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Poesias-->RAINHA CALUNGA -- 11/03/2003 - 00:14 (Alisson Castro) |
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Boneca Calunga de fitas anis,
Do vale do fogo, das brumas febris,
Mulher Pernambuco, Recife aprendiz,
Menina brincante, mulher Elefante, de cera errante,
Boneca dos laços dos teus pastoris.
Criança dos contos, mulata dos montes,
Das serras, das águas, do maracatu.
Do baile das contas, das fitas, madeiras,
Das terras primeiras do nosso brinquedo.
Quisera ser vivo, criar um soneto,
Beijar um livreto, cantar um cordel.
Quisera ter força de lanças da Mata,
Quisera ter graça de teus mamulengos.
Beijara teus pés, ó, Rainha Calunga.
Me enche de culpa e de obrigação.
Boneca Madeira, me alimenta com um prato
De baque virado, de cravos e canas.
De cana caiana, frutas da mata,
Estás desenhada de cera e de luz.
Boneca Faceira, seduz minha praça,
Reduz a desgraça do povo cansado.
Te vi escondida em nosso subúrbio,
Coberta de tudo que é esplendor.
Trajada de gente, oculta semente,
Dos desejos que a gente não abandonou.
No bairro escuro, tão pobre, menino,
Criaste a vontade de teus seguidores,
Deixaste na face o rastro do dia,
Da tua alegria, dos teus orixás.
Levaste a tristeza, cobriste o pranto,
Lavaste com cantos a mágoa sentida.
Trouxeste a batida de tuas alfaias,
Rodavas as saias de tuas meninas.
Boneca, quisera ser teu amante,
Mas sou teu criado, teu servo Arlequim.
Boneca, quisera que em tua jornada
Sobrasse uma estrada, um ponto pra mim.
Quisera ser livre, escravo liberto,
Quisera, de certo, ser um Canindé,
Quisera ter cera e tua madeira,
Quisera ser mito do teu afoxé.
Alisson Castro.
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