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cronicas-->Contrera no Comentário II - Cioran na Mesa Redonda XIV -- 02/10/2002 - 00:13 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera

Algo parecia escapar das palavras de José Thomaz Brum no decorrer de sua conversa com a gente, aficionados em Emil Cioran que descansavam da maratona do X Encontro de Filosofia, estes dias em São Paulo. Algo parecia escassear nos olhares da colega Cecília, algo parecia procurar entredentes o Piva, de algo duvidava nosso outro colega, perdão, não me lembro do nome. Tudo ainda me incomodava enquanto permanecia na mesa, ora admirando o cortejo, ora aproximando-me para melhor ouvir as palavras de admiração.

A mesa do hotel não era redonda, nem seus participantes Ayra, Bruno, Klaus e Kilandra, muito embora Contrera por lá estivesse. Ninguém - salvo Contrera - sabia da origem da Mesa Redonda, do surgimento do grupo U.S.I.N.A., da virtual realidade que é transformar o zero em trama ardilosamente travada a dez mãos - por enquanto. O pensamento trópego não encontraria guarita nesse grupinho à janela do Lorena Flat, na Rebouças; o ensimesmamento sófrego era estranho à mesa do U.S.I.N.A.

O tempo corria, e com ele tanta salivação, mas Cioran, o alvo das admirações, não corporificava deveras. Presente em espírito, sua carne apodrecera há anos e possivelmente ruborizaria face a tantas presenças, a tão convictos endeusadores do vão, se não aos ensurdecidos urros vizinhos, e não é que era encontro de filosofia? Não era assim, porém, o espírito da Mesa Redonda do U.S.I.N.A., emboladas tramas ridículas de encontros fictícios com personagens do abismo; o absurdo, enfim. Nada mal para quem convivera com Beckett, dividira mesas com Ionesco, se embatera com Eliade.

"Quando os outros cessam de existir para nós, nós cessamos de existir por nossa vez para nós mesmos" (Cahiers, 24). Pensassem os da mesa do Encontro que Cioran mais presente estivesse por lá; azar deles. Não era assim que Contrera admitir-se-ia vislumbrar a cena dantesca. Tanto melhor que a mesa se virtualizasse, corporificada no Usina de Letras, e - mais real - aprimorasse o encontro dessas presenças virtuais que sem o menor contato real conseguiam fazer da palavra vida. Aí estaria o romeno.

"Fortaleço-me pelo desprezo que os homens desejam me dispensar, e desejo então apenas uma graça: a de nada ser aos seus olhos" (Cahiers, 25). Não era isso o que se via no grupinho de filosofemas; não era isso que revelava a sofreguidão respeitosa do professor Brum (muito embora seu olhar por vezes transmitisse a dor que o desprezo causara no romeno inútil). Chamavam-no, tal qual sessão espírita intercontinental; adoravam-no, tal qual o antiquado deus Baal, o da Bíblia, por lá tão vilipendiado. Se bem que o Contrera permanecera em mutismo.

"Não consigo escrever sem estimulantes; e os estimulantes me são proibidos. O café é o segredo de tudo" (Cahiers. 26). Nada mais morto que a água predominante na mesa não redonda; nada menos possível na mesa do U.S.I.N.A.

- Garçon, um uísque, uma vodka, algo ainda mais forte!

© Rodrigo Contrera, 2002.
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