Um simples bocejar demonstra o tédio
Que causa, no leitor, a minha rima.
Procuro, em vão, saber qual o remédio
Para trazer a mim a sua estima,
Mas tudo só resulta em triste assédio,
Porque não sei sanar do mal o clima,
Criando para mim tal confiança
Em que o amor do Pai também me alcança.
Um simples entrevero co’a matéria
Me põe todo ouriçado e o Sol não brilha.
Quisera possuir um’alma séria,
P’ra colocar no verso a maravilha
De ensinar através de uma pilhéria,
Bem certo de que amor é que estribilha
O entendimento lúcido da lei,
Na alegre reunião de toda a grei.
Contento-me, porém, com a esperança
De ver minha palavra divulgada,
Pois sei que o bom leitor jamais se cansa,
Porquanto esta humildade mui agrada
A quem mantém, na alma, uma criança,
Que, para ser feliz, não pede nada,
Apenas atenção e algum carinho
De quem vem indicar-lhe o bom caminho.
Nostálgica atitude de quem sabe
Que a força da lição está no amor.
Uma palavra sábia também cabe.
Desde que o bom amigo dê valor.
Ainda há de esperar que não se gabe
Do verso mais perfeito o seu autor:
Equilíbrio é a chave do mistério,
Para que o verso alcance refrigério.
Não basta só pensar o tempo todo.;
Precisa vir fazer alguma trova:
O pensamento pode ter engodo.;
O verso há de servir sempre de prova,
Embora não se queira venha a rodo,
Que a imperfeição há de cavar a cova
De quem só quer passar por bom poeta,
Que a doutrina há de ser a mais correta.
Falei de forma clara e sem rebuços,
Pois gosto de pingar todos os “is”.
Não quero ouvir nem produzir soluços:
Os sentimentos bons são varonis.
Estes meus versos não se fazem chuços,
P’ra que à memória os males peçam bis.
Vamos pensar na vida com coragem,
Para enfrentarmos, fortes, a viagem.
Algumas vezes temos uns fracassos,
Pois não podemos ser sempre perfeitos,
Mas vamos mais torná-los bem escassos,
Senão jamais iremos ser eleitos.
Por isso é que é importante que estes passos
Se meçam nas medidas dos conceitos
Que esclareceu Kardec, em sua obra,
Virtudes que no espaço o Mestre cobra.
Quando Jesus passou por este mundo,
Não tinha esta poesia p’ra ajudar.
O povo não sabia que, no fundo,
Devia compreender mui devagar,
Querendo a salvação, sempre iracundo,
Dizendo-se cansado de esperar.
Agora, está perdida essa memória
E a mente humana conta uma outra história.
Eis que a matéria assume totalmente
O coração de quase todo o povo.
Talvez para o leitor minta esta gente,
Que se engrandece ao descompor de novo
Aquele que se mostra inteligente,
Pois nasceu, na ciência, um bom renovo
Que permite ao etéreo vir compor
Diretamente no computador.
As pontas do mistério aí se unem,
Fazendo-nos mais gratos ao Senhor.
Eu sei que há mortais que se premunem
Contra o noviciado deste autor.
É que as abelhas, quando voam, zunem,
Como aos poetas cabe vir compor.
Se a matéria nos dá apoio e viço,
Lembremo-nos do etéreo o compromisso.
Estou muito contente co’a poesia:
Penso ter resgatado a minha idéia
De que o bom leitor se entediaria.
A produção do mel, lá na colméia,
Nenhuma só abelha afastaria,
Para participar doutra assembléia.
Ao repetir o que Jesus ensina,
Kardec não se enfada co’a doutrina.
Eu agradeço muito ao caro amigo
Haver dado atenção e, mais, carinho.
Não sei se aceitará seguir comigo,
Pois esta minha estrada tem espinho,
No fim, Jesus dará soberbo abrigo
A quem chegar co’a turma e não sozinho,
Pois tudo o que se faz, se faz melhor,
Quando se aplica a lei do amor de cor.
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