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Textos_Religiosos-->Dia do Santinho de meu nome... -- 13/06/2006 - 10:24 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AO SANTINHO DO MEU NOME...



Este gajo é um santinho extremamente simpático, aprazível, terno, meigo e brincalhão, capaz de concitar os corações, porque, sem dizer uma palavrinha que seja, apresenta-se por forma a harmonizar permanentemente o bem com o mal. Não é um daqueles anjos de espadalhão extreminador que Deus tem ao seu serviço para cortar as cabeças malignas. A Igreja, com o decorrer dos séculos, tem-no fodido de toda a forma e feitio. Colocou-o estupidamente no pedestal dos milagres impossíveis, tão-só para lhe pôr por baixo uma caixa de esmolas e torná-lo num mendigo pedinchão. A Igreja domina um fabuloso império capitalista à custa dos santinhos que sub repticiamente obriga a ser pedinchões. Por isso, nunca na minha vida encontrei um padre roto e cheio de fome.

É evidente, caros Leitores que, em face de um santo, não se deve escrever palavrões, mas, dadas as longas conversas que tenho tido com o meu padroeiro, eu sei de antemão que Santo António me perdoa o palavrismo agreste que uso frequentemente. Às vezes, ele desce ao meio dos meus sonhos e diz-me: "Fode-os, Toninho, fode-os sem cessar, dá-lhes com a palavra feita de todas as maneiras. Assim como tu agora estás a dormir, a maioria deles dorme há séculos e não há meio de acordar. Sobretudo, nos momentos que decorrem, tem cuidado, muito cuidado. Não pegues em criancinhas ao colo. Sorri-lhes apenas e dá-lhes muito rapidamente coisas docinhas. Não permitas que o miserabilismo perverso te acuse de pedofilia. O mundo actual está deveras imundo".

Apre, foda-se, Santo António, está mesmo, e aparece-me em sucessiva cadeia um filho da puta todos os dias e, ó meu querido padroeiro, por mais que me camaleone, nem uma mosquinha licitamente consigo caçar. Os gajos querem mesmo dar-me cabo da alimentação toda. Como sou um camaleão velho partem do princípio que é fácil empurrar-me para o lado. Mas eu fodo-os, santinho meu, fodo-os quanto posso, perfurando-lhes os intestinos mentais que sustentam no cérebro.

Santo António, segundo o histórico temporal, protegia os pobres, buscava-lhes, material e espiritualmente, auxílio e consolação. Dito de Pádua e de Lisboa, este frei franciscano português, trocou o conforto de uma abastada família burguesa pela vida religiosa.

Contam os livros que nasceu em Lisboa, em 15 de Agosto de 1195, e recebeu no baptismo o nome de Fernando. Ele era o único herdeiro de Martinho, um nobre pertencente ao clã dos Bulhões y Taveira de Azevedo. Sua infância foi tranquíla, sem emoções e paixões, até que resolveu optar pelo sacerdócio. A escolha recaiu sobre a ordem de Santo Agostinho.

Os seus primeiros tempos de lucidez, passados nas cidades de Lisboa e Coimbra, dedicou-os ao estudo. Nesse período, nada escapou a seus olhos, desde os tratados teológicos e científicos às Sagradas Escrituras. Sua cultura geral e religiosa era tamanha que alguns dos colegas não hesitavam em chamá-lo de "Arca do Testamento". Reservado, Fernando preferia a solidão das bibliotecas e dos oratórios às discussões religiosas. Bem, pelo menos até um grupo de franciscanos cruzar seu caminho. O encontro, por acaso, numa das ruas de Coimbra, marcou-o para sempre. Eles eram jovens diferentes, que traziam nos olhos um brilho desconhecido. Seguiam para Marrocos, na África, onde pretendiam pregar a palavra de Deus e viver entre os sarracenos.

A experiência costumava ser trágica. E daquela vez não foi diferente. Como a maioria dos antecessores, nenhum dos religiosos retornou com vida. Depois de testemunhar a coragem dos jovens frades, Fernando decidiu entrar para a Ordem Franciscana e adoptar o nome de António, em homenagem a Santo Antão.

Disposto a tornar-se num mártir, também ele partiu para o Marrocos, mas logo após aportar no continente africano, contraiu uma impestante febre. Gravemente doente, foi obrigado a regressar a Portugal. O destino entretanto reservava-lhe novas e inesperadas surpresas.

Uma forte tempestade obrigou barco que o transportava a aportar na Sicília, no sul da Itália. Aos poucos, recuperou a saúde e concebeu um novo plano: decidiu participar da assembleia geral da ordem em Assis, em 1221, e deste modo logrou conhecer São Francisco pessoalmente.

É difícil imaginar a emoção de Santo António ao encontrar seu mestre e inspirador, um homem que falava com os bichos e tinha espiritualmente recebido as chagas de Cristo. Infelizmente, não há registos deste momento tão particular da história do Cristianismo. Sabe-se apenas que os dois santos se aproximaram mais tarde, quando o frei português começou a realizar as primeiras pregações. E que pregações!... Santo António era deveras um orador inspirado. Seus sermões eram assaz disputadíssimos pelas audiências, as quais chegavam a alterar a normal rotina das cidades, provocando o encerramento antecipado dos estabelecimento comerciais.

De pregação em pregação, de povoado em povoado, António chegou a Pádua. Aí, com a sua dinâmica sabedoria, converteu um grande número de pessoas através de seus actos e suas palavras. Foi para esta cidade que ele pediu que o levassem quando seu estado de saúde piorou, em Junho de 1231. António, porém, não resistiu ao esforço e, com apenas 36 anos de idade, morreu no dia 13, no convento de Santa Maria de Arcella, às portas da cidade que tinha baptizado de "casa espiritual".

O seu funeral realizou-se na Igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Anos depois, seus restos foram transferidos para a enorme basílica de Pádua. Seu processo de canonização encabeça a lista dos mais rápidos de toda a história da Igreja. Foi aberto meses depois de sua morte, durante o pontificado de Papa Gregório IX, e durou menos de ano.

Graças à sua dedicação aos humildes, Santo António foi eleito pelo povo protector dos pobres e, quiçá por útil consequência, esteja em todas as prateleiras de tascos e botecos para proteger sobretudo ao mesmo tempo a máquina registadora dos tasqueiros.

Como as igrejinas caixas de esmolas abarrotassem, a imagem e memória de António transformaram-no rapidamente num dos filhos mais amados da Igreja, "um porto seguro ao qual todos sem excepção podem recorrer".

Uma das tradições mais antigas em sua homenagem é, justamente, a distribuição de pães aos mais necessitados e àqueles que desejam proteção em suas casas. Homem de oração, Santo António tornou-se santo porque dedicou toda a sua vida aos mais pobres e colocou-se integralmente ao serviço que Deus, estando muitas vezes a dormir, se esquece de fazer.

De Lisboa ou de Pádua, é por excelência o santo milagreiro, casamenteiro, permanentemente com o Menino ao colo. Padroeiro dos pobres é invocado também para o encontro de objectos perdidos.

Todos os anos, de 12 para 13 de Junho o povo de Lisboa evoca-o e festeja-o vigorosa e devotamente. Eu, a maioria do tempo sem de tal me aperceber, festejo-o todos os dias no silêncio do meu nome.

Com música original de Manuel Eugénio Simões Inácio, o "Trio Nós Três" evoca-o, cantando uns versos que há cerca de 6/7 anos escrevi:



BAILINHO DE SANTO ANTÓNIO

O Santo António, quando em Junho é dia treze,
sai para a rua a noite inteira a foliar,
fechando a igreja, para que ninguém lá reze,
deixa o Menino adormecido no altar...

Reune os anjos perfilados no cruzeiro
e organiza com desvelo a procissão,
distribuindo a cada um o seu pandeiro,
Coloca à frente o tocador de acordeão...

Avança a marcha de arquinho e balão
A passo certo segue então a romaria
E lá no meio também vai o São João
Que quer treinar para a festa do seu dia...

Engrossa a rusga ao entrar na avenida,
todos unidos de mão-dada e a bailar,
lançando ao vento as canseiras desta vida
e desabafam as tristezas a cantar...

Quando se abeiram da praça da Liberdade,
há já fogueiras e fogo solto no ar
e até os velhos a morrerem de saudade
largam as velhas para mudarem de par...

Mais um milagre Santo António vai fazer,
levado aos ombros na onda da multidão
que a marchar em delírio e a viver
a todos abre as portas do coração...

Ai... Ai-ai-ai
Ai... Ai-ai-ai
Vou nesta festa... Vá a festa aonde for
Ai... Ai-ai-ai
Ai... Ai-ai-ai
O Santo António vai levar-me ao meu amor!...

Tadeu - Oh... Olha lá, Toninho, em termos religiosos, não achas que acabaste de escrever um monte de blasfémias, as quais, no tempo da Santa Inquisição, atiravam-te direitinho para a fogueira?

Toninho - Ah... Tadeu, grande parvalhão... Então não vês que a arder ando eu há 67 anos? Vá, agora aguenta. Já pouco falta para que eu fique completamente reduzido a cinzas...

António Torre da Guia





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