Usina de Letras
Usina de Letras
161 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50480)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->A Defesa Aeroespacial da Região Amazônica -- 16/01/2012 - 17:06 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"A Defesa Aeroespacial da Região Amazônica"
 

Texto e imagens da palestra que proferi, na Escola Superior de Guerra, por ocasião da realização do Seminário sobre a Amazônia, coordenado pelo Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES).
Cordialmente,
Cel. Cambeses

* Preocupemo-nos com a nossa Amazônia, antes que seja tarde demais...

 

*********************

PALESTRA NA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA “SEMINÁRIO SOBRE A AMAZÔNIA”

A DEFESA AEROESPACIAL DA REGIÃO AMAZÔNICA

Cel. Av. Manuel Cambeses Júnior

Em primeiro lugar, desejamos expressar a nossa subida honra e mui grata
satisfação de poder aqui comparecer, nesta prestigiosa e tradicional Casa de
Altos Estudos, para falar-lhes, sucintamente, sobre um tema que, para nós
brasileiros, além de momentoso, consideramos muito significativo e atraente
por evidenciar a sua magnitude e a sua importância para a segurança da
navegação aérea, proteção do ecossistema e, principalmente, a defesa da
base territorial e do espaço aéreo sobrejacente à Região Amazônica.
O tema que iremos abordar intitulado “A Defesa Aeroespacial da Região
Amazônica”, contempla a trilha temática proposta e orientadora para a
consecução deste Seminário “A Amazônia Brasileira no Século XXI”, por
entendermos que a implementação do ambicioso e criativo Projeto SIVAM
constitui importante e destacado marco no avanço científico-tecnológico,
além de contribuir, significativamente, para a segurança da navegação aérea
na Região Amazônica, a proteção do meio-ambiente e o incremento do
Poder Aeroespacial da Nação brasileira. Ademais, faz-se mister destacar a
importância do SIVAM como pólo catalisador e contributivo para a integração
dos países integrantes do arco amazônico, no que concerne aos fatores
segurança da navegação aérea e policiamento do espaço aéreo contÍguo às
nossas fronteiras.
3
Para a apresentação desta palestra, nos pautaremos no seguinte sumário:
A maior e mais diversificada floresta tropical do planeta, que abrange uma
área de mais de cinco milhões de quilômetros quadrados, 60% de todo
território nacional, que guarda em suas entranhas uma enorme diversidade
de fauna e flora, reservas minerais abundantes e hidratada pelos maiores
mananciais de água doce do mundo, não está mais desprotegida. A partir do
ano de 2002, com a inauguração do Sistema de Vigilância da Amazônia –
SIVAM, e de uma imensa rede de monitoramento e controle do espaço
aéreo, as agressões que vêem sendo perpetradas ao ecossistema
amazônico ao longo de décadas, bem como o tráfego ilícito de aeronaves
cruzando a vastidão da Amazônia, não mais ficarão sem a devida deteção.
4
O passo inicial para a implementação do ambicioso projeto foi dado em 1990
quando o Ministério da Aeronáutica, a Secretaria de Assuntos Estratégicos e
o Ministério da Justiça apresentaram à Presidência da República uma
Exposição de Motivos objetivando criar um complexo sistema que garantisse
maior segurança à navegação aérea e, concomitantemente, realizasse uma
efetiva vigilância e proteção da Amazônia brasileira. Nascia, assim, o Projeto
SIVAM com a iniciativa do Governo Federal ao declarar sua firme intenção
de assumir o papel de protetor da grande floresta.
O contrabando e tráfego de drogas utilizavam a porosidade de nossas
fronteiras trazendo armas, substâncias estupefacientes e produtos industriais
que escapavam das taxas governamentais normalmente aplicadas nos
pontos de entrada do País. Carregamentos dos mais diversos tamanhos
entravam pelo ar e pelos rios da região, desaparecendo rapidamente na
imensidão territorial até reaparecerem novamente nas cidades grandes ou
buscando portos de saída para os promissores mercados norte-americano e
europeu. Em contrapartida, produtos amazônicos dos mais diversos, desde
pássaros raros, peixes exóticos e animais tropicais, até à madeira de lei e os
milhares de produtos da biodiversidade da floresta, eram retirados do País
sem benefício algum para os seus habitantes.
Depreende-se que, diante dessa problemática, o Governo brasileiro
passasse a dispor de uma capacidade de coordenação de vigilância
integrada, reunindo todos os seus meios capazes de coibir ações ilícitas,
tanto na Região Amazônica, quanto dela provenientes.
O desconhecimento de boa parte da floresta amazônica também era uma
preocupação para os integrantes da coalizão que lutava para implementar o
projeto junto à Presidência da República. Durante séculos, a população
brasileira, à margem das pesquisas realizadas por renomados cientistas das
mais diversas especialidades, pouca idéia fazia das imensas riquezas
existentes no meio da selva. Fazia-se necessário o conhecimento da região
para que a coleta de informações científicas, que diversas empresas e
nações vinham patrocinando, revertesse em benefício dos habitantes locais.
Para tal, era preciso que o Brasil conhecesse a Amazônia como nunca o
fizera antes.
Finalmente, o programa deveria trazer progresso, desenvolvimento e
conforto para a crescente população da região, os amazônidas. A Nação,
que tanto esforço fizera, durante tantos anos, para chegar até aos seus mais
distantes habitantes, nas asas da Força Aérea Brasileira, não os havia
esquecido. Agora, com a tecnologia a seu lado e com a disposição de
abraçar a grande região verde, chegava para integrar ainda mais o homem
da Amazônia ao restante País.
Em 21 de setembro de 1990, era dada a partida para a implementação do
ambicioso projeto, através de Exposição de Motivos aprovada pelo
Presidente da República. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República deveria preparar um sistema nacional de
coordenação, integrando todos os órgãos governamentais numa rede
5
usuários únicos de grande eficiência. A informação gerada pelos meios do
programa seria distribuída para cada entidade do Governo de acordo com
suas necessidades específicas.
A Aeronáutica, velha conhecedora da região, tornou-se a responsável pela
implantação e pelo gerenciamento dos vetores do projeto. Garantiria também
o seu funcionamento. Já o Ministério da Justiça proporcionaria o respaldo
legal ao projeto, possibilitando a totalidade de ação aos meios capazes de
coibir os atos ilegais perpetrados na região.
Até alguns anos atrás, os pilotos militares costumavam observar pequenos
aviões voando livres sobre a selva, na maioria das vezes transportando
contrabando e drogas, sem muito poder fazer. Também era muito comum
nossos cientistas constatarem que diversos produtos estrangeiros possuíam
fórmulas com componentes somente obtidos através de recursos naturais da
selva amazônica . Ademais, os nossos diplomatas estavam cansados de
escutar que seu País era o causador dos maiores infortúnios ecológicos do
planeta, devido à ação predatória de garimpeiros e criminosas queimadas
extensivas da selva tropical.
No que concerne à navegação aérea, carecia a Amazônia de um melhor
monitoramento das aeronaves que cruzavam seu espaço aéreo. Devido às
longas distâncias a serem percorridas, muitas vezes os pilotos ficavam à
mercê da própria sorte, por não disporem de informações correntes e
informações meteorológicas altamente precisas. Os auxílios à navegação
sofriam um grande espaçamento, o que exigia, principalmente para as
aeronaves de menor porte e escassos recursos de comunicação/navegação,
um permanente contacto com o solo de modo a efetuar as devidas correções
de rumo, carreando sérios transtornos aos tripulantes e comprometendo
seriamente a segurança de vôo.
Em que pesem essas enormes dificuldades, a Força Aérea Brasileira sempre
marcou presença em todos os rincões da imensidão amazônica, através das
linhas do Correio Aéreo Nacional e do espírito desbravador e patriótico de
seus tripulantes.
6
Para liderar as ações que levariam à implementação do Projeto SIVAM e do
Sistema Nacional de Coordenação, cujo nome foi logo modificado para
SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia –, a Aeronáutica escolheu
excelentes oficiais, dotados de profundos conhecimentos técnicos e elevado
espírito participativo para deslanchar os trabalhos. Devido a essas
benfazejas providências, e a disponibilidade dos recursos alocados, sem
solução de continuidade, cinco anos após o início dos trabalhos o SIVAM
estava em condições de funcionar.
Ao todo o Projeto consumiu cerca de US$ 1,4 bilhão, captados no exterior a
título de financiamento pagável em cerca de vinte anos. É evidente que o
grande montante financeiro envolvido na compra de equipamentos e serviços
também envolveu grandes empresas, nacionais e estrangeiras, dispostas a
obter participação no fornecimento de meios de alta tecnologia.
Desconhecendo as nuances e até mesmo a importância do projeto para o
crescimento do País, a própria opinião pública nacional se mostrava indecisa
diante da polêmica que este gerava nas mais diversas camadas da
sociedade brasileira. Diante de todas as intempéries, a Aeronáutica mantevese
firme, empurrando o conceito SIVAM para a frente, passo a passo,
cumprindo cada meta de seu cronograma até que o Projeto estivesse
inteiramente aprovado, definido, compreendido e pronto para ser levado a
cabo.
O principal objetivo do Projeto SIVAM é levar o Governo Federal como um
bloco compacto, ativo e presente na Amazônia brasileira. O que possibilita
essa presença é a tecnologia de informações existente a partir da última
década. Antes, a transmissão de informações e conhecimento exigia uma
forte presença física que a Nação Brasileira se via impossibilitada de prover
devido às constantes privações orçamentárias a que estava exposta. Até
então, a presença física do País na Amazônia se fazia primordialmente pelas
Forças Armadas, que assumiam um importante papel pioneiro. Com o
advento de avançados meios de telecomunicações e a chegada da era
digital, as distâncias diminuíram, capacitando a transmissão em tempo real
de dados e informações com grande facilidade. O SIVAM aproveitou a
existência dessas tecnologias para integrar os principais órgãos do Governo
com responsabilidades na região, num único esforço.
7
Ao longo do território amazônico foram instalados 25 sítios dotados de
equipamentos de telecomunicações, estações meteorológicas de superfície e
de altitude, radares móveis e fixos de vigilância e estações providas de
transmissores VHF. Chamadas de Unidades de Vigilância, estão localizadas
nas cidades de Boa Vista (em Roraima), São Gabriel da Cachoeira,
Tabatinga, Manaus, Manicoré, Tefé e Einurepê (no Amazonas),
Jacareacanga, Cachimbo, Belém, Santarém, Marabá, São Félix do Xingu e
Conceição do Araguaia (no Pará), Santa Isabel do Morro, Sinop e Porto
Esperidião (no Mato Grosso), Porto Velho, Vilhena e Guajará-Mirim (em
Rondônia), Rio Branco e Cruzeiro do Sul (no Acre), Tiriós e Macapá (no
Amapá) e São Luís (no Maranhão).
Além das Unidades de Vigilância, o SIVAM montou, também, diversas
Unidades de Telecomunicações equipadas com aparelhos capazes de
transmitir dados de voz, texto e imagem para os diversos usuários do
sistema. Esses dados, também produzidos e consumidos pelos órgãos
usuários compostos de entidades governamentais locais, são processados
por três Centros Regionais de Vigilância (CRV) localizados em Manaus,
Belém e Porto Velho, que distribuem informações pertinentes aos órgãos
regionais de governo, além de repassarem a totalidade dos dados adquiridos
para o Centro de Coordenação Geral de Brasília, o verdadeiro centro
nervoso, que garante o fluxo de informações gerados pelo sistema para os
principais órgãos federais. O SIVAM tem a capacidade não somente de
monitorar, coletar e processar dados dos mais diversos da região, mas
poderá atuar com presteza quando necessário. A aquisição de dados é
proveniente de um grande número de sensores espalhados pela mata, nos
céus e no espaço. Dois tipos de informações interessam ao Sistema: as
ambientais – que visam construir uma base de dados que permita conhecer
a fundo o delicado meio ambiente da região – e os dados de vigilância, que
permitem que os usuários do sistema consigam monitorar as ações que
porventura estejam ameaçando a soberania do País na região.
Para coletar dados ambientais, o SIVAM conta com satélites (TIROS,
GOES/METEOSAT, SCD-1, LANDSAT, SPOT, CBERS e ERS-1) atuando no
espaço e ligados diretamente aos CRV´s locais ou ao INPE, Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais. Conta também com aeronaves
especialmente equipadas com radares de abertura sintética e com sensores
multiespectrais. Estes atuam em altitudes menores, captando imagens
debaixo de camadas de nuvens tão comuns no céu da Amazônia. Dez
radares meteorológicos são capazes de monitorar formações nas vinte e
quatro horas do dia e da noite, enquanto estações de coleta de dados de
altitude e superfície garantem a reunião das mais variadas informações.
8
Os outros dados coletados e controlados pelo Sistema são os de vigilância,
que permitem um aumento do controle da região por parte do Governo.
Estes, também provenientes de satélites e aeronaves, são complementados
por equipamentos de exploração de comunicações e de radiodeterminação,
que permitem que as autoridades acompanhem, além dos movimentos
aéreos, terrestres, marítimos e fluviais, as comunicações rádio de entidades
ilegais atuando na Região Amazônica.
Integrados por 936 kits usuários, compostos de microcomputadores,
aparelhos transmissores de Fax e antenas de transmissão via satélite, esses
dados, quando reunidos, apresentam um riquíssimo quadro da região, que
pode ser acessado a qualquer momento por qualquer órgão com interesses
no local, seja ele o Exército, a Marinha, a Força Aérea, a FUNAI, o IBAMA, a
Polícia Federal ou os governos locais, em níveis estaduais e municipais.
9
A Implementação do Controle de Tráfego Aéreo
Até bem pouco tempo, havia poucos lugares no planeta onde as aeronaves
não podiam ser totalmente monitoradas de terra: os oceanos, partes dos
principais desertos do planeta, as expansões geladas do Ártico, da Antártica
e a Região Amazônica.
Sobrevoar a selva amazônica equivale a sobrevoar os oceanos. Existem
poucos locais onde efetuar um pouso de emergência. As pistas construídas
na selva aparecem tal qual ilhas no meio do mar, e são uma visão
abençoada por pilotos com problemas em suas aeronaves. Nos últimos
cinqüenta anos, a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica –
COMARA, conseguiu espalhar mais de uma centena de pistas por toda a
Amazônia, reduzindo imensamente as distâncias entre uma aterrissagem e
outra. Esse árduo trabalho aperfeiçoou a segurança de vôo na região,
oferecendo um maior número de opções para os pilotos, em caso de
emergência. No entanto, apesar de o Brasil estar coberto pela rede de
radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego
Aéreo – CINDACTA –, a Amazônia permanecia praticamente às escuras no
que concerne ao controle de tráfego aéreo e da proteção ao vôo. Com a
ativação do SIVAM, esta enorme lacuna foi integralmente ocupada. Radares
fixos e transportáveis, radares aeroembarcados, o sistema de monitoramento
meteorológico provendo dados sobre as condições do espaço aéreo em
tempo real, equipamentos de proteção ao vôo e aeronaves destes sistemas
interagem de tal maneira que garantem que espaço aéreo sobre a Amazônia
possa ser monitorado ininterruptamente, transformando-se em confiável área
de tráfego aéreo de aeronaves de todos os tipos.
10
O sistema de controle do tráfego aéreo foi integrado aos CINDACTAS I e III,
baseados em Brasília e Recife, respectivamente, garantindo uma integração
de dados capaz de realizar em curto prazo o monitoramento de uma única
aeronave durante seu tráfego, na totalidade do território nacional.
As informações colhidas por esse sistema estarão disponíveis nos Centros
Regionais de Vigilância de Manaus, Belém e Porto Velho e no Centro de
Controle Geral, em Brasília. Ademais, foram implantados quatro sistemas de
pouso por instrumentos ILS – Instrument Landing System – nos aeroportos
de Boa Vista, Santarém, Cuiabá e Porto Velho, o que aumenta,
enormemente, a segurança nas operações de aproximação final e pouso,
uma vez que esses sistemas guiam as aeronaves, eletronicamente, para a
aterrissagem, principalmente em situações de vôo noturno e/ou de mau
tempo.
Para garantir o perfeito funcionamento de todos os equipamentos do
SIPAM/SIVAM, foram adquiridas quatro aeronaves HS-800XP equipadas
com painéis automatizados, que lhes permite aferir a exatidão dos sinais
emanados dos equipamentos no solo sem a necessidade de deslocamento
de equipes autônomas em terra. Operados pelo GEIV – Grupo Especial de
Inspeção em Vôo –, os quatro novos aviões garantirão que o sistema estará
sempre com a manutenção em dia, contribuindo para a segurança dos
aeronavegantes sobre a selva. Com a chegada do SIVAM, voar sobre a
Amazônia repentinamente deixa de ser uma aventura para se tornar uma
rotina segura. Isto acarreta maior segurança para os grandes jatos que
cruzam a região a milhares de metros de altura, reduz os altos custos
cobrados às companhias aéreas que atravessam áreas não monitoradas,
aumenta a capacidade de vigilância de tráfego ilícito e irregular – que, além
de ameaçar a integridade econômica do País, é um risco nas próprias
operações aéreas – e garantem até uma melhor condição psicológica,
transmitindo segurança aos pilotos que sobrevoam o que até pouco tempo
atrás era chamado de Inferno Verde.
11
As Asas do SIVAM
Após o advento do transporte aéreo, trazido inicialmente pelo Correio Aéreo
ao longo dos anos, a Amazônia, finalmente, integrou-se eletronicamente. O
aumento da capacidade de conhecimento científico da região, o
monitoramento do meio ambiente e das ações ofensivas à economia do País
e a capacidade de agir contra movimentos ilícitos com maior presteza,
certamente irão modificar dramaticamente a vida na grande floresta. O
aspecto mais visível do Projeto SIPAM/SIVAM, no entanto, está nos céus da
Amazônia.
Ao invés de solicitar ajuda externa para enfrentar a ameaça do narcotráfico e
do contrabando, o Brasil resolveu agir. A Força Aérea Brasileira, há muito
tempo atuante na Amazônia, passa a operar uma impressionante gama de
aeronaves, visando ao efetivo controle aéreo da região, o que certamente
afetará a excessiva liberdade de uma significativa soma de contrabandistas
aéreos que até bem pouco tempo se beneficiavam da porosidade da enorme
fronteira.
Cinco aeronaves de vigilância aérea, do tipo EMBRAER ERJ-145SA
AEW&C, designados R-99 pela Força Aérea Brasileira, fazem o trabalho
complementar dos 25 radares de solo, que estão trazendo uma efetiva
cobertura dos céus da Amazônia. Todas as aeronaves sobrevoando a região
serão monitoradas, seus planos de vôo confirmados e autorizados. No
entanto, mesmo com esta capacidade, qualquer aeronave sobrevoando a
região em baixa altitude passará despercebida ao controle.
A maior parte do tráfego de aeronaves de menor porte envolvidas em
atividades ilícitas – que vão desde o tráfico de entorpecentes ao contrabando
de armas e eletrodomésticos para o mercado interno e ouro, minerais
preciosos, dinheiro em espécie, animais ornamentais e matéria de valor
científico para o exterior – utiliza o vôo em baixa altitude para fugir da
vigilância exercida pelo Controle.
12
Destes, os mais perigosos são os traficantes de drogas que há muitos anos
vêm buscando mais rotas de escoamento através do Brasil, fugindo do
bloqueio cada vez maior das autoridades dos países produtores: Colômbia,
Peru e Bolívia. A droga, em sua maior parte cocaína processada, é
transportada em aeronaves de pequeno porte através da fronteira norte,
procurando chegar a Manaus, a Belém e às cidades do Sudeste brasileiro,
onde poderão ser embarcadas para os principais mercados compradores na
Europa e nos Estados Unidos. Voando a poucos metros das copas das
árvores, em mau tempo e muitas vezes sob o manto da noite, esses aviões
são alvos praticamente impossíveis de serem detectados pelos radares em
terra. Mas não pela aeronave R-99. Dotada de um radar planar
aeroembarcado do tipo OS-890 Erieye, o R-99A pode voar em completo
silêncio, buscam alvos de cima para baixo, cobrindo assim todas as alturas
de seu nível de vôo até ao solo.
Qualquer aeronave voando dentro de seu raio de detecção de cerca de 350
quilômetros é interpelada caso seu plano de vôo não seja confirmado, ou se
estiver numa atitude suspeita. Em sua cabine, três operadores dos sistemas
terão controle completo de enormes pedaços de céu à sua volta. Além do
retrato-radar, possuem à sua disposição sistemas de inteligência de sinais
que lhes permitem monitorar diversas freqüências de comunicações, assim
como as emissões eletrônicas que, não autorizadas, são abundantes na
Amazônia brasileira. O avião, um ERJ-145 da versão ER – ou Extended
Range – Alcance Estendido, transporta o radar de cerca de 1.300 kg sobre a
fuselagem. Na cabine, além dos dois pilotos e dos três operadores de
consoles, o avião pode transportar uma tripulação-reserva composta de
cinco homens em confortáveis acomodações, permitindo longas etapas de
missão.
Ocorriam ao longo dos cerca de 16.000 quilômetros de fronteira brasileira
mais de 3.000 movimentos aéreos não autorizados por dia. Estes iam do
fazendeiro, cuja pista se encontra a menos de 15 minutos de vôo da fazenda
de um amigo do outro lado da fronteira, aos envolvidos em atividades que
lesam a economia nacional. A maioria não emite plano de vôo, que é um
documento de suma importância para as autoridades que controlam o
13
tráfego aéreo sobre o País. Quando uma aeronave R-99A detecta um avião
sem plano de vôo em sua área de atuação, imediatamente interpelará sua
tripulação, a fim de determinar a sua intenção.
Se estes atuarem de forma suspeita ou se tentarem fugir da ação das
autoridades, a aeronave radar imediatamente acionará os aviões Embraer
EMB-314 ALX, designados A-29 pela FAB. Estas robustas aeronaves,
desenvolvidas a partir do famoso treinador EMB-312 Tucano, permitem que
a Força Aérea opere com total eficiência na região. Dotados de uma versão
mais avançada do motor PT6A, além de uma hélice Hartzel de 5 pás, os A-
29 apresentam um desempenho operacional muito superior ao do Tucano T-
27 convencional. Ao mesmo tempo, são capazes de operar na faixa de
performance das aeronaves de aviação geral normalmente utilizadas pelo
narcotráfico. Os A-29 estão equipados com aviônica digital de última geração
compatíveis com aparelhos de visão noturna, equipamento de visão
infravermelha FLIR Star Safire, o que lhes permite operar de noite, fechando,
desta forma, a atuação dos tráfegos ilícitos.
No vizinho Peru, o Governo tem-se esforçado (com empenho) para coibir
vôos do narcotráfico utilizando aeronaves EMB-312 Tucano especialmente
equipadas e armadas para a missão. Nos últimos anos, a Força Aérea
Peruana já abateu mais de cem aeronaves do narcotráfico que não acataram
as instruções de se render ou que adotaram atitudes hostis contra as
aeronaves do Governo. Com o incremento das atividades da FAP, os vôos
do narcotráfico começaram a ficar cada vez mais arriscados, o que
inflacionou sobremaneira o salário dos pilotos que se dispunham a realizar
vôos em vagas nas quais somente algumas aeronaves carregavam drogas,
enquanto outras serviam para confundir as autoridades e pousavam em
diversas pistas espalhadas pela selva da Amazônia peruana. Logo a FAP
encontrou meios de combater essa tática, aumentando suas patrulhas
aéreas e intensificando seu trabalho de inteligência no solo. A reação do
narcotráfico foi começar a voar à noite, o que, por sua vez, exigiu uma
adequação da Força Aérea Peruana ao novo desafio.
Conhecedora dos detalhes desta verdadeira guerra silenciosa que se está
travando sobre as selvas do Norte do Continente, a Força Aérea Brasileira
procurou cercar-se de todas as tecnologias que permitem evitar que as rotas
14
do narcotráfico elejam o território brasileiro como opção à Saída Norte rumo
aos Estados Unidos e à Europa. Os A-29 estão armados com duas
metralhadoras de 12.7 mm nas asas, canhões GIAT NC621 de 20 mm em
casulos subalares, mísseis ar-ar infravermelhos CTA/Mectron MAA-1
Piranha, além de poderem carregar bombas convencionais, guiadas e lançagranadas,
o que permite que também possam atuar contra forças militares
irregulares na eventualidade de uma transgressão da fronteira por grupos
guerrilheiros.
Um avançado sistema de transmissão de dados permite que essas
aeronaves operem em total silêncio eletrônico, suas comunicações sendo
transmitidas para os R-99 e para o solo sem que possam ser interceptadas.
Baseados em Manaus, Boa Vista e Porto Velho, mas podendo ser
deslocados para diversos aeródromos da região – o que dificulta a
observação de suas atuações por olheiros no solo – os A-29 são as garras
do SIPAM/SIVAM, fazendo os céus da Amazônia brasileira local pouco
interessante para o narcotráfico.
Entretanto, esses poderosos grupos criminosos poderiam tentar ingressar
em território nacional através dos rios ou, ainda, abrir clareiras para a
construção de laboratórios e depósitos na selva do lado brasileiro da
fronteira. Novas pistas clandestinas, que já se espalham às centenas pela
Amazônia podem ser abertas com relativa facilidade, dificultando
sobremaneira a ação das autoridades envolvidas no mapeamento das áreas
de atuação dos vôos clandestinos.
15
Para combater essas ameaças, a FAB conta com três aeronaves de
sensoriamento remoto Embraer ERJ-145RS designadas de R-99B, dotadas
de um radar de abertura sintética Mac Donald Dettwiler IRIS capaz de gerar
imagens em três dimensões e de poder localizar alvos móveis no solo com
grande facilidade a até 100 quilômetros de distância. Instalado sob a
fuselagem, vasculha o solo, sendo capaz de realizar o mapeamento do
terreno com precisão muito superior à dos satélites comerciais atualmente
utilizados, provendo inteligência detalhada sobre as bases de apoio do
narcotráfico no solo. Equipamento de infravermelho FLIR Star Safire e
consoles de monitoramento eletrônico permitem que atue em complemento
aos R-99A, cobrindo todas as possíveis áreas de atuação de grupos que
apresentem qualquer tipo de ameaça ao País. O R-99B também utilizará os
sensores para a cartografia, uma vez que existem áreas inteiras da
Amazônia brasileira que não constam de mapas detalhados. Em dez dias de
operação, os R-99B da FAB serão capazes de mapear uma área de cerca de
1,5 milhão de quilômetros quadrados.
Na atualidade, a totalidade da Amazônia brasileira está conhecida na escala
1/100.000, transformando em realidade o antigo sonho das autoridades
brasileiras de conhecerem integralmente a Região Amazônica.
Scanners multiespectrais, operando em bandas que vão do visual ao
infravermelho termal, possibilitarão a análise científica e o acompanhamento
da situação do meio ambiente através de mapas temáticos cumulativos que
permitirão que sejam detectados fenômenos como o desflorestamento, as
queimadas, os incêndios acidentais, a mudança dos leitos dos rios, os efeitos
da diminuição dos níveis de ozônio na atmosfera devido à ação desenfreada
das indústrias dos países do Hemisfério Norte e a ocupação predatória de
regiões inteiras da Amazônia.
16
Mais um passo
Desde os heróicos vôos dos pioneiros do Correio Aéreo Militar, que já
visualizavam a necessidade de buscar o interior do Brasil, a Força Aérea
Brasileira sempre esteve presente na Amazônia. Mesmo durante a Segunda
Guerra Mundial, o Correio Aéreo Nacional continuou voando para levar
alento às populações mais distantes dos centros urbanos. Nos anos
cinqüenta e sessenta do século passado, a Força Aérea incrementou o
Correio Aéreo Nacional, chegando à fronteira e construindo pistas
incansavelmente. No final do século XX, aumentou sua presença na região,
consolidando a atuação do País junto aos brasileiros mais necessitados.
Nomes de cidades antes exóticos passaram a fazer parte do dia-a-dia de
milhões de brasileiros para quem a Amazônia era quase tão distante quanto
os países dos outros continentes. Pouco a pouco, as cidades do Planalto
Central começaram a crescer, levando cada vez mais brasileiros para o
interior. Com coragem e visão, os homens da Força Aérea encabeçaram o
Projeto SIPAM/SIVAM, iniciando mais um passo na sua missão de
desenvolver e proteger o País.
Respondendo aos que acusam o Brasil de atentar contra o meio ambiente
destruindo a Amazônia, o Governo vem mostrando, através deste portentoso
Projeto, que cuida de sua porção da Amazônia com dedicada atenção,
atentando para sua responsabilidade perante a natureza. Ao mesmo tempo,
organiza-se para desarticular as rotas do narcotráfico que violam o seu
território. Controlando a Amazônia, o Brasil começa a mudar o quadro de
espoliação de seus recursos naturais, perpetrado justamente por integrantes
de países mais verbais quanto a presença do povo brasileiro na região.
À frente do enorme esforço de garantir a soberania da Amazônia, está a
Força Aérea Brasileira. Levando alento às populações isoladas e carentes,
integrando a Nação, ressuprindo os pelotões de fronteira do Exército
Brasileiro, construindo pistas de pouso, aeródromos e aeroportos,
monitorando diuturnamente o espaço aéreo e garantindo a segurança dos
aeronavegantes que cruzam diariamente os céus da Amazônia, a FAB
continua cumprindo integralmente a sua importante e nobre missão.
17
Já estamos colhendo os bons frutos desse benfazejo e auspicioso Projeto.
A Amazônia brasileira tende a integrar-se harmoniosamente, de modo
participativo, com a nossa circunvizinhança – composta pelos países amigos
lindeiros com as fronteiras Norte, Noroeste e Oeste brasileira e que
conformam o arco amazônico. Ademais, aquela imensidão verde, de
dimensões continentais, finalmente está integrada ao restante do País, de
forma indelével, sem o receio de invasões indesejadas, com plena
capacidade de detecção das ameaças e de pronta-resposta militar àqueles
que se atreverem a penetrar indevidamente no território amazônico e/ou
violar o espaço aéreo sobrejacente àquela região, desafiando a soberania
brasileira.
Gostaria de lhes apresentar uma citação de Maquiavel que bem representa o
esforço e a dedicação na implementação do ambicioso e criativo Projeto
SIVAM.
18
Com a implementação do Projeto SIVAM, a Nação passou a contar com um
eficaz e portentoso sistema de detecção e alarme aéreo antecipado. Porém,
de nada servirá esse escuro eletrônico protetor e a recente implementação
da “Lei do Abate”, se a Força Aérea não dispuser de aeronaves
interceptadoras de alta performance e plenamente confiáveis para o
cumprimento de sua tarefa operacional de defesa aérea. Ademais, impõe-se
que tenhamos equipagens de combate proficientes e altamente adestradas
em missões de interceptação, de modo a prover total confiabilidade ao
sistema de defesa aeroespacial.
O Governo brasileiro não pode continuar postergando, infinitamente, a
aquisição de aviões de combate de primeira linha para a Força Aérea, sob
pena de comprometer seriamente o seu trabalho primacial: o de manter
incólume e inviolável o nosso espaço aéreo, notadamente a Amazônia
brasileira, alvo permanente de ilícitos de toda ordem e da cobiça
internacional.
Lembremo-nos das sábias palavras do insigne Barão do Rio Branco – O
Chanceler da Paz – que enfatizava, de modo contumaz, a imperiosa
necessidade de possuirmos um bom sistema de armas para respaldar as
nossas proposições no concerto das nações.
19
Senhoras e Senhores,
O tema que acabamos de apresentar, acima de tudo, é uma questão de
soberania nacional. Trata-se de um imperativo geopolítico e como tal deve
ser encarado.
Preocupemo-nos com a nossa Amazônia, com a premência que o assunto
requer, antes que seja tarde demais ...
Pela cordial atenção dispensada,o meu muito obrigado.
Cel. Av. Manuel Cambeses Júnior
FIM

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui