Usina de Letras
Usina de Letras
70 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62197 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10353)

Erótico (13567)

Frases (50601)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4761)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Sapos, cães, baldes e piscinas - II -- 29/06/2000 - 08:59 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu posso imaginar a ansiedade de todos aqueles que leram o primeiro episódio e, sobretudo a curiosidade sobre a contribuição para a ciência que apregoei. Calma. Qualquer um mais perspicaz já reconhecerá que o balde de apanhar sapo na piscina se não é uma contribuição à ciência, certamente é de grande valia para os estudiosos do marketing e do desenho industrial, entre outros. Convenhamos que se trata de artefato inédito e de grande aplicação. Mas a principal contribuição à ciência e à humanidade em geral não está neste balde peculiar mas na análise da migração dos sapos.

Ocorreu que o tal sapo voltou à piscina no dia seguinte. Novamente o latido de avisar que há sapo na piscina, a equipe gritando coordenadamente, o balde de apanhar sapo na piscina e o resgate. Tecnologia é tudo. Desta vez penso que nem deu tempo dos vizinhos aparecerem na janela.

Resgatado o sapo, passamos a observá-lo tentando entendê-lo. Você já tentou entender um sapo? Devo confessar que é muito difícil. Em primeiro lugar porque, ao contrário dos cães, sapos não falam. Um sapo também não sabe fazer cara de cachorro que caiu da mudança. Assim, fica difícil o diálogo de modo a entender suas razões. A primeira questão que surge é se o sapo é o mesmo. Como sabê-lo. Sapos são todos iguais. Como distingui-lo? Pensei que não fosse o mesmo, mas o latido de Âmbar era o mesmo como que a dizer: "há sapo na piscina - de novo" ou "ele voltou". Havia uma mancha como a da Angélica, mas na época achávamos que todos os sapos tinham a mancha da Angélica. Assim, eu ficava longos minutos encarando e sendo encarado pelo sapo, tentando decifrar suas razões, seus anseios, o porque de tamanha persistência. Cheguei a ponderar sua permanência mas a convivência com Âmbar seria impossível. Não, não haveria como mantê-lo.

Decidi que a frente da casa ao lado era um lugar muito próximo e que o seu retorno seria bastante óbvio, seja em função da piscina seja em função da Âmbar. Assim, levei-o a um lugar mais longe, dobrando a esquina, mais ou menos cem metros de distància. Entre este tal lugar e a piscina de casa há pelo menos outras quatro mais próximas e, se o problema é um cão, há mais de dez no trajeto. Assim, decididamente não há motivo para o sapo voltar. Claro, sempre há os meus olhos azuis, mas não creio que ele tenha percebido.

Não haveria. A verdade inequívoca é que ele voltou outras vezes. A rotina, além de casamentos, estraga qualquer amor à natureza. Já na quinta ou sexta operação, mesmo com toda a tecnologia desenvolvida já não tinha graça nenhuma ouvir o latido de avisar que há sapo na piscina, buscar o balde de apanhar sapo na piscina, resgatar o sapo, refletir sobre a mancha da Angélica na expectativa de descobrir se era o mesmo sapo ou não. Havia duas correntes. Inajá dizendo que era o mesmo e que possivelmente estava apaixonado pela Âmbar. Eu dizia que sapos são todos iguais e que estávamos diante de uma coincidência múltipla.

Mas nada nesta vida acontece por acaso. Uma noite ao chegar em casa, quando estava mais ou menos umas três casas antes de chegar vi um (ou o) atravessando a rua célere, compenetrado em seu caminho. Naturalmente, horas mais tarde lá estava eu seguindo a rotina diária. Mas desta vez em lugar de levar ao local de costume, peguei o carro e levei-o a aproximadamente dois quilómetros e do outro lado da avenida.

Bem. Já se passaram mais de duas semanas e ele ainda não voltou. Com isto penso que se pode tirar algumas conclusões, embora o tema ainda exija estudos complementares. A primeira afirmativa é a de que sapos voltam quando largados a uma distància de até cem metros. Em distàncias maiores nada é dito a menos que seja superior a dois quilómetros. Nestes casos antes de tirar conclusões precipitadas é necessário saber se sapo sabe atravessar avenidas.

Outro grupo de conclusões diz respeito aos motivos do retorno. Não sendo pelos meus olhos azuis, imagino que seja pela água da piscina. Neste caso o sapo seria um adepto do Joãozinho 30 que diria que quem gosta de banhado é intelectual. Sapo gosta mesmo é de piscina. Há ainda o velho sonho e mania de grandeza que faria o sapo pensar que é um príncipe e aguarda um beijo de Âmbar para deixar a infame situação em que se encontra.

Não sei e não vejo como saber. De qualquer forma, é melhor aguardar um pouco antes de tirar conclusões precipitadas.

p.s: ao chegar em casa há pouco, encontrei um sapo (certamente não era o mesmo), namorando o pneu do automóvel de um vizinho. Juliana é testemunha.

Escrito em 22.03.1999
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui