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Artigos-->ESCOLA LIVRE DE MÚSICA -- 15/05/2013 - 13:11 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 



ESCOLA LIVRE DE MÚSICA “SÃO PAULO”



 



L. C. Vinholes



 



Na visita que fiz a São Paulo no final de abril de 2013 tive oportunidade de rever colegas dos tempos da Escola Livre de Música da Pró-Arte quando, a sós ou em trabalho de grupos estudávamos e desenvolvíamos projetos que resultavam em apresentações públicas nos principais teatros e salas de concerto da capital paulista. À sombra de árvores frondosas do pátio que circunda a Casa das Rosas, na Avenida Paulista, ao redor das mesas disponibilizadas pelo café Il Pastaio, estiveram reunidos Antonieta Moreira Leite, Paulo Herculano, Norma Graça, Felipe Silvestre, Ronaldo Bologna, Samuel Kerr, Saulo Di Tarso, Sérgio Villafranca, Valdir Lopes de Figueiredo, bem como amigos de outros momentos como Lilia de Oliveira Rosa, Gil Nuno Vaz, Conrado Silva, Anna Maria Kiefer, Rodolfo Nanni, Oscar Peter Klein todos acompanhados por Flordinice Maciel Dultra a soteropolitana que, em 1953, deixou Salvador para ser a dedicada e competente secretária do novo e moderno estabelecimento de ensino musical, recém-inaugurado na capital paulista. Não posso esquecer, também presentes e amigos de outras searas como, meus sobrinhos Luiza Helena Vinholes Siqueira Novaes e Luís Eduardo Novaes, os primos Ulisses Rodrigues Vinholes com a esposa e filha Isabel e Gabriele,, João Rodolfo Stroeter, Mitiko Yanaga Une, Yoshimori Une, bolsistas contemporâneos de Tóquio na década de 1960, Marcia Toyosumi companheira de lides na Embaixada no Japão, bem como um número expressivo de jovens apreciadores de música que ajudaram a lotar o hall de entrada da Casa das Rosas onde, costumeiramente, são realizados eventos de cultura e arte.



 



Coincidindo com este encontro, recebi das mãos de Samuel fotocópia da extensa notícia publicada à página 6, da edição de 12 de março de 1952, do jornal O Estado de São Paulo, um dia depois da inauguração da referida escola. Assim como tenho feito nos últimos anos, Samuel também tem dedicado bom tempo à pesquisa, tendo como objetivo recolher informações e documentos que digam respeito à Escola pela qual passaram alunos que se tornaram nomes de destaque como intérpretes, compositores, críticos e professores. A notícia que tem como título o mesmo que utilizo neste texto, detalha o evento da inauguração, dá a orientação a ser seguida com base em um novo conceito pedagógico, alenca matérias inéditas para a grade tradicional das instituições de ensino musical, apresenta os primeiros nomes do corpo docente e registra um apanhado biográfico do primeiro professor-visitante, o compositor e regente austríaco Ernst Krenek.



 



Decidi disponibilizar a referida notícia aos leitores virtuais de hoje interessados em melhor conhecer a realidade de ambiente musical paulista nos anos de 1950 quando a direção da Pró-Arte acreditou na possibilidade de êxito com a abertura de uma casa de ensino musical que melhor atendesse as aspirações dos jovens não só de São Paulo, mas também de todo o Brasil. A divulgação da notícia serve ainda para minimizar o desconhecimento relativo à história da Escola Livre de Música “São Paulo”, desconhecimento este que se verifica não só nas escolas de música, mas até mesmo nos ambientes universitários contemporâneos.



 



Eis o teor da notícia:



 



"Realizou-se ontem a solenidade de inauguração da Escola Livre de Música “São Paulo”, criada pela sociedade “Pró-Arte” e provisoriamente instalada à Rua Sergipe, 271.



 



Às 17 horas e meia, na sede da Escola, houve uma reunião do corpo docente e convidados, presidida pelo maestro H. J. Koellreutter, que proporcionou aos presentes uma visita ao estabelecimento e lhes ofereceu uma súmula dos princípios que nortearão a vida do novo estabelecimento. À noite, na Rua 7 de Abril, nº 230, 2º andar, realizou-se o concerto de inauguração, ao qual compareceu avultado número de convidados e pessoas interessadas. O acadêmico Dr. Menotti Del Picchia leu uma saudação em que assinalou os benefícios artísticos e culturais que advirão para S. Paulo e para o Brasil como consequência das atividades a serem realizadas na Escola de Música “São Paulo”. A seguir, o maestro H. J. Koellreutter, diretor artístico da Escola, dando-a por inaugurada, expôs as bases da nova orientação pedagógica a ser seguida, fundamentada na liberdade criadora, graças à qual se revela a característica essencial da arte, ou seja, a personalidade individual do artista.



 



Organizado a maneira de uma cooperativa profissional, o corpo docente estará sempre em dia com as exigências do ensino moderno, mercê de discussões mensais sobre problemas pedagógicos e profissionais. Ser professor, neste estabelecimento, significa aprender. Partindo sempre do princípio de que não há maus alunos, mas somente maus professores, substituiu-se o programa baseado na imitação do passado – esse conjunto de receitas que, sob o rótulo de uma falsa tradição, sufocam o que houver de positivo no sentido de criação no jovem artista – por um programa capaz de estimular a força criadora e desenvolver a personalidade do aluno.



 



Assim, o programa de ensino, propriamente dito, foi consideravelmente ampliado, visando-se uma cultura mais completa do musicista profissional. O estudo de piano, estudos especializados de leitura à primeira vista e improvisação, análise, estética e sociologia da arte serão, entre outras, matérias obrigatórias. Nas classes de composição e regência exigir-se-á o conhecimento de técnica vocal e de dois instrumentos da orquestra. Não haverá mais classes de solfejo, harmonia e contraponto com trinta, quarenta ou cinquenta alunos. Estas matérias, tão importantes para o músico profissional, serão dadas em classes de três alunos somente, garantindo-se assim a eficiência dos estudos. O aluno que frequenta a Escola Livre de Música estudará e conhecerá a literatura integral, da Idade Média ao nosso tempo, e não se restringirá apenas a dois séculos da tão rica história da música.



 



Institutos autônomos de Música Sacra, de Música Popular e Jazz, de Musicologia e Radiofonia, ligados à Escola, possibilitarão a especialização nessas matérias e oferecerão condições para estudos de radiofonia, cinematografia e experiências com instrumentos eletrônicos os quais, cada vez mais, influem na criação musical.



 



Não faltarão, entretanto, cursos preliminares que prepararão o principiante para o estudo nas classes superiores; serão criados também cursos populares para os que desejarem ampliar seus conhecimentos artísticos.



 



Assim, a Escola Livre de Música “São Paulo”, fugindo aos padrões tradicionais, não fornecerá diplomas oficiais, nem procurará ligar-se ao ensino oficial ou oficializado: manter-se-á como um conjunto de seminários de arte, dirigidos por mestres de reconhecido mérito.



 



A parte musical constou do seguinte programa:



Villa-Lobos – Andante melancólico, 2º tempo do 12º Quarteto de Cordas (1950).



Franz Schubert – Trio em Si Bemol Maior.



Ricardo Strauss – Lieder.



Ernst Krenek – Música Sinfônica, 1923, para 9 instrumentos solistas.



 



Intérpretes: Hilda Sinnek (soprano), Gino Affonsi, A. Schauffmann (violino), J. Oelsner (viola), Calixto Corazza (violoncelo), Wasili Jeremejew (contrabaixo), H. J. Koellreutter (flauta), Walter Bianchi (oboé), Leonardo Righi (clarineta), Josef Meiers (fagote), Geraldo Parente (piano), professores da Escola Livre de Música. Regência: Ernst Krenek.



 



O compositor Ernst Krenek que participou dos cursos de Férias de Teresópolis, promovidos pela “Pró Arte”, e que é professor-convidado da Escola Livre de Música “São Paulo” nasceu em Viena a 23 de agosto de 1900. Estudou com Frans Schreker em Viena e Berlim, mas não se deixou influenciar pelo estilo pessoal do seu mestre. A força da sua personalidade e a originalidade do seu estilo revelaram-se após a primeira guerra mundial, quando sua música de câmara e orquestral foi apresentada nos festivais de Nurembergue e Donaueschinge. Após a execução da sua primeira ópera, “Zwinburg”, libreto de Franz Werfel, dada em Berlim em 1924, passou Krenek a escrever os seus primeiros libretos. Para estudar intimamente a técnica teatral, tornou-se regente e diretor de vários pequenos teatros na Alemanha. Escreveu nesse período, 1925-1927, outra ópera, “Jonny spielt auf” a princípio recusada por vários diretores e afinal aceita e executada em Berlim, em 1927, sob a direção de Gustav Brecher, obra que em poucos meses se tornou mundialmente conhecida. Sua ópera mais recente, “Karl V”, dada em Praga, em 1938, revela novo desenvolvimento no estilo do autor, que ultimamente adotou a chamada “técnica dos doze sons”, cultiva por Arnold Schoenberg e seus seguidores. Tal sistema foi empregado e alterado por Krenek, não somente em “Karl V”, mas em todos os seus trabalhos posteriores. Em 1937, chegou aos Estados Unidos para dirigir a “Incoronazione di Poppea”, de Monteverdi, em orquestração de sua autoria. Em 1938, deixou Viena definitivamente, fixando-se nos Estados Unidos como professor de teoria no “Vassar College”. Krenek é autor de uma obra muito abundante e de numerosos artigos para jornais e revistas de todo o mundo. Escreveu recentemente o livro “Uber Neue Musik”, sobre a sua teoria de música moderna. Sua produção musical compreende cerca de dez óperas, sinfonias, concertos, música de câmera, coros, líricas e peças para piano."



 


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