(à localidade praieira de Armação de Pêra, Algarve, à rua que recebeu a benção desse nome e
que se projetou como uma porta de entrada para o
então desconhecido, aos meus amigos angolanos e, muito especialmente, a um vira-lata que, deitado do lado de fora da barraca, isolada na escuridão da noite, vigiava o meu sono, dividindo comigo o seu silêncio e amizade)
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rua das portas do mar
mais alguns passos
e é o oceano
a imensidão salgada
por desvelar
desvendar
despir de seus mistérios
monstros e perigos
rua das portas do mar
mais alguns traços
e é o novo mundo
a amplidão ensolarada
por desenhar
palmilhar
descrer de seus limites
excessos e delírios
rua das portas do mar
mais alguns laços
e é Portugal
a pátria-mãe amada
por abraçar
recobrir
vestir de seus encantos
mastros e delícias
rua das portas do mar
mais alguns fados
e é o desengano
sentidas cantigas
de amores e de amigos
a espalhar
romper todos os diques
lastros e relíquias