O assédio na rua é loucura. Carambas!
Vinha saindo do meu fusca todo faceiro,
uma velha nua e mais um monte de barangas:
Olha lá é o metido a poeta, o maneiro.
Assustei-me com aquele bando tresloucado.
Mulheres com óculos de grossas lentes,
meninas feias com aparelhos nos dentes,
e um monte de bichas me chamando de pecado.
Eu corria como se fosse um condenado,
e eles atrás com faixas e declarações.
Queriam que eu ficasse todo pelado.
Imaginem vocês, qual seriam as emoções.
Cheguei então perto de um despenhadeiro,
ouvindo os gritos: Queremos o poeta maneiro!
Não saímos daqui sem levar nosso metido!
Sem ele nossa vida não tem mais sentido!
Desesperado com o bando de tarados por mim,
propus declamar-lhes um poema sensual.
Pararam, me olharam, e disseram assim:
- vais declamar e depois fazer tudo igual.
- Tu nos incendeia quando estamos em casa calados
com poemas e romances que nos fazem chorar.
Agora que estamos por ti apaixonados,
queres apenas nos dar esse seu declamar?
O bando então muito enfurecido
partiu para ter sua presa de vez.
Pulei no abismo, o mal merecido,
que alívio! era sonho escapei dessa vez.