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Contos-->O doce aipim -- 13/01/2003 - 14:30 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O doce aipim



Era aniversário de minha esposa, convidei Juvenal para jantar conosco. No horário marcado, ele e Cleonice chegaram. Alegre como sempre, cumprimentou-nos com eloquência, brincando com a nova idade de Mariana.
Fomos para a mesa degustar um peru assado, acompanhado de mandioca refogada. Mal bateu o garfo na iguaria, narrou mais uma de suas estórias deliciosas.
_ Quando como mandioca me lembro de um caso que aconteceu comigo. Logo que voltamos de Porto Alegre, naquela vez do Martini, lembra? Pois é. Meu chefe elogia demais minha conduta no comando da equipe e me designou para Recife, restaurar o Museu da Abolição. Fomos, eu e dois colegas. Num domingo resolvemos deixar a pousada e almoçar fora. Escolhemos um restaurante nas imediações de Boa Viagem. Vira e mexe, fomos parar num cinco estrelas. Sempre com as roupas azul marinho da Ferreira Guedes. Quando botei o pé no restaurante, me veio a recomendação do chefe: lembra-te, é o nome da firma que está em jogo. Para não dar vexame em um lugar tão fino, resolvi aplicar à tática de olhar o que os outros faziam e pedir a mesma coisa. Morria de medo que viesse uma daquelas comidas esquisitas, como lesma – o tal escargô- ou sushi. Sentamos próximos a um casal de italianos. Fiquei numa posição que me dava amplas condições de observar o que os estrangeiros faziam. E lá veio o garçom, cara de pingüim. Fiquei sem saber o que pedir. Então disse que estávamos esperando alguns amigos e pediríamos mais tarde. Dali a pouco o “carcamano” o garçom e pediu, em sua língua enrolada: Por favore, aipim alho e óleo.. Não tive dúvidas, chamei o garçom, expliquei que nossos amigos estavam demorando, e que queríamos aipim alho e óleo; coisa chique. Dez minutos depois, lá veio um belo prato de mandioca; uma comida que tínhamos todo o dia em nossa mesa, ainda mais alho e óleo. Só mesmo um “carcamano” poderia gostar daquilo. Diante de minha cara feia, o garçom pediu-me se tinha algo errado. O Ariosvaldo não se agüentou: Ei, mas isso aqui é mandioca. O garçom, muito respeitosamente, esclareceu que em muitos lugares do Brasil, a mandioca é conhecida por aipim. Contornei a situação, dizendo que pediríamos outra coisa depois. Embora contrariados, comemos com apetite. Decidi ficar de olho em um sujeito que estava à esquerda, para fazer o novo pedido. A voz de meu chefe vinha à minha mente : Lembre-se, é o nome da firma que estas representando. Na butuca, ouvi o pedido do nordestino: macaxeira ao molho de charque. Imediatamente, pedi o mesmo. O garçom estranhou e comentou: Gostaram mesmo da comida, hem! E lá veio o novo prato: mandioca com charque. O Ariosvaldo quase foi à loucura. “Que cara burro!” Com muito custo o contive. No pé do ouvido, dentre os dentes, sentenciei: Coma e fique quieto. Vão chamar a gente de besta. O Zózimo só ria. Que Diabos! Aqui só tem mandioca. Comemos na maior. Eu estava irado. Já não era mais fome, mas uma questão pessoal, iria comer alguma coisa diferente, custasse o que custasse. Também, como é que eu ia saber que mandioca, macaxeira e aipim eram a mesma coisa. Naquele arocho todo, um sujeito da mesa de trás gritou alto: garçom, biz, só que fritas. O Ariosvaldo, espumando mandioca, berrou: Prá gente também. Olhou pra mim e disse: Pra não fazer mais burrada. Mal sabia ele que o sujeito tinha pedido mandioca frita. Ficamos desolados. Comemos quietinhos com cara de satisfeitos, ainda mais com o Zózimo só rindo; o desgraçado. Imagine, compadre, se o garçom descobre. Seria o nosso atestado de burrice. Barrigão cheio de mandioca, pedimos a conta. Uma facada, mesmo sendo um dos alimentos mais populares do país, naquele restaurante foi cobrado como coisa de granfino. Lá se foram cento e cinqüenta reais. Pagamos com pose, aturando o comentário do garçom: Admiro pessoas que valorizam à culinária nacional. Chego a me emocionar. Como já tínhamos gastado pra caramba, optamos por pegar um ônibus, mesmo sem saber qual. No querendo parecer ignorante de todo, disse aos meus colegas que sabia o certo. “O próximo dá certinho” Cinco minutos depois surge o Metropolitana, todo vermelho, expondo no visor o itinerário: Boa Viagem/ Macaxeira. O Ariosvaldo ficou “pê da vida”: Nesse eu não entro, não! Nem à pau. Mais macaxeira eu não agüento. Do jeito que estamos, vai nos levar para uma plantação de mandioca. Nem adiantou explicar que Macaxeira era um bairro de Recife. “Não vou, não vou e não vou!” Acabamos voltando de táxi. E o Zózimo só rindo.
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