permitir que os leitores também cavalguem.  Personagens precisam sair das páginas como Raquel e Alvarenga, para socorrer Biba  acidentada na calçada. É a fantasia denunciando a realidade, fazendo o lado social da literatura. As histórias não podem ser estanques:  não se deve esvaziar o tinteiro, para que, com o resto da tinta, o leitor possa pintar novo quadro e recontar a história. Não leste Carrero?  Ele tomou por empréstimo a deusa mitológica dos gregos. E apresentou Osíris na carne de Leonardo em relacionamento incestuoso com Isis. Confira o Livro dos livros, e descubra onde Alencar encontrou o mel para colocar nos lábios de Iracema!  Onde pensas que Homero pegou  Elena de Tróia e a entregou a  Páris?... Ora, Dina, a filha de Jacó, nas mãos de Homero, tornou-se  Elena de Menelau... Páris, pode ser o príncipe de Siquém que raptou Dina,  Simeão e Levi, estão representados por Aquiles e Agamenon em   guerra para libertar Dina, a filha de Jacó, que se tornara Elena de Homero. A  intertextualidade é essencial para provocar a verve do  leitor. Os cruzamentos literários enriquecem a obra. No entanto, cuidado com o Anjo Negro! Mude a denominação do anjo. Podes ser processada por segregação. Racismo. Anjo das trevas parece mais adequado.
— Anjo das Trevas não tem  o mesmo efeito literário que Anjo Negro.  Teologicamente, talvez tenha. Literário, não! Ademais, negro é cor. Não é raça.
Robert ficou besta com a explanação que Ravenala fez.
— Vais escolher então, o efeito teológico ou literário?
— A Bíblia pode ser classificada como literatura?
Robert ficou embaraçado.
— Isso é polêmico! Os livros bíblicos apresentam a estrutura literária praticada na época em que foram escritos. Sob essa ótica, é literatura. 
— Se fosse literatura, não estaria comprometida com a verdade. A não ser que se trate de Artigo Científico. Mas a religião não é um ciência. Nem a Bíblia, um livro. Embora etimologicamente o seja, a Bíblia é uma pessoa.
— Que é a verdade?
— Essa pergunta foi feita há mais de dois mil anos por Herodes, e ainda hoje, muitos não conhecem a Verdade.
— Luto para transformar o negrume em brancura. E colocar um ponto de luz na escuridão. Tenho medo do escuro.
— As trevas também me assustam. Anjo das trevas me assusta mais que anjo negro.  Treva é a ausência de Luz, como no princípio. Negro é ausência de cor. O anjo mau é anjo de luz. Decaído. Anda na escuridão com sua luz fosfórea, competindo com o Acendedor de Lampião. Manterei o Anjo Negro, e já deixo, aqui, por antecipação, minha defesa. Negro não remete a raça nem etnia. Negro é cor, ou ausência de cor. É dúbia interpretação, pensar de outro modo.
— Não te lembras daquele teu poema? Não pôde participar do Concurso de Poesias do Marista, com o título  ‘Mulatinha’.  E mesmo sendo uma alusão à beleza negra, o título foi assinalado como "não politicamente correto".
— O Brasil tem essas coisas! Se por um lado, peca por excesso de zelo, por outro, relega a plano inferior a própria vida de seus filhos. ‘Vem cá meu dengo...vem cá meu nego...’ não é tratamento carinhoso com que alguém se dirige à pessoa amada?  Ora, mulata já não significa mais  a filha de escravo e escrava sexual do patrão. Não é isto. Mulata é delicada, tem pele morena, cheiro de gravo e canela. Mulata é Ravenala, mulata é Gabriela.
— Nunca vi mulata branquela. 
— Também não é preconceito chamar loira de branquela? Se não for, há uma balança com dois pesos e duas medidas na Lei.
***
Adalberto Lima - Estrada sem fim...(obra em construção)
Imagem: Internet.

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