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Artigos-->Como o Diabo Gosta -- 17/03/2002 - 22:25 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




De repente, tudo começou a dar errado. Um tombo, na calçada, logo ao sair de casa. O pneu do carro estourou e, por isso, cheguei atrasado no trabalho. Começou a chover. Levei um banho de lama, próximo à entrada no escritório. Sentei à mesa. Lá estava uma carta de cobrança, malcriada. Não me lembrava que tinha sido fiador. Duas horas na fila de banco, e veio a surpresa: saldo devedor: depositaram o pré-datado antes do tempo. Reclamei. Ficaram de resolver amanhã, pois o expediente no banco havia encerrado.



No outro dia, lembrei-me do Carlos, um amigo vidente. Por telefone, ele me disse, após ouvir minhas reclamações: - É coisa dele! Dele quem? Do Coisa Ruim. Você precisa se cuidar! Muita reza, e reza forte! Não pensei duas vezes. Decidi encarar o problema de frente. Cara a cara. De homem prá homem; quer dizer: de homem pro Coisa Ruim!



Procurei seu telefone no catálogo e, claro, não achei. Nem na letra C e muito menos na letra D; o Coisa Ruim ou o Diabo, como queiram, só poderia estar num desses inferninhos. Fui até lá. No mais conhecido e freqüentado. Ele não estava, mas consegui o número do celular. Liguei.. Expliquei tudo. Cada detalhe. Mas ele ponderou. Apelou para o bom senso. Disse-me que não ia ficar bem se ele resolvesse atender às minhas reivindicações. Que achavam até justas, mas, por questão de ética, nada poderia fazer. Seria um duro golpe em sua má reputação.



Tentei mostrar-lhe as vantagens da minha proposta. Que ele poderia encarar aquele fato como um desafio. Talvez pudesse enriquecer seus métodos de trabalho. Ele acabou aceitando. Marcamos um encontro. Disse-lhe que o que ele vinha fazendo ultimamente era muito sem graça. Coisa superada, até. Que o mundo estava noutra, em busca da paz e da harmonia entre os povos.



Ponderei que ele precisava mudar de vida! Que essa história de viver perseguindo os servidores aposentados, ameaçando cobrar duas vezes a contribuição previdenciária, a bem da verdade, mais ajudava ao governo do que, propriamente, atrapalhava os aposentados. Ed que não ficava bem para um diabo ajudar o governo. Qualquer governo. Até mesmo um governo ruim. Questão de concorrência com o próprio governo. Lembrei-lhe que o verbo ajudar não deveria constar do dicionário de um diabo.



E mais: aquela história do apagão ficou muito mal contada. Mas que foi um trabalho de mestre, lá isso foi! Não sei como você conseguiu aquilo. Mas a verdade é que o presidente teve um lapso de memória, e não fez investimentos para ampliação da nossa matriz energética. O fato é que tudo aconteceu como você esperava: sobrou para a população, como sempre, que se virou como pôde. Desligou o freezer, trocou lâmpadas, proibiu o uso do ar condicionado, diminuiu o banho quente, colaborou de várias maneiras. Mesmo a contragosto. E o consumo de energia acabou caindo.



Resultado: prejuízo para as empresas distribuidoras. E o que fez o presidente? Aumentou o preço da energia para manter o lucro das empresas. E vieram as chuvas. E os aumentos também. Um golpe de mestre! Só da cabecinha privilegiada de um Diabo poderia sair esta pérola de malvadeza.



Igual a esse só aquele do painél eletrônico do Senado. Você deve ter se divertido um bocado. E a greve dos professores? Ninguém se entendia; não se sabia quem era o mais prejudicado. Se o governo, se os professores, se os alunos, se os pais ou se a candidatura do Ministro da Educação, que foi pro brejo, junto com os mosquitos da Dengue. Nessa você pegou pesado!



E tem mais: a gozação com a correção da tabela do imposto de renda, é de arrepiar. Tabela, aliás, que não se corrigia há sete anos. De repente, você sopra nos ouvidos dos parlamentares que aprovam a correção pela metade, sem falar nos atrasados. Golpe duplo: no governo, que deixou de ganhar mais um pouco; e na população, que passou a perder a correção.E quando todo mundo pensava que o assunto estava encerrado, vem você e inventa uma história de que o presidente iria vetar o projeto e, na mesma hora, encaminhar medida provisória, aumentando o tamanho da facada. Sobrando, desta vez, para os pequenos empresários.Você não tem mesmo jeito! Não se contenta com pouca coisa.



A flexibilização da CLT foi outro grande golpe. De uma só tacada você começou a apagar a Era Vargas, sem precisar morrer para entrar para a história. Suprimiu direitos dos trabalhadores - com o apoio de sindicalistas - e, de quebra, iniciou o processo de desgaste e desmonte da Justiça do Trabalho. Só que, também nesse caso, a ajuda ao governo pegou mal. O que é que você está armando ? De olho nas eleições ? ou pretende ser nomeado para a uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas ? Teve dedo seu na candidatura da Roseana ? Vê lá o que vai arrumar com o Serra!....



Quer um conselho? Vocês, diabos, não são burros. Isto já está mais do que provado. É só lembrar o caso das duas torres em Nova York. Acho que é hora de você mudar de vida. Você deveria, inclusive, submeter-se ao vestibular para o Curso de Direito, numa faculdade lá do Rio de Janeiro. Isso mesmo, igual ao padeiro analfabeto, lembra?. É fácil passar na prova. Aprendi vendo um programa de televisão muito famoso. Basta marcar, na seqüência, as alternativas A, B, C e D, até o final da prova. Depois, nem precisa participar da prova de redação. Já pode ser considerado universitário.



Depois, é só apelar para seus amigos influentes - que são muitos - na Câmara e no Senado. Alguns, até, sangue do seu sangue. Seus parentes. É mamão com mel. Você assume qualquer cargo comissionado, em qualquer ministério; E não precisa comprovar experiência e nem participar de concurso público. Também não precisa comprovar escolaridade. Tudo dentro da lei. Vai ganhar um excelente salário e assentar as bases para sua candidatura. Logo estará no Senado ou na Câmara dos Deputados. Poderá, também, concorrer a qualquer cargo eletivo. E quem sabe, um dia, será um Senador Vitalício?. O importante é estar no poder



Mas, depois de refletir no que tinha dito, acabei ponderando: menos o cargo de Presidente da República. Presidente não!... Ninguém iria suportar tanta maldade junta!



Despedimo-nos neste ponto. Confesso que não senti muita firmeza da parte do Coisa Ruim. Cheguei a desconfiar do seu olhar triste e compenetrado. Em todo o caso, nunca é demais lembrar que seguro morreu de velho; é bom estar de olhos bem abertos. Eles andam soltos por aí e prometem tudo! Até dinheiro para a campanha que ninguém sabe de onde saiu.



E do jeito que andam as eleições, verdadeiro mercado de produtos descartáveis, com propaganda enganosa, correremos sempre o risco de comprar produtos de má qualidade ou com validade vencida, sem poder trocá-los, pelo menos, durante quatro anos. Do jeito que o diabo gosta. Boas eleições e bons votos. Isto é, se até lá ainda sobrar algum candidato. Depois que o Coisa Ruim apresentar todos os seus dossiês..Do jeitinho que o diabo gosta.





Domingos Oliveira Medeiros

17 de março de 2002 – com atualização



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