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Ensaios-->As Glórias da FEB -- 20/09/2015 - 01:40 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

As Glórias da FEB

Manoel Soriano Neto (*)

 

     Dedicatória

     Dedico este singelo e incompleto trabalho à memória do saudoso e ínclito general Amadeu Martire, meu ex-comandante do 12° RI, de Belo Horizonte (MG), capitão de Infantaria do 1° Regimento de Infantaria - Regimento Sampaio -, do Rio de Janeiro, integrante da Força Expedicionária Brasileira. 


  1. Considerações Iniciais

     A História, como é consabido, não se repete, como nos ensinam historiadores de nomeada. Entretanto, há circunstâncias muito semelhantes que reaparecem na existência de cada povo, consoante às velhas teorias do ‘pendulum historiae’ (pêndulo da História) ou ‘horologium historiae’ (relógio da História). Como uma senoide, as nações chegam ao apogeu de sua evolução histórica e, muitas vezes, por negligência de seus próprios filhos, sofrem, prematuramente, o seu perigeu. Já dizia o historiador Gustavo Barroso: “Aqueles povos que não escutam as badaladas sonoras de sua História, por seus feitos gloriosos, esquecendo-os, chorarão, amargamente, ao ouvir o triste dobre dos sinos”.
  Na História Militar do Brasil, dois momentos históricos exsurgem como de suma importância: a Guerra do Paraguai e a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na II Guerra Mundial, que comemora neste ano de 2015, os setenta anos de seu vitorioso regresso à Pátria. Assim, se nós brasileiros entendermos que os memoráveis feitos históricos devem pairar acima dos sabores das épocas e de viezes ideológicos, não correremos o risco de “ouvir o triste dobre dos sinos”, como há tempos, nos advertia o ilustre Gustavo Barroso.
  Acerca das glórias da FEB, é que pretendemos relembrar, sucintamente e de escantilhão, alguns aspectos dignos de nota.

  2. A Força Expedicionária  Brasileira

    Breve recorrência histórica
   No ano de 1941, quando os alemães dominavam grande parte da Europa, o Japão atacou a base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, fazendo com que os EEUU, até então neutros, entrassem em guerra. Em vista do Tratado de Havana, de 1930, de solidariedade interamericana, o Brasil solidarizou-se com aquele País e intensificou exportações de matérias primas necessárias para o esforço de guerra, como a borracha, para a América do Norte. Diante disso, não levou muito tempo para que sofrêssemos  represálias dos países do Eixo. Em sete meses, pagávamos o preço da solidariedade continental, hipotecada por força de Tratado, como já assinalamos. Até agosto de 1942, foram afundados 19 navios ao longo de nosso litoral. Mais de 700 vidas foram ceifadas por torpedos de submarinos nazi-fascistas. O clamor público se fez sentir em todo o País, então com 40 milhões de habitantes. Em consequência, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e a Itália, em 22 de agosto de 1942, e declarou estado de beligerância com os ditos países, no dia 31 do mesmo mês, quando, ressalte-se, os exércitos inimigos obtinham expressivas vitórias na Europa, África e Ásia, com os nazistas às portas de Moscou. Estávamos 
em guerra... 
  Necessário se faz, para bem entendermos o que era o Brasil daquela época, invocar o testemunho do general Octávio Costa, registrado em seu valioso livro de reminiscências da FEB, escrito em 1975, de título “Trinta Anos Depois da Volta”; - Citação: “O Brasil continuava sendo o eterno País do futuro. Éramos uma nação pacifista, cujo Exército havia disparado o último tiro, em 1870, nos campos do Paraguai. Desde o início da década de 20, aqui estava uma operosa Missão Militar Francesa, que montara no Exército, o admirável sistema de ensino militar que responde pelo excelente nível cultural de nossos oficiais. A organização, os regulamentos, os processos de combate, a doutrina, afinal, era francesa, fortemente impregnada de conceitos defensivos. O armamento, de diferentes procedências. Os canhões eram alemães e franceses, Krupp ou Schneider 75, fuzil Mauser 1908, morteiro Brandt, metralhadora Madsen ou Hotckiss – quase tudo viera da Europa, salvado da guerra de 18. A Marinha de Guerra limitava-se quase que exclusivamente, aos velhos e obsoletos encouraçados ‘Minas’ e ‘São Paulo’ e a Aeronáutica, ainda vinculada às forças de terra e mar, mal começava a nascer. Esse era o Brasil de antes da guerra, contemplativo e pobre, pessimista e preguiçoso, inquieto e contraditório, marcado de preconceitos e complexos, quase sempre “Jeca Tatu”. – Fim da Citação.
  Nesse quadro nada alentador é que o Brasil teve a incumbência de preparar um Corpo de Exército de cerca de 70.000 homens (a três Divisões de Infantaria) e de incrementar o apoio a seus aliados, por meio de matérias primas, como a borracha (notável foi a heroica saga dos ‘Soldados da Borracha’, na Amazônia) e também pela utilização de bases aéreas, particularmente as do Nordeste – região bastante vulnerável após a conquista do Norte da África pelos alemães. Diga-se, por ilustração, que a base aérea de Parnamirim, em Natal, de onde decolavam, diariamente, inúmeras aeronaves aliadas para a África, ficou conhecida como “O Trampolim da Vitória”. Apesar de enormes dificuldades, conseguimos mobilizar 180.000 mil homens e reforçar o nosso litoral, em especial o do saliente nordestino e a ilha de Fernando de Noronha, com várias Unidades recém-criadas.
  Das três Divisões de Infantaria, anteriormente cogitadas, conseguimos formar e adestrar, a duras penas, somente uma Divisão e ainda amargamos a ação deletéria de agentes da ‘quinta-coluna’ que encetaram virulenta campanha contra a FEB. Eram tempos de supervalorização do que era alienígena – tempos de se cantar e dançar tangos e boleros, de se admirar o que vinha da França e dos Estados Unidos, de exacerbado ‘colonialismo ou satelitismo cultural’, enfim. Nos estados sulinos existiam quistos raciais nas comunidades de origem alemã. O Reich nazista desejava criar na América do Sul (com o Sul do Brasil e províncias argentinas e chilenas) a ‘Germânia Austral’ e estimava contar, em nosso País, com 900.000 simpatizantes. Tudo isso potencializava a propaganda adversa, dizendo-se até que “era mais fácil uma cobra fumar do que a FEB partir para a guerra”.
  Mas a reação brasileira não tardou. Superamos todos os óbices e a ‘cobra fumando’, motejo do desdém de apátridas, foi o símbolo da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária – 1ª DIE. Nossa Divisão  incorporou-se ao IV Corpo de Exército (IV CEx) do V Exército dos EEUU. Diga-se que tivemos de nos adaptar à doutrina norte-americana, eis que adotávamos a francesa, mercê de 20 anos de atuação (1920-1940) da Missão Militar Francesa no Exército, tendo recebido armamento, munição, fardamento, equipamento, etc, tudo mais moderno do que tínhamos, já na Itália.

  3. A Constituição da FEB (Resumo)

     Em 9 de agosto de 1943, foi constituída a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Moraes.
  A 1ª DIE foi composta por uma Infantaria Divisionária, a três Regimentos de Infantaria; uma Artilharia Divisionária, a quatro Unidades de Artilharia e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (“1ª ELO”, da FAB); Órgãos Divisionários e Tropas Especiais, num total de 25.334 integrantes, recrutados em todos os estados da Federação, aí incluídos, 25 capelães, 67 enfermeiras e 28 funcionários do Banco do Brasil.
  Consigne-se, por relevante, a participação de significativa parcela de oficiais da Reserva, oriundos dos CPOR/NPOR. Dos 1.070 oficiais subalternos (aspirantes-a-oficial e tenentes), que integraram a FEB, 344 (ou seja, 41%) eram da Reserva de 2ª Classe (R/2). Dos 12 oficiais mortos em Campanha, 6 – exatamente a metade – eram tenentes R/2. E ainda: o oficial mais condecorado de nossa Divisão Expedicionária (inclusive com as mais gradas medalhas do Exército dos EEUU) foi o 1° tenente R/2 Apollo Resk, oriundo do CPOR do Rio de Janeiro.

  4. As quatro fases da atuação da FEB na Itália

     A 1ª DIE (inicialmente denominada de “Destacamento FEB”) foi incorporada ao IV Corpo de Exército, do V Exército dos EEUU e, em solo italiano, vivenciou quatro fases distintas:
  1ª fase: Operações no vale do rio Serchio;
  2ª fase: Operações no vale do rio Reno;
  3ª fase: Operações no vale do rio Panaro; e
  4ª fase: Operações de Perseguição, ao Sul do rio Pó.
    No desenrolar dessas operações, nossos soldados passaram por imensos sacrifícios. A esse respeito afirmou o general Mascarenhas de Moraes, em seu livro “A FEB pelo seu Comandante”: “Para os que não sabem avaliar o esforço da FEB, pois não se situaram como nós, na mais cruenta frente de batalha da Europa Ocidental [em terreno montanhoso, totalmente favorável ao inimigo, permanentemente nevado, sob as agruras de um dos mais rigorosos invernos europeus e contra os mais bem adestrados soldados do mundo – acrescentamos, em complemento], só posso dizer que a FEB não teve um só dia de descanso em sua campanha na Itália” (grifamos e complementamos).
  Não é escopo deste trabalho, a descrição pormenorizada dos principais feitos expedicionários. Porém, mister se faz a apresentação cronológica dos mesmos, em aspectos de elevada significância.
  Na 1ª fase das Operações, ainda como “Destacamento FEB”, obtivemos a primeira vitória em Camaiore, no dia 18 de setembro de 1944. No prosseguimento pelo vale do rio Serchio, avançamos 40 km, efetuamos 208 prisioneiros e conquistamos várias elevações, vilas e cidades como os montes Prano e Acuto, Massarosa, Fabriche, Fornaci, Galicano, Barga e San Quirico.
  A 2ª fase, ao longo do vale do rio Reno, na região dos contra-fortes de Belvedere, Monte Castelo e Castelnuovo, foi a mais terrível da Campanha expedicionária. Não fosse conquistado o Monte Castelo, seria impossível o prosseguimento do IV Corpo de Exército (IV CEx) - nosso escalão superior - em direção a Bolonha, que deveria ser tomada antes da chegada do inverno. Entretanto, tal objetivo só seria atingido se fossem liberados 42 km da Rodovia 64, batida por fogos inimigos partidos das citadas elevações, cujo ponto culminante era o Monte Castelo. Quatro ataques a este monte foram desencadeados nos meses de novembro e dezembro de 1944, pelo IV CEx, com a participação da FEB, um deles somente ao encargo de nossa tropa; porém, não lograram êxito, apesar do elevado valor combativo da 1ª DIE, por uma série de razões muito bem explicadas em copiosa literatura. Finalmente, em 21 de fevereiro de 1945, após doze horas de batalha e três meses de ingentes esforços, que nos roubaram 263 preciosas vidas e nos fizeram mais de um milhar de feridos, a vitória foi obtida. A queda de Monte Castelo foi o momento mais emocionante vivido pela FEB. Para coroar tal façanha, completando a ruptura da ‘Linha Gótica’ (tais eram as culminâncias que a compunham), conquistamos, em 5 de março de 1945, as elevações de Torre di Nerone e Castelnuovo, o que propiciou o livre trânsito na Rodovia 64. O IV CEx, no dia seguinte, partiu célere para Bolonha, por aquela rodovia.
  Na 3ª fase, passamos a operar no corte do rio Panaro, quando se travou, em 14 de abril de 1945, a batalha de Montese, a mais sangrenta de todas. A localidade situava-se a 1.200 metros de altitude, um verdadeiro ‘ninho de águias’ onde os alemães estavam encarapitados. A sua conquista, por isso, exigiu muita bravura e esforços inauditos da parte de nossos pelotões de Infantaria e Esquadrão de Cavalaria Mecanizado. Capturamos 107 prisioneiros e sofremos 426 baixas, aí computadas as ocorridas na fase preliminar da batalha, cumprindo lamentar a morte de três heroicos Infantes: o tenente Ary Rauen, o aspirante Francisco Mega e o sargento Max Wolff (este, em missão de patrulha de reconhecimento, na antevéspera do combate). Aduza-se que até hoje, a população de Montese homenageia os ‘pracinhas’ brasileiros, com muita gratidão (inclusive a ‘Canção do Expedicionário’, é entusiasticamente cantada pelas crianças), chamando-os de ‘il liberatori’ - os libertadores. Nessa fase, não poderia haver perda de tempo e a DIE se deslocou com rapidez para o Norte, em direção a Zocca, conquistando as localidades de Marano e Vignola.
  A 4ª fase foi a da Perseguição ao inimigo - em desabalada fuga ao Sul do rio Pó, a fim de logo atingir o Passo do Brenner (nos Alpes italianos, na fronteira com a Áustria), em direção à Áustria e Alemanha -, e se desenvolveu na direção geral Vignola-Alexandria. A Divisão se movimentou com incrível velocidade, para obstar a retirada alemã, inclusive utilizando os caminhões da Artilharia, a fim de transportar tropas de Infantaria para a região de Fornovo.
  Em 27 de abril de 1945, a 1ª DIE chocou-se com resistências inimigas em Collechio-Fornovo-Respicio e, em duplo envolvimento, iniciou um amplo cerco às tropas alemãs. Os combates feriram-se durante toda a noite de 27/28 de abril, sendo enviado um ultimato de rendição incondicional aos alemães, que foi aceito após algumas tratativas. Amanhecia o dia 30 de abril, quando se deu a rendição - em combate -, frise-se, da 148ª Divisão de Infantaria do Exército Alemão e remanescentes das 90ª Divisão Panzer Granadier e Bersagliere Itália. Acrescente-se que o general Mascarenhas recebeu a rendição inimiga, sem que antes, propositada e altivamente, tivesse participado essa decisão ao comando do IV CEx, pelo que o magno feito marcial foi só e tão somente só das tropas brasileiras! Era a apoteose da FEB! A História, naquele momento, registrava fato ímpar: ‘super-homens’ nazistas eram rendidos, em combate, pela única tropa sul-americana presente no Teatro de Guerra europeu. Aprisionamos 14.779 homens, 4.000 animais, 2.500 viaturas, além de farta quantidade de armamento, munição e equipamentos.
  Após a rendição do inimigo, nossa Divisão prosseguiu em seu avanço. Em 30 de abril, ocupou Alexandria, onde fez junção com tropas norte-americanas e, em 1° de maio, após ultrapassar a cidade de Turim, realizou nova junção com tropas francesas, em Susa. Daí em diante, foram efetuadas operações de ocupação, até 3 de junho, quando se deu o deslocamento para o Sul da Itália, onde se aguardou o regresso para o Brasil.
  Encerrava-se, assim, uma das mais brilhantes páginas de nossa História. Completava-se o memorável périplo de brasileiros em terras do Velho Continente. Perderam a vida em combate, 451 militares; 1.577 foram feridos; 1.145 acidentados; 58 extraviados e 35 feitos prisioneiros, em 239 dias de empenho diuturno.
  Em 22 de dezembro de 1960, há 55 anos, portanto, o inesquecível marechal Mascarenhas de Moraes viu realizado o seu antigo e nobre propósito de repatriar os pracinhas tombados  no campo da honra. Fez-se o trasladado dos restos mortais dos heróis, do Cemitério de Pistoia, na Itália, para o majestático Monumento aos Mortos na II Guerra Mundial, localizado no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. A comovente Cerimônia foi presidida pelo presidente Juscelino Kubitschek que, na ocasião, proferiu um belo e pungente discurso. A enorme câmara fúnebre possui 468 jazigos de mármore negro, nacional, com a tampa branca de mármore da cidade italiana de Carrara. Em cada um deles estão insculpidos a graduação ou posto, a Unidade, o nome do expedicionário, a data de seu natalício e a de sua morte gloriosa. Quinze desses jazigos são de militares não identificados, mercê de suas mutilações. Neles está escrito: “Aqui jaz um Herói da FEB: Deus sabe o Nome”.
  Também, as merecidas loas aos bravos companheiros que permaneceram no Brasil, na defesa e guarda de nossa Terra, junto ao extenso litoral brasileiro. Igualmente, os louvores à Marinha de Guerra, no patrulhamento de nossa costa marítima e na proteção aos comboios navais, e à novel Força Aérea Brasileira (FAB), que tantas glórias colheu na Itália, com o heroico 1° Grupo de Aviação de Caça - o “Senta a Púa” (sua divisa pitoresca) e com a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação - “1ª ELO”, cujo mote era “Olho Nele”, subordinada à Artilharia Divisionária (AD/1ª DIE), para a regulação aérea dos fogos de Artilharia.

  5. Considerações Finais 

    A FEB não foi uma simples expedição. A FEB não foi uma presença simbólica na guerra contra o nazi-fascismo. Àqueles que de forma amdorista, arrogante, malévola, inconsequente e irresponsável, a detratam, sem que tenham feito a devida e imprescindível contextualização temporal, depreciando o seu desempenho, precisariam entender o que nos transmitiu o saudoso febiano, general Carlos de Meira Mattos, em um de seus competentes trabalhos sobre a 1ª DIE. Dizia o general, que só poderíamos aferir, com justeza, o que foi o desempenho de nossa Divisão de Infantaria se o comparássemos, singularmente, com o de uma outra Divisão estrangeira, dentre tantas que atuaram no Teatro de Operações italiano e em várias regiões da Europa. E concluía, aquele Chefe Militar, com base em estudos técinico-militares, que, sem qualquer favor, a Divisão brasileira ombreou-se, airosamente, com as melhores Divisões aliadas. Assinale-se, ainda, que não há registros nos anais da História Militar, de qualquer Exército, que durante as guerras, não tivesse cometido erros, até gravíssimos, táticos, estratégicos ou de qualquer outra natureza. Há, inclusive, - cite-se por curiosidade -, um velho aforismo que diz: “A guerra é uma grande confusão que cabe aos comandantes limitar”...
  Uma anotação digna de realce diz respeito ao expedicionário Waldemar Levy Cardoso, tenente-coronel que comandou um Grupo de Artilharia da FEB, e, após a guerra, atingiu o posto de marechal. Este insigne militar foi, por muitos anos, o detentor do “bastão de comando” da Força Expedicionária Brasileira, sendo o último dos marechais brasileiros a falecer. Ele nasceu em 4 de dezembro de 1900 (ainda século XIX) e morreu, aos 108 anos, em 13 de maio de 2009. É, portanto, o nosso “Marechal de Três Séculos”, fato talvez único na historiografia militar mundial, considerando-se a vida castrense de marechais. 
  A FEB nos deixou inúmeros e mui valiosos ensinamentos, talvez o mais superlativo, o da confiança do homem brasileiro em suas próprias potencialidades, apesar de tão carente e desassistido, como ficou evidenciado, dolorosamente, na fase de sua mobilização para a guerra. Os novos métodos e técnicas de combate foram bem assimilados pelo Exército, porém poderiam ser melhor absorvidos, não fora a extemporânea desmobilização da tropa, por motivos meramente políticos. A modernização das Forças Armadas, desaparelhadas como estavam, repetindo situação análoga à do início da Guerra do Paraguai, tornou-se uma necessidade premente, com vistas à defesa do território nacional, tão vulnerável a uma invasão, principalmente no estratégico saliente nordestino.
  A participação brasileira na II GM trouxe-nos como fatos relevantes, a restauração da democracia no País e uma notória projeção brasileira, até então de somenos importância, no concerto internacional.
  Todavia, desafortunadamente, o Brasil não foi aquinhoado com o ressarcimento de suas perdas materiais, como avençado nos Acordos de Ialta e Potsdam. Sem contar os significativos prejuízos sofridos pela Marinha Mercante, além do pagamento de quase 2 bilhões de marcos, pela compra (antes do conflito) de material bélico não entregue pela Alemanha, gastamos 361 milhões de dólares, cuja última prestação só foi saldada em 1954. Entretanto, o nosso País não recebeu as indenizações que lhe eram devidas, pois foi excluído, injusta e injustificadamente, da “Conferência de Reparação de Guerra”, de Paris. Destarte, mesmo sendo um dos países vencedores, o Brasil foi bem menos beneficiado do que os vencidos, eis que o “Plano Marshall” os contemplou de forma magnânima. Aduza-se, como complementação, que recusamos a participar da ocupação pós-guerra da Itália ou da Áustria, como desejavam os aliados.

  6. Conclusão

    A FEB regressou coberta de glórias. Aos que verteram o seu generoso sangue pela honra da Pátria, o nosso preito de eterna gratidão, na relembrança das palavras do marechal Mascarenhas de Moraes: “Regressamos com as feridas ainda sangrando dos últimos encontros, mas nunca, pela nossa atuação, prestígio e nome do Brasil periclitaram ou foram comprometidos”.
  A Força Expedicionária trouxe mudanças profundas para o Brasil - que por ela se redemocratizou, repita-se -, em todas as expressões do Poder Nacional. De seus quadros saíram um presidente e um vice-presidente da República (Humberto de Alencar Castello Branco e Adalberto Pereira dos Santos); um presidente do Senado (Paulo Torres); quatro governadores de estado (Cordeiro de Farias, Paulo Torres, Emílio Ribas e Luiz Mendes da Silva); quatorze ministros de Estado (Zenóbio da Costa, Cordeiro de Farias, Amaury Kruel, Segadas Vianna, Nelson de Melo, Moraes Ancora, Ademar de Queiroz, Lyra Tavares, Campos Paiva, Albuquerque Lima, Dale Coutinho, Hugo Abreu, Belfort Bethlem e Celso Furtado), além de inúmeros e proeminentes militares, políticos, homens públicos, etc.
  Ainda hoje, já passados 70 anos, não há quem não se emocione com a “Canção do Expedicionário”. A música desta composição é de autoria do notável maestro Spartaco Rossi; e a poesia, do grande vate paulista Guilherme de Almeida, “O Príncipe dos Poetas”, uma belíssima miscelânea (“uma verdadeira colcha de retalhos”) de trechos de renomados escritores brasileiros e versos de consagrados poetas nacionais, modinhas, velhas cantigas de roda e do cancioneiro do início da década de 1940. A famosa revista “Reader’s Digest” a considerou uma ‘Master Piece’ (obra prima) da literatura mundial...
  Salve a Força Expedicionária Brasileira, orgulho do altaneiro, glorioso e invicto Exército de Caxias e de nosso amado Brasil!
  “Não me mandas contar estranha História. Mas mandas-me louvar dos meus a glória”   (Camões).

(*) Coronel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar

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