Diz-se ao facultativo
uma voz ouvir de dentro
da cabeça, sem motivo.
Pra isso não falta centro
de psiquiatria bom,
onde há sempre divã
pra decifrar qual o som
que vem em pessoa sã.
De um ou mais de um jeito
todo mundo ouve voz,
ou vozes que têm efeito,
quando se está a sós.
São meios involuntários
da mente; o pensar cicia
os assuntos ordinários,
seja dor ou alegria.
E há quem curta zumbido
de grande intensidade,
que nunca foi traduzido,
por pensar complexidade.
De vez em vez, alguém flagra
outro falando a sós,
um biruta que sufraga
palavras em alta voz.
O biruta não difere
da pessoa mais normal;
um em voz alta profere,
o outro fecha canal.
A voz comenta e julga,
compara, gosta, desgosta,
uma sentença promulga,
outra hora faz aposta.
Ela não é relevante,
pois revive o passado
recente, ou mais distante,
ou algo preocupado,
ensaiando ou bolando
situações mais à frente,
com imagens ajuntando
tudo que for saliente.
Neste caso, imagina
tudo prejudicial,
resultados como sina,
nada de bom, sempre mal.
Mesmo que a voz reflita
um evento do presente,
é tida como a fita
do passado consistente.
A voz pertence à mente
moldada pelo passado
mais remoto, ou recente,
ou que vem aculturado.
Assim, vemos e julgamos
o presente com extratos
do passado, que juntamos,
e adaptamos aos fatos.
Não é raro que as vozes,
com argumentos tenazes,
qual inimigas atrozes,
nos deixam mui incapazes.
São como torturadores:
sempre punem e atacam
cabeças sem protetores;
destas energia sacam.
Isso é grande motivo
de angústia e torpor,
de buscar facultativo
para sarar nossa dor.
Bom é saber que podemos
nos libertar do pensar,
e, assim, quando nós queremos,
de melhor vida gozar.
Dê o seu primeiro passo,
preste atenção à voz,
que age qual marca-passo,
nosso pensar mais algoz.
Seja sua testemunha,
da voz do seu pensador,
e ouça toda mumunha,
sem juízo de valor.
Seja bem imparcial!
Não julgue, nem a condene,
sinta-se presencial;
misericórdia perene.
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