Vida Longa na Viabilidade
Arlindo Freire*
No mundo de hoje, os longos anos para a vida humana – começam a ser uma maior preocupação para os cientistas nos laboratórios, considerando a possibilidade da existência com mais de 100 anos, de maneira saudável e digna, mediante os necessários cuidados sobre a saúde nas mais diversas áreas, inclusive do meio ambiente, sem a degradação causada pelos núcleos populacionais.
As informações divulgadas pela mídia – assinalam que dentro de mais 20 anos, a ciência estará em condições de fazer com que o ser humano tenha recursos para viver por mais de um século, normalmente, sem as patologias mais comuns da atualidade, nos diversos países, especialmente as que atingem o sistema nervoso, depois de se armazenarem no cérebro.
Esta perspectiva faz lembrar outra questão relacionada com os indígenas, inclusive do nordeste brasileiro, mais precisamente do Rio Grande do Norte, onde no século 17, o cacique Janduí foi visto e conhecido nas terras do sertão, pelo escritor, desenhista, historiador e pesquisador Johan Nieurof, da Holanda – quando ele – índio tinha mais de 120 anos, em plena forma ou atividade.
Além disso, Janduí teve 50 mulheres e 60 filhos – todos nômades, vivendo em condições naturais da caça e pesca, tomando banhos pela manhã, nos rios, lagoas e riachos, dormindo embaixo das árvores, na areia branca, perto de fogueiras e fazendo longas caminhadas em viagens de 200 a mais quilômetros, durante todo o dia, sob sol e chuvas, pelas serras, planaltos e colinas., cantando e gritando para espantar os animais ferozes dos caminhos por onde ia passando com os demais.
- Aí, vida boa e mansa dos indígenas, comendo sem trabalhar!
Nada disso! Viviam de acordo com suas necessidades. Produziam para o seu consumo, sem a preocupação com o desperdício e riqueza, tampouco a inveja e ganância sobre o alheio, a exemplo do que acontece com a maioria das pessoas interessadas em ter o que está na moda da semana e mês, feita por outras de maiores recursos.
As mulheres trabalhavam na roça, diariamente, plantando e colhendo frutas e legumes para manter a família e dividir com quem não tinha condições de fazer o mesmo , por algum motivo superior, enquanto os homens – chefes de famílias, saiam para a caça e pesca, nas proximidades das tabas, de onde traziam a complementação alimentar para os dias e semanas, de inverno a verão, sempre fazendo o mutirão ou troca, bem como a doação de alimentos.
Quem viveu assim, sem poluição, grandes preocupações, estresses e bastante insegurança com o dia de amanhã – certamente teve os meios para a longa vida, com saúde adquirida da natureza, nas matas e florestas dos planaltos, montes e serras, com água corrente e limpa, mais o ar puro, seco e frio, aspirado todos os dias, desde a manhã, tarde e noite.
As especulações históricas de alguns autores assinalam que Janduí teria vivido por mais de 200 anos, apesar de não haver indicações, nem mesmo do ano em que, como e onde morreu sob as constantes e permanentes perseguições dos Homens Brancos que vieram da Europa – fazer a colonização do Brasil iniciada pelas colônias da região Nordeste, onde estava a área de ação dos nativos.
Pela diversidade escrita na história – sabemos que esse Velho Guerreiro manteve no decorrer da sua existência, a liderança em mais de 22 tribos, das quais 12 no RN, espalhadas pela área nordestina do sertão brasileiro, constituídas por mais de 10 mil homens e mulheres, chamados ou denominados Tapuia, da língua Tupi, considerados primitivos, baseados no nomadismo, sem moradias em Taba, mas em ranchos para alguns, daí surgindo a palavra Tapuia, isto é, morada coberta de palhas e galhos.
Sobre os conflitos intertribais dos índios Tarairiú, da tribo de Janduí, são muito escassas as informações, inclusive no tocante aos Potiguara, de Poti, situados no Litoral, sendo aliados dos portugueses desde o início até o fim da colonização, sem a participação dos Tarairiú que fizeram algumas tentativas, neste sentido, sob a opção de Janduí, durante pouco tempo, diante da negativa do apoio esperado ou prometido e negociado em diversas oportunidades, a exemplo do que aconteceu com o governo luso-brasileiro.
Por aí – temos a certeza de que os povos indígenas jamais tiveram “sombra e água fria”, assim como na atualidade, apesar de serem os pioneiros e legítimos habitantes do território brasileiro guardado e preservado por eles, antes da colonização antecipada pela pré-história de 40 a 50 mil anos, quando até mesmo a Europa não existia, menos ainda os portugueses navegantes que remaram em direção à India, quando foram desviados pelos ventos, pelo que vieram parar nas terras de Vera Cruz.
Foi na complexidade desse universo que Janduí viveu o período de quase duzentos anos, fazendo as longas caminhadas ao lado dos homens e mulheres nômades do semi-árido, na busca de alimentos, nas guerrilhas com arcos e flechas, em defesa dos recursos naturais para a sobrevivência dos grupos tribais descendentes do Homem Caçador, desde a Idade da Pedra Lascada.
- Como acreditar que depois de 360 anos, o corpo desse homem pode ter sido um desafio para a biologia e toda medicina contemporânea, conforme a longevidade alcançada por ele, naquele tempo?
As explicações, neste sentido, estão nos laboratórios de pesquisa dos cientistas que começam abrir as portas para o panorama da vida longa do ser humano, mediante as novas ferramentas adquiridas pela investigação tecnológica concebida e praticada com o fim de atender às expectativas da existência humana.
Parece que que não é por acaso que em Macaíba, próxima de Natal-RN, está em fase de construção, o Instituto de Pesquisa de Neuro-Ciência, sob a coordenação do professor Miguel Micarelli, com apoio de instituições internacionais que garantem trazer para o RN – os últimos conhecimentos do mundo acerca deste assunto.
- E o que isso tem a ver com Janduí?
Tudo tem a sua razão de ser: Natal fica na esquina mais próxima da América do Sul com África. No início do século 16 foi construído no Rio Grande o maior forte do Brasil. Janduí fez a maior resistência dos indígenas aos colonizadores portugueses, a partir do RN. Na II Guerra Mundial, os americanos montaram em Natal, uma base aérea -Trampolim da Vitória de onde partiu o combate aos inimigos do III Reich, de Hitler – Hoje em dia, o RN é o primeiro produtor de petróleo em terra do país, bem como o pioneiro nos projetos de energia eólica, além do Sal Marinho, maior produção, desde a presença dos índios. Grupo industrial da Alemanha está interessado na produção de energia solar no RN, mediante o aproveitamento da sílica no fabricar de placas para absorção dos raios solares abundantes no espaço norte-rio-grandense.
No meio deste cenário – talvez esteja a história da relação direta de Janduí com a Neuro-Ciência, se houver o propósito dos cientistas em saber, através do tempo, como e porque esse indígena – ser humano, nas condições naturais do meio em que viveu – teve a longevidade fora do comum, fazendo guerras, correndo pelas florestas com longas distâncias, resistindo às grandes secas e inundações, dormindo ao relento e sobre as árvores, como fazem outras criaturas irracionais.
Se a Neuro-Ciência não tiver como explicar o comportamento de Janduí, esperamos que a Sociologia, Antropologia além da História e Psicologia examinem toda a questão, mais precisamente o que se relaciona ao fato de Janduí haver recebido em 1617, na sua taba do sertão, um menino com sete anos de idade, procedente da Holanda, salvo do afundamento de embarcação, na companhia de outro holandês, no mar da Ilha Grande – Rio de Janeiro.
Aquele menino, foi encaminhado para viver no Rio Grande, na companhia de Janduí, com o nome de Rodolfo Baro, onde ficou mais de 20 anos – como filho adotivo e querido do cacique, em companhia dos demais – crianças e adultos indígenas no sertão, de onde mais tarde saiu, para servir aos holandeses em Natal, como intérprete do governo Maurício de Nassau junto aos Tarairiú.
No meio das grandes confusões, também acontecem as mudanças absurdas, inesperadas e desafiadoras do homem desconhecido que parece ser impossível no plano da humanidade, a exemplo de um Janduí marcado pela rusticidade, nascido e vivido sob a causa e efeito da violência.
Na coerência da ciência com a natureza – a longevidade passa da teoria para a realidade no âmbito da coletividade social, conforme as experiências de alguns homens e mulheres que fazem a evolução da criatura humana.
Para completar, hoje em dia, ainda temos a constatação de que em Vilcabamba – Peru, tida como antiga Cidade Sagrada dos Incas, destruída e queimada pelos espanhóis em 1572, os homens e mulheres situados naquela pequena localidade de 4 mil habitantes, têm a vida média de 120 a 140 anos com os seus costumes e hábitos normais – sobre as montanhas de 2.500 a 3.000m de altitude, onde nasceram e permanecem, deixando os motivos da longevidade para a ciência da saúde, dizendo que desconhecem o prazer dos seus longos anos de vida!
Na dificuldade para que se acredite em tais informações – pior seria com relação ao que diz a Bíblia: Matusalém viveu 969 anos; Adão, 930; Noé, 950 – seguidos da média de 500 anos para a maioria das gerações posteriores, com raras explicações acerca do tempo ou calendário adotado naqueles períodos distantes, ainda por demais desconhecidos.
Apesar disso, quem tem a fé na palavra bíblica, admitie a certeza sobre as mencionadas indicações, assim como nos estudos de pesquisa feitos pela NASA com o fim de saber a origem da vida nos planetas e suas profundas transformações ocorridas pelo sistema evolutivo da espécie que se diz infinita no sangue e espírito.
Na perspectiva da Vida Longa – esperamos que o “além da queda coice” , ou seja, a morte pré-matura, conforme o entendimento popular, deixe de ser uma constante
para a humanidade, sobretudo dos povos que vivem destituídos dos recursos básicos para a saúde, alimentação, bem-estar e paz.*Jornalista,Sociólogo-UFRN.
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