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Ensaios-->Quem lidera o povo contra o faraó? -- 08/02/2011 - 11:59 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Revista Istoé

Quem lidera o povo contra o faraó?

Mundo

Depois de 30 anos no poder, não há mais espaço para Hosni Mubarak no Egito e agora a questão é como assegurar que o país não caia nas mãos de radicais islâmicos

Claudio Dantas Sequeira

No fim da segunda semana de manifestações populares no Egito, a deposição do presidente Hosni Mubarak tornou-se inevitável. Apesar da violência política e dos ataques à imprensa estrangeira, o fim da ditadura de 30 anos já é comemorado nas ruas e praças do Cairo. Na sexta-feira 4, milhares de manifestantes se reuniram na praça Tahir para mais um protesto, chamado de “Dia da Partida”, numa espécie de ultimato a Mubarak. Dois dias antes, o choque entre opositores e simpatizantes do ditador egípcio, que deixou ao menos uma dezena de mortos e mais de 800 feridos, teve forte repercussão interna e externa, apressando as negociações para a transição. Antes irredutível, Mubarak passou a admitir entregar o poder. “Fiquei extremamente infeliz com o que aconteceu nas ruas. Não quero ver egípcios lutando uns contra os outros. Estou cansado da Presidência, mas deixar o cargo agora mergulharia o país no caos”, disse o presidente, em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da emissora americana ABC News. Tudo indica, porém, que ele não está mais em condições de estabelecer prazos. Sem apoio dos Estados Unidos, sua hora chegou.
Depois que Mubarak passou a reprimir o trabalho da imprensa estrangeira e de organizações de direitos humanos, acusados de participar de um complô para derrubá-lo, a preocupação com a falta de segurança no Cairo aumentou sensivelmente. Com o aval do governo, carros de equipes de reportagem foram apedrejados, equipamentos arrancados e quebrados e jornalistas agredidos. As milícias de Mubarak entenderam que sem a livre informação o movimento se esvaziaria. E repetiram os atos desesperados de outros regimes de força às vésperas da queda. O hotel Ramsés Hilton, onde a imprensa está hospedada, foi cercado por simpatizantes do ditador e policiais invadiram os quartos para apreender câmeras e gravadores. Mais de 20 jornalistas, de veículos como BBC, Al-Jazeera, ABC News e TF1, foram presos e estariam em locais desconhecidos. Durante os protestos, um jornalista da rede de televisão pública da Suécia, a SVT, foi esfaqueado nas costas e está internado em estado grave em um hospital do Cairo. “O governo egípcio deve demonstrar sua vontade em garantir aos jornalistas a capacidade de registrar os eventos”, advertiu a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.
Um dos episódios mais graves envolveu jornalistas brasileiros. O repórter Corban Costa e o cinegrafista Gilvan Rocha, ambos da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), foram detidos, encapuzados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos. “Achei que iria morrer a qualquer momento. Graças a Deus, estamos bem e voltando para casa”, disse Rocha. “Foi uma sensação horrível. Achei que seríamos fuzilados”, completou Costa. Mas, depois de 18 horas, sob pressão psicológica, a dupla foi levada ao aeroporto e expulsa do país. O Itamaraty emitiu uma nota contra o governo egípcio, que impediu a embaixada brasileira no Cairo de prestar assistência aos jornalistas. Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, juntou-se aos protestos e considerou inaceitável o ataque sistemático à imprensa.
Em meio à crescente pressão internacional, o presidente dos EUA, Barack Obama, que vinha adotando postura discreta na crise, foi a público pedir a antecipação das eleições, marcadas para setembro. “O presidente Mubarak reconhece que a situação do atual regime não é mais sustentável”, disse Obama. Até o final da semana, os EUA negociavam, com apoio da ONU, a instalação imediata de um governo de transição. Seria liderado pelo vice-presidente Omar Suleiman, mas com a participação de representantes de todo o espectro político egípcio, desde nasseristas até liberais, passando por comunistas e islamistas, inclusive a temida Irmandade Muçulmana – uma das maiores forças políticas organizadas do Egito, que foi posta na clandestinidade por Mubarak.
A ideia de uma transição controlada satisfaz os anseios americanos, que temem a tomada do poder por fundamentalistas islâmicos, numa repetição da revolução iraniana de 1979 que derrubou a ditadura corrupta do xá Reza Pahlevi. “É quase impossível estabelecer uma democracia estável a partir do caos e depois de anos de corrupção e injustiça”, avalia o cientista político Leslie Gelb, presidente emérito do Council of Foreign Relations, de Nova York. Para Gelb, a eventual queda abrupta de Mubarak criaria um efeito dominó nas demais ditaduras árabes e desmoronaria o poder de influência dos EUA nesses países. No Irã, o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, comemorou o que chamou de “movimento islâmico de libertação”. “Os eventos no norte da África, no Egito, na Tunísia e em outros países têm uma significação particular para nós. É o despertar do povo islâmico”, disse Khamenei.
Mas para o analista de segurança internacional Günter Rudzit, coordenador do curso de relações internacionais da Faap, o Egito não corre o risco de repetir o exemplo iraniano. “Não se vislumbra com a Irmandade Muçulmana um governo teocrático, porque o Egito é sunita e não tem a religião como fator organizador da vida do Estado”, afirma Rudzit. A tese é reforçada pelo egípcio Hesham Ali, um dos líderes da Irmandade. Segundo ele, o grupo defende que as leis do Estado derivem do “Corão”, o livro sagrado do Islã, mas não possui uma agenda militar nem propaga ideias extremistas como o Hamas – que controla a Faixa de Gaza. “As pessoas no Ocidente não percebem que a Irmandade Muçulmana não é o grupo extremista que a mídia demoniza”, afirma.
Desde o início da crise egípcia, o grupo islâmico tem evitado pronunciamentos e chegou a rejeitar um apelo do vice-presidente Suleiman para dialogar. Os demais partidos de oposição, reunidos na Frente Patriótica liderada pelo ex-chanceler Mohamed El Baradei, também demonstraram resistência em negociar com o governo. “Qualquer negociação está condicionada à retirada de Hosni Mubarak e à segurança na praça Tahir”, disse El Baradei, que foi diretor da Agência Internacional de Energia Atômica e voltou ao Egito para comandar o processo de revolta contra Mubarak. Para o analista egípcio Walid Kazziha, da Universidade Americana do Cairo, a saída de Mubarak poderá abrir caminho para que o vice-presidente conduza o país a um novo regime, mais liberal. Kazziha acredita que os protestos despertaram uma “fome de liberdade que dificilmente poderá ser abafada”. O fim do totalitarismo no mundo árabe começou pela Tunísia, está sacudindo o Egito.


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