Foi durante o sequestro e morte da professora de artes da Rocinha que eu tive a minha primeira crise hipertensiva. Do dentista, comecei acompanhando a agonia. Enfrentei o trànsito. Em casa, vi o desfecho. Até então, havia um ponto equilibrado na minha história. Sempre, em toda circunstància, 12 por 8.Durante a gravidez, há quase vinte anos? 12 por 8. E agora, no climatério? 12 por 8. Quando parei de fumar e tive aqueles piripaques todos? 12 por 8. Então, já uma espécie de instrução normativa.
A partir daquela noite, conheci o 16 por 11, com direito aos exames, e etc. Mas a vida continuou e eu também. Acompanhei os debates pela televisão. Trabalhei. Dormi. Comi. Trabalhei. Andei pela cidade. Assisti ao "Buena Vista Social Club".Trabalhei. Dormi. Pedi a minha filha, por tudo o que há de mais sagrado, que ela não saísse de casa com aquela boina tipo guerrilheira boliviana. Li revistas. Trabalhei. E a professora de artes da Rocinha não saía do meu coração. Nem eu, do dela.
Agora, creio que preciso encontrar um bom parágrafo. Encerrar o texto. Gosto de escrever assim, como moleque de recado, que vai ali e já volta. Ademais de que, portador não merece pancada. Estou dando um recado e quem pede é o meu coração, que mudou o ritmo, sem que eu fosse consultada.
Ando calada, pensativa e com dor de dentes. Penso na juventude e tento agarrá-la, meio desesperadamente, pelos cabelos. E fico me vendo assim, algo parecida com o rapaz, que já foi da Candelária; o jeito, desesperado, com que ele puxava os cabelos da professora de artes da Rocinha.
Naquele fim de tarde, a minha juventude precisava ter feito um acordo com a realidade.
O silêncio, nesse tipo de contrato, eleva a pressão para 16 por 11. |