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Artigos-->ASPETO DE OURO PRETO - TELA DE LEOPOLDO GOTUZZO -- 12/07/2013 - 10:29 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


“ASPETO DE OURO PRETO” - TELA DE LEOPOLDO GOTUZZO



 



L. C. Vinholes



 



Em 1979 o Itamaraty colaborou na campanha visando localizar toda e qualquer obra de Candido Portinari em museus ou coleção particulares no exterior. Como adido, encarregado do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Ottawa, preparei correspondência circular às instituições canadenses relacionadas às artes plásticas e a colecionadores e às galerias envolvidas na compra e venda de obras de arte. O objetivo era subsidiar ao Projeto Portinari dirigido por João Candido, filho do pintor.



 



Desta campanha resultou a localização de dois croquis de Portinari para um dos painéis da Igreja da Pampulha em Belo Horizonte, dos quais obtive diapositivos em preto e branco, posteriormente enviado ao filho de Portinari, promotor e coordenador da campanha que, como que conversando com o pai, dizia sentir o “dever de trabalhar para que todos possam nos reencontrar com tua obra e, através dela, com nós mesmos”.



 



Na ocasião tomei conhecimento de que provavelmente alguma obra de Portinari poderia estar com herdeiros de Jean Désy, primeiro embaixador do Canadá no Brasil, que servira inicialmente como Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário (1941-1944), e depois como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário (1944-1947); que conhecera o pintor e teria adquirido suas obras. Depois de inúmeras tentativas, contando com a colaboração de funcionário do Serviço Exterior do Canadá, obtive o endereço da filha do embaixador, senhora Muriel Désy Lunny Luc, provavelmente sua única sobrevivente.



 



Ao visitar a senhora Lunny Luc em Montreal, 3468 Drumond St., Ap.505, tive oportunidade de conhecer significativo acervo de obras de arte e obter a informação de que a maior parte da coleção de seu pai estaria em um depósito em Paris, decisão que havia sido tomada por seu irmão, cujo nome, por razões de foro pessoal, preferiu não informar. Manifestou conhecer o nome de Portinari e levantou a hipótese de que alguma obra de sua autoria poderia estar no citado depósito. Entre as obras dispostas na sala do apartamento duas, certamente, eram de autor brasileiro.



 



Uma de tamanho grande, da mesma largura de um sofá de três lugares, mostrava um cache-pot de bronze sobre uma mesa coberta com toalha em diagonal exibindo farto e colorido arranjo de flores, mas sem assinatura nem outra informação sobre a tela. Na parte posterior, em um carimbo de azul desbotado e quase que totalmente ilegível, ainda lia-se: “Rio de Ja.....ro”, certamente reminiscência do que fora o endereço de quem vendia material para pintura, na então capital do Brasil.



 



A outra obra de tamanho pequeno era inconfundivelmente relacionada ao Brasil, uma vez que mostrava uma das tantas vistas consagradas da cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. A senhora Lunny Luc empenhou-se em convencer-me a adquirir as duas telas, justificando que em breve mudaria para outro apartamento no qual não encontraria espaço ”nem para a metade” de tudo que ali estava. Continuou no seu afã em busca de negócio e, mesmo sem ter informado quanto queria pelos dois quadros, afirmava que faria um bom abatimento nos preços das obras se eu as comprasse. Estipulou o quanto queria por cada uma das telas e manifestei interesse apenas pela menor, por tratar-se, nada mais nada menos, de obra do pintor Leopoldo Gotuzzo, festejado artista pelotense. O negócio foi fechado e voltei para Ottawa pensando como poderia colaborar com a busca das obas de Portinari no depósito de Paris, sem nenhum dado que ajudasse.



 



A tela de Gotuzzo, com moldura original, tem área pintada de 33cm de altura e 28cm de largura e no canto inferior esquerdo a assinatura do autor e o título OURO PRETO, em maiúsculas, seguido do ano 1942; no canto esquerdo superior da armação lê-se em três linhas escritas a nanquim: ASPETO de / OURO PRETO / L. Gotuzzo 1942; e em cartão de 5cm x 7,5 cm colado na parte de traz da tela, na caligrafia do pintor, lê-se em onze linhas: “Aspeto de Ouro Preto” / Formado do começo / da estrada que conduz / a Mariana. / Ao fundo vêm-se as / igrejas de São Francisco de / Assis e das Mercês. / Pintado por / Leopoldo Gotuzzo / no mês de Junho de 1942”. Conheço outra tela de Gotuzzo registrando vista da igreja de São Francisco de Assis, patrimônio do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.



 



“Aspeto de Ouro Preto” figurou nas paredes de onde morei até que decidi implementar a decisão de doá-la ao Museu de Arte Leopoldo Gottuzo (MALG) de Pelotas, cidade onde nasceu o pintor e aonde cheguei quarenta e seis anos depois. O MALG foi criado em 7 de novembro de 1986, funciona como extensão do Instituto de Ciências de Artes da Universidade Federal de Pelotas, “promove cursos, seminários e ações culturais e educativas”, desenvolve “projetos de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de artes, museologia, conservação e restauro”, bem como exposições temporárias, individuais ou coletivas, mediante “intercâmbio que mantém com outros museus e instituições ligadas à arte”. Não tendo sede própria, suas instalações no Casarão Alsina, da Rua General Osório, construído, em 1876, pelo emigrante italiano Francisco Alsina, apesar de recente e cuidadosa restauração, são extremamente precárias em termos de espaço e mobiliário, haja vista a valiosa coleção de seu acervo não só de obras de quem lhe deu o nome, mas também de artista nacionais e estrangeiros.



 



Como este texto poderá ser lido por quem não conhece o artista, arrisco acrescentar informações baseadas no tanto que tenho lido sobre ele desde que conheci, pela primeira vez, uma de suas obras mais impactantes, A Mulata, durante décadas a primeira coisa a chamar a atenção de quem subia os degraus da escada que dava acesso ao salão do Conservatório de Música de Pelotas.



 



Leopoldo Gotuzzo, filho de pai italiano e mãe brasileira, nasceu em 8 de abril de 1887, fez seus primeiros estudos com o pintor e cônsul italiano Frederico Trebbi, patrono do salão da entrada da Prefeitura Municipal de Pelotas; viajou para a Europa em 1909, estudado em Roma como aluno do francês Joseph Noël e, depois, em Madri e Paris. Retornou ao Brasil em 1920 e, sete anos mais tarde, voltou à Europa onde fica por três anos pintando e expondo em Lisboa, Porto e Paris. Dono de uma fina linguagem pré expressionista, em suas obras, assim como na dos seus contemporâneos, mostra seu interesse pela figura humana, pelo nu feminino, pelas flores e paisagens, e pela natureza morta. A leveza e firmeza do traço dos seus croquis sempre chamaram a atenção. Sua primeira participação no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro foi em 1915, onde, em anos subsequentes, ganha medalhas de bronze (1916), medalhas de prata (1917 e 1919) e medalha de ouro (1922). Na sua terra natal, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro suas primeiras mostras foram em 1919. Suas obras podem ser vistas no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Estado de São Paulo. De interesse histórico é a carta, de 1955, da primeira doação de algumas de suas obras à Escola de Belas Artes de Pelotas, manifestando seu desejo de ver criado um museu que acolhesse sua produção artística e recebesse seu nome. Gotuzzo foi contemporâneo de Augusto Marques Júnior, Henrique Cavalleiro, Mário Navarro da Costa, Raymundo Cela e Presciliano Silva. Depois de um longo período distante dos artistas e dos amigos, vivendo só no seu atelier na Rua Barão de Itambi, no Rio de Janeiro, silencia aos 96 anos de idade.



 



O quadro “Aspeto de Ouro Preto” retornou ao Brasil em 1989 e, agora, julho de 2013, setenta e um anos decorridos desde que foi criado, vai ao encontro de outras obras de Gotuzzo para permanecer, definitivamente, na casa que o pintor mostrou sonhar quando confidenciou em uma das suas cartas:“É meu desejo que quando a Escola de Bellas Artes tiver local adequado e meios para manter, se instale aí uma pequena ‘coleção Gotuzzo’, com alguns quadros que possam caracterizar meu modesto trabalho.” 



 

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