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Ensaios-->Os riscos do fanatismo -- 24/02/2011 - 16:20 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os riscos do fanatismo

“O conhecimento só tem valor real se há conformidade entre as idéias e a realidade das coisas...”

André Otávio Assis Muniz

Parece óbvio? Mas não é. Por incrível que pareça, a grande maioria das pessoas vive assombrada em um tipo de 'meio-fio', em dois mundos que se interpenetram e interagem entre si.

Um desses mundos é o mundo factível: acordar cedo, levar as crianças ao colégio, ir para o trabalho, labutar até o entardecer, comer, dormir, acessar a internet, trocar o pneu do carro, pagar as contas, discutir no trânsito, escutar os gritos do chefe, olhar as pernas da Dna. Sicrana, ter relações sexuais, fazer exames médicos etc. Ou seja, tudo aquilo que todos os seres humanos ditos normais fazem. Nossas idéias e nosso relacionamento com aquilo que denominamos 'realidade' vêm daí.

O outro mundo, que interpenetra o mundo factível de bilhões de pessoas, é bem menos prosaico e bem mais perigoso se conseguir romper a barreira entre o imaginário e o real. Este mundo é habitado por seres incorpóreos, anjos, demônios, mestres ascensos, espíritos desencarnados, vampiros, fadas, duendes, ondinas, salamandras, fantasmas, larvas astrais, deuses implacáveis que exigem sacrifícios e escravizam seus fiéis, prescrições religiosas que contrariam qualquer norma de bom senso ou razão, rituais ilógicos para se 'influenciar' o mundo através de 'fluídos energéticos', 'energias telúricas', 'energias cósmicas', objetos 'impregnados' de 'olho gordo' ou 'enfeitiçados', pseudo-ciências que passam informações equivocadas ou totalmente estúpidas para os leigos e com isso enriquecem, enfim, um mundo onde tudo é possível, a gosto do cliente.

O grande problema dessa 'interação' entre esses dois mundos distintos, é que, quando grandes segmentos sociais começam a aderir com grande entusiasmo a essas idéias, o progresso humano e a própria dignidade humana começam a ser afetados de forma importante.

Alguns exemplos podem ilustrar de forma bastante viva essa problemática:

- o Império Romano, nos primeiros séculos, perseguiu violentamente o cristianismo. Os cristãos eram atirados aos leões, torturados, grelhados, despedaçados, serrados etc., pelo fato de se negarem a adorar ao Imperador como divino e aos deuses de Roma;

- em 313 o Imperador Constantino, teoricamente, se converteu ao Cristianismo.

- logo que a Igreja sentiu-se forte o bastante, passou a perseguir os mitraístas, os pagãos, os judeus, os 'heréticos' e os filósofos. Em 529, mandou fechar a Academia de Atenas. Os cristãos então, se lançaram à piedosa obra de destruir templos antigos com fúria superior à de Átila, o huno;

- no Egito, preciosos relevos da antiguidade faraônica foram despedaçados a marretadas ou raspadas com pentes de fero pelos cristãos coptas, que, no lugar dos lindíssimos relevos, esculpiram cruzes e símbolos cristãos;

- os Concílios condenaram os 'hereges' banindo-os da sociedade como cães pestilentos. Santamente é claro. Com o clamor de Urbano II, levantam-se as cruzadas, 'a guerra santa' ia começar. Como 'exercício militar' para os cruzados, as cidades de Bézier e Carcassone foram arrasadas. Católicos e albigenses eram mortos indistintamente;

- alguns guerreiros mais 'piedosos' perguntaram: “- Não seria pecado matar católicos e hereges juntos? Como saber quais são os albigenses?” A dúvida foi logo solucionada por Arnald Amauri, abade de Citeaux: “- Matem todos, Deus reconhecerá os seus! “;

- em 1099, Jerusalém foi conquistada. Os 'libertadores' da 'Terra Santa', massacraram muçulmanos, queimaram judeus trancados em suas sinagogas, estupraram centenas de mulheres barbaramente e se lavaram nos sangue dos 'infiéis';

- na Idade Média, a Igreja corrompia-se vendendo indulgências, cargos clericais, comerciando sacramentos em troca de vultosas somas em dinheiro, enquanto o povo, presa de medos e superstições estúpidas, morria de fome vivendo em choupanas, trabalhando em regime de escravidão ou semi-escravidão acreditando que 'Deus quis assim'. Lutero e Calvino se levantaram contra tais anomalias, mas tão logo conseguiram poder e prestígio, recomeçaram o ciclo;

- Thomas Müntzer fundou o movimento dos 'Puros', que dizia que a liberdade era uma condição da palavra de Deus. Müntzer foi executado com a aprovação de Lutero, o mesmo Lutero que apoiou o massacre dos camponeses e disse piedosamente: 'que sejam exterminados como cães, sem nenhuma misericórdia';

- Calvino transformou Genebra num horrível hospício de fanáticos. Em uma população de dezesseis mil habitantes, cinqüenta e oito pessoas foram mortas por ordem dele;

- do outro lado do mundo, os muçulmanos perseguiam raivosamente os farsis do Irã, enquanto os farsis perseguiam aos maniqueus;

- na Índia, o Islam deu um ultimato aos hindus: “- Converter-se ou morrer!”;

- na mesma Índia, seis mil monges budistas e semelhante quantidade de jainistas foram mortos impiedosamente pelos conquistadores muçulmanos. Os hindus, cansados de serem perseguidos pelos muçulmanos, resolveram ir à desforra: passaram a perseguir sikhs e budistas;

- no ano de 1919, 375 sikhs foram massacrados por Punjab. Em 1992, em meio a um verdadeiro banho de sangue em Uttar Pradesh, fanáticos destruíram uma mesquita. Em resposta, só em Bombaim foram mortas mais de 1.500 pessoas. Sobre a 'Santa' Inquisição, segundo a `The encyclopedia of witchcraft and demology', de Russel Hope Robbins (1959) se lê:

“Pode-se dar uma olhada em algumas das torturas especiais em bamberg: por exemplo, fazer a acusada (de bruxaria) ingerir à força arenques cozidos com sal e depois negar-lhe água - um método sofisticado, empregado lado a lado com a imersão da acusada em banhos de água escaldante a que fora acrescentada cal. Outras maneiras de torturar as 'bruxas' compreendiam o cavalo de madeira, vários tipos de rodas, a cadeira de ferro incandescente, os tornos para as pernas (botas espanholas), e grandes botas de couro ou metal em que se despejava água fervendo e chumbo derretido (com os pés dentro, é claro). Na tortura da água, question de l`eau, despejava-se água pela garganta da acusada, junto com um pano macio para que ela se engasgasse. O pano era rapidamente puxado para fora, de modo a lhe dilacerar as entranhas. Os anjinhos (grésillons) eram um torno destinado a comprimir o polegar e o dedão do pé até a raiz da unha, para que o esmagamento do dedo causasse uma dor excruciante.”

- havia ainda de origem inglesa o 'legscrew', uma bota que esmagava as panturilhas e os músculos gêmeos e quebrava a tíbia; e o 'ram', assento de ferro provido de pregos que por baixo esquentavam ao fogo;

- outras práticas 'santas' incluíam os açoites, queimaduras com pedaços de madeira impregnados de enxofre, pregos e estilhas sob as unhas, reclinatórios com afiadas pontas de madeira, um casco provido de finos e resistentes barbantes que iam se apertando até que o couro cabeludo saía em pedaços, derramar-se pixe e enxofre sobre a pele e prender fogo, impedir os acusados de dormir até a morte por exaustão...tudo isso em nome da 'santa fé em Deus Nosso Senhor...'. Pode-se pensar que tais coisas pertencem a um passado distante, mas o que dizer dos adolescentes que abandonam suas famílias em nome de alguma 'obra sagrada' ou 'igreja'? E daquelas milhares de pessoas que acabam dependentes de medicamentos e se tornam depressivas, ansiosas, neuróticas e traumatizadas graças à sua imersão em uma confissão religiosa?;

- muitas famílias são quebradas ao meio, graças a um de seus membros ter 'se convertido' a uma seita e começar a acusar a todos os outros de 'infiéis', 'pecadores', 'filhos das trevas', ou graças às brigas provocadas em nome da diversidade ideológica. O autor se lembra bem das conversas que teve com pessoas absolutamente alienadas que atribuíam todos os fatos aos 'planos da Grande Fraternidade Branca' e ao invés de tomarem remédios para a cura de doenças ficavam 'vibrando a chama da cura' até que uma delas caiu gravemente doente e teve que correr para o hospital (com a doença em estágio avançado e de difícil cura); e

- o que pensar dos partidários da 'Alcaida'? Dos hediondos atentados ocorridos no fatídico 11 de setembro? Ou dos grupos que mobilizam jovens em nome de Allah, para usarem seus próprios corpos como detonadores de bombas, se despedaçando e matando outros civis inocentes? Da eterna guerra na Irlanda entre católicos e protestantes? Do ódio mortal votado aos maçons por grupos pentencostais? E das condenações ridículas contra a Maçonaria reafirmadas em 1983 pelo cardeal, hoje Papa, Joseph Ratzinger? Quantas e quantas pessoas vivem carregadas de fitinhas, amuletos, medalhinhas e afins, dizendo que são para a 'proteção'? E quantas outras temem passar embaixo de escadas, cruzar com gato preto, ver pessoas mortas, escutar 'vozes' ou vislumbrar 'vultos'? Quantos milhares se julgam vítimas de feitiços, ou se julgam possessadas pelo demônio ou vítimas dos maus espíritos?

É claro que algumas pessoas lucram muito com tudo isso, mas a humanidade perde.


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