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Contos-->Espelho -- 09/01/2003 - 16:51 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Espelho

Marcelo Lima


Ele novamente havia acordado muito tarde. 11:00. Aquela situação realmente o deixava triste e irritado. E o pior de tudo: em uma segunda feira.
Sem trabalho e sem a mínima idéia de onde procurar serviço, amargava vendo tv até a hora do almoço.
Não sabia explicar o por que de sua tristeza. Sabia apenas que não gostava de fazer parte do nada. Não estar trabalhando, para ele, era a pior coisa do mundo.
Muito bem. Ele tentou fazer serviços que não gostava. Mas eles apenas confirmavam sua melancolia.
Às vezes olhava todas as pessoas indo trabalhar e se sentia péssimo.
Sem emprego, sem carro ou roupa nova, tinha uma outra coisa que o incomodava: sua namorada. Ela estava trabalhando. Fazia o que gostava e estava ganhando muito bem. Junto a sua sensação de inutilidade, ele somava o fato de sua garota ter conseguido muito mais do que ele em um tempo consideravelmente menor. É claro que não tinha inveja, ao menos não daquelas destrutivas, mas tinha uma pontinha de ciúmes, quando, todos os dias ela acordava às 7:00 para se arrumar e depois de uma hora, sair para trabalhar.
E quanto aos amigos? Ele tinha muitos. Às vezes arrumava algum dinheiro e ia se encontrar com eles. Cerveja. Quando se reúnem, mais uma vez ele se sente horrível, porque existem apenas três assuntos básicos: emprego, mulher e coisas do passado. Quanto a emprego, todos os seus amigos estão caminhando. Se não estão bem, ao menos estão fazendo o que gostam e com dinheiro suficiente para pedir mais uma rodada de cerveja. Quanto falar de mulher, isso se tornou lugar comum e improdutivo, assim como ficar lembrando as melancolias do passado. Sempre as mesmas piadas.
Se ele soubesse que é apenas uma peça. Seus sentimentos são fruto de uma vida inteira de imposição. Desde criança fora pressionado a ser alguma coisa, mesmo que ninguém dissesse diretamente que precisava. Mas esse tipo de coisa acontece às escondidas. Ninguém diz “seja”, mas todos induzem para que conjuguemos esse verbo em todos os tempos.
Nesta sociedade, todos devemos nos encaixar como peças de Lego, embora muitas vezes os “plugs” das pessoas sejam bem diferentes. Então acabamos nos encaixando de alguma maneira. Às vezes apenas para não nos sentirmos de fora de alguma coisa que nem mesmo sabemos o que é.
Qual sua profissão? Aonde comprou essas roupas? Que carro bonito esse que você tem. Você está fazendo aperfeiçoamento? E aquela promoção, sai ou não sai?
Toda a vida fica reduzida a essas perguntas. E quando elas não são feitas nos sentimos deslocados. Não necessariamente as perguntas, mas o processo que envolve fazer parte delas.
Nosso amigo sabe que talvez seja burrice ficar se preocupando como tudo isso. É claro que trabalhar é muito bom, mas daí ficar se sentindo o último ser humano do planeta.
Mas mesmo assim ele vai continuar triste. Vai continuar sentindo sua inveja recolhida. Vai continuar achando que nada nesta vida é justo. E vai continuar se perguntando quem é o responsável por tudo isso. Para que? Para dar um cruzado de direita em quem realmente merece.
Tirem o espelho de sua frente.



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