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Contos-->O Itêle -- 13/01/2003 - 14:36 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Itêle

_ O caso foi o seguinte...
Começou a narrativa o velhinho sentado no tamborete, cercado de ansiosos negrinhos.
_ ... Tirei a música de minha idéia. Num foi cópia, arremedação, não; cumo faiz esse povinho amostrado de hoje em dia. Foi tudo da idéia. Tintim por tintim.
Os esbugalhados olhos dos meninos não mexiam. O grande Luck dispunha de uma hora inteira só pra contar os segredos de suas composições. Para aqueles fãs mirins era a glória. Como o tempo era minguado, falaria da maior de todas.
_ Itêle saiu numa noite crara, sem vento ninhum. Só lua forte. Acho qui era cheia, num sei, num posso garanti. Nóis tinha vortado do eito arrecem. Lá pelas seis. O feitô atrais. Era um sujeito até bão. Batia só naqueles neguinho safado, sem serventia. Eu nunca levei um risco. Nunquinha. Agora, tinha caboclo que levava todo dia...
Acende o cachimbo, se arruma do acento e prossegue.
_ ... Era tudo uns troxa. Queriam porque queriam a liberdade, recramavam de barriga cheia. Lá na África era guerra que não acabava mais. Nego matando nego. Painho foi feito escravo e veio para nu Brasil. Nóis tinha um patrão bão. Santo homi. Gostava muito da gente. Ele sempre levava as menina pra Casa Grande, onde, além da bóia, dava cama. Us minino que nascia do patrão levaram tudo o seu sobrinomi. Nascia, ia pru cartório, e de lá prus istudo. Desdi molequinho iam prus istudo. Homi bão.
Na ferradura ninguém piscava. Os espectadores admiravam por demais o grande Luck. Noventa e nove anos de estórias pra contar. Foi o primeiro compositor negro do país, idolatrado por várias gerações, acabando seus dias conquistando os infantis.
_ Aí, com a liberdade veio a disgraça. Eu inté que exprimentei uns dia. Sai da fazenda e mi fui pra cidade. Vige! Nem gosto de lembrar. Era povo mau. Xingava a gente, gospiam na nossa cabeça, batiam na gente, chamavam nomi feio. Nossa Senhora! Num deu cinco dia, vortei pra fazenda, pra vorta a se escravo. Mas o patrão já tinha contratado os colono do estrangero. Implorei di joelho. Num me quis mais. Ele tinha razão, quem ia quere um nego ingrato cumo eu? Mardita hora que sai...
Uma lágrima molhou o rosto enrugado.
_... Daí vortei pra cidade. Sem rumo. Donde eu ia fica? Do jeito que a coisa tava us branco iam mi cume no cacete. Era muita raiva que tinham de nóis. Cadê us abolucionistas? Cadê? Era fácil ganha os agrado du povo em nossas costas e depois cais fora. Pela graça da Vige, no otro dia encontrei seu Armandinho, um abençoado, que me levou pra sua casa. Mi deu trabaio e inté me pagava um conto pur méis. Num podia mais, coitadinho, tão pobrinho. Numa cunversa comigo, contei pra ele que tirava música da idéia. Ele quis vê. Mostrei um monte de rabiscado. O homi disse que era bão. Ia se estoro. Mas que tinha um probrema: num venderia uma sequer se discobrisse que um nego a compunha. Então ele venderia cumo si fosse dele. Qui homi bão. Vendeu muito. Na casa era aquele corre corre. Tudo que é jornal pubricou foto du seu Armandinho cumo maiô compositor do Rio di Janeiro. Ele me tirou do trabaio, me deixou só tirando música da idéia. E ainda me dava cinco conto pur meis.Deu inté pra casá, com a Glorinha, morta a uns anus.Foi assim pur mais de quinze anus. Eu tirando música da idéia e seu Armandinho afamando. Eta tempo bão, seu. Mas aí um abelhudo dum jornalista discubriu que o compositô era eu. Pur conta disso Seu Armandinho morreu di disgosto. Foi um tar de iscandalo. Era gente querendo qui eu processasse seu Armandinho. O homi gelado e us sem arma querendo que eu chamasse a tar da justiça. Quando eu passava fomi essa coisa não mi acolheu. Qui miséria di mundo. Mardito jornalista.
_ E o Itêle? Pergunta aflito um dos ouvintes.
_ Ichê! Mi isqueci do Itêle.Mas já é tão tarde. Fica pra outro dia.
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