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Contos-->O jogo da vaca -- 13/01/2003 - 14:48 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O jogo da vaca

Estávamos indo ao campo para uma partida decisiva do campeonato varzeano de futebol. O meu companheiro, o insuperável Juvenal, ia comigo. Obstinado me implorava uma vaga na equipe. Queria de todo o jeito jogar. Ocuparia qualquer posição, se espelhava no Dunga, seria um leão nas quatro linhas.O problema era que, embora sua enorme vontade, só tinha correria. Habilidade nenhuma . Baixava a cabeça e corria. Só isso, nada além. Mesmo ele me implorando, alertando para nossa amizade “mais que irmão”, eu nunca me arrisquei coloca-lo na equipe principal. O time já ia mal na tabela : duas vitórias, três empates (em casa) e seis derrotas; a classificação estava por um fio e meu cargo também. Mas o danado pressionou tanto a diretoria que o coloquei treinar como goleiro. Seria o terceiro goleiro, assim somente numa falta de sorte tremenda entraria em uma partida. Concordou em ficar no banco .
Assim todo o domingo antes dos jogos ele e sua esposa vinha à minha casa para irmos juntos ao campo. Se a partida fosse em outra cidade, ele não media esforços e colocava seu carro. Tudo evidentemente com segundas intenções:
_ E aí? Sai uma vaguinha hoje?
_ Depende do jogo.
Sempre a mesma pergunta e resposta. Felizmente nossa equipe nunca esteve com um resultado folgado que me desse condições para uma loucura daquelas.
Lá íamos nós. O Juvenal tentando me convencer que o culpado pela nossa péssima campanha seria o centroavante.
_ Só o centroavante não. A dupla de ataque... dois bagres. O goleiro também anda comendo moscas, mas o ataque precisa de mais velocidade.
_ Sei!
Aproveitando o gancho, começou mais uma de suas estórias de quando ele fazia dupla com o Percivaldo no Jacutu Esporte Clube.
_ Foram tantos gols que gastei mais de dois cadernos pra anotar. Coisa de não acreditar. Fomos chamados até pra jogar pelo Nacional de Manaus. Mas uma séries de circunstâncias nos impediram...
_ Circunstâncias...sei!
_ Vou te contar uma engraçada que aconteceu com o Jacutu: Estávamos lideres do campeonato. Eu e Percivaldo arrasando. Quando um dia fomos em Parintins enfrentar o time local; que tinha a fama de nunca perder em casa. O campo ficava próximo de um potreiro. Durante a semana o dono soltava o gado para pastar, e aos domingos prendia os animais, minutos antes do jogo começar.A torcida ficava toda escorada nas cercas de arame farpado. Não existia alambrado naquele tempo. Naquele dia, antes de iniciar, tivemos que limpar as bostas de vaca. Bom o jogo começou. Campo cercado de gente. “Pra encardi”. Até índios tinha, aliás, tribos inteiras torcendo pelo Parintins. Já se iam vinte minutos e tínhamos dado quatro bolas na trave. O Percivaldo perdeu um gol sozinho com o goleiro. Mesmo dureza, o jogo corria bem pra gente. Numa dessas nosso beque estourou uma bola pro ataque que caiu no circulo central, bem onde eu estava. Dominei e parti em velocidade para o ataque, com o Percivaldo ao meu lado. Corri uns dez metros, já perto da intermediária, e nenhum adversário à me marcar. Chegando mais uns três metros vi o goleiro e toda a zaga debandar para os lados. Paramos na entrada da área. Olhei para o Percivaldo e vi que ele não estava entendendo nada, como eu. De repente um grito: “Olha a vaca!” Olhamos pra trás, devagarzinho, e lá vinha uma vaca doida chifrando todo mundo. O juiz já estava em cima da cerca abraçado com o chefe dos guaranis. Alguns torcedores trepavam em árvores, outros varavam a cerca no peito, correndo para dentro do potreiro com a boiada mansa. E nós lá: sem saber o que fazer. Não deu tempo pra pensar muito, a doida veio pro meu lado. Deu um branco. Não sabia se corria ou se chutava . Naquela indecisão, ouvi o Percivaldo gritar: “passa”. Passei a bola para o bico da área onde ele estava. Não é que a danada da vaca foi atrás, chifre baixo querendo fura-la? O Percivaldo vendo o bicho em cima dele, devolveu pra mim. A bola passou entre as pernas da vaca, sobrando na marca do pênalti. A vaca deu meia volta e veio na minha direção. Não tive dúvidas, devolvi para meu companheiro, fazendo a bola passar pelo mesmo lugar de antes. Com a saia, ela ficou ainda mais furiosa. Logo após o passe não quis saber mais de brincadeira e corri para a cerca. A vaca parou a uns quatro metros do Percivaldo, olhando fixamente para a bola, dominada pelo meu companheiro. Parecia que o bicho provocava para mais uma ousadia daquelas. O Percivaldo pisou na bola e calmamente começou a fazer embaixadas. O bicho não agüentou a provocação e foi para a dividida. Vendo a coisa preta, meu colega empurrou a bola para o gol, roladinha. A vaca desesperada saiu atrás para evitar o gol. Foram dez segundos de tensão. Nós torcíamos pela bola e os adversários pela vaca. E foi um pega não pega danado. A bola estava quase sobre a linha de gol, quando num golpe derradeiro a vaca chifrou a bola, deixando ela murcha sobre sua cabeça. Devido a sua velocidade, ela fatalmente iria pra dentro do gol com bola e tudo. Porém num golpe derradeiro girou a cabeça pra cima jogando a bola contra o travessão, que acabou indo para escanteio, enquanto ela se enrolava na rede. O estádio todo ficou pasmo. A vaca levantou-se, lentamente passou ao lado de Percivaldo, que acompanhou tudo com as mãos na cintura, deu uma olhada triunfal, e como se estivesse com a missão cumprida, foi direto para os pasto, deitando-se calmamente entre seus semelhantes. O juiz deu escanteio, embora nosso treinador tenha reclamado de que a vaca não fazia parte do jogo, alegando gol legitimo. Mas ficou no escanteio mesmo.
Naquela tarde empatamos e ficamos de fora do campeonato. O Juvenal não jogou, afinal nenhuma vaca tinha sido escalada no time adversário.
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