Usina de Letras
Usina de Letras
121 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62145 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13566)

Frases (50551)

Humor (20021)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140784)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6175)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->NINGUÉM SABE DE NADA, "EU ACHO" -- 24/04/2013 - 18:29 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






        NINGUÉM SABE DE NADA, “EU ACHO...”



 



      normal">Francisco Miguel de Moura-Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras



 



Se observarmos o que acontece na formação pessoal, educativa, profissional e na cidadania, sente-se que por mais que queiramos acompanhar os novos conhecimentos, as novas invenções e até as inovações em artes: música, pintura, escultura, literatura, poesia... Não sei, não se consegue. No mundo dos estudos, as crianças de hoje não precisam de livros (embora os colégios peçam uma enorme carga, só para enriquece as grandes empresas do ramo). Tudo está na televisão, no computador, no celular, etc. E ninguém apreende nada porque tudo é descartável: é e não é ao mesmo tempo; sim, hoje - amanhã, não. Há buracos sociais muito grandes provocados pelo isolamento pessoal, social, profissional, familiar e principalmente educacional.  Nas reuniões, grandes ou pequenas, almoços, jantares e outros pequenos ou grandes ajuntamentos, o que se observa é o grupinho de dois, três ou quatro – parentes, casais, namorados, pouco amigos. As conversas giram em torno de banalidades: qual a marca melhor de carro? Qual o canal de tevê que mais aparece mulheres seminuas (quando a conversa é entre homens)?  O que é melhor, um bom churrasco de carneiro ou uma pescaria?  Nesta ninguém precisa pescar nada, pode-se ficar debaixo da árvore ou da barraca, apreciando o mar ou o rio até cansar-se, dormir e voltar pra casa. Ou até nem ir lá, peixe compra-se congelado no supermercado. Melhor esgueirar-se para um piquenique, boteco, ou mesmo casas afamadas por suas mulheres novinhas, e que não fecham nem para o almoço.



            Na pequena reunião onde se contam mais os cunhados que os amigos, os filhos não sei de quem com não sei quem, etc. que são sobrinhos e já estão na gandaia. “São quantas horas”, pergunta um deles, com ar de quem está preocupado.



            “- Quatro, olhe aqui”.  Outro mete o relógio - o máximo, custou muitos dólares – bem na cara do perguntador, que está “sem...”.  Fora comprar no cartão de 10 vezes e não tinha crédito: ”- Quatro, olhe aqui!”. 



            “- Ah, não!”, grita, “vamos sair”. Tá na hora do jogo.



            Tratam de um clássico: Olaria versus São Sebastião, timezinhos do interior, que, meu Deus! Causam dó à arte dos pés e da cabeça, haja vista o que se passa no campo, na hora da partida e, depois, o que se ouve na hora das entrevistas às rádios locais que dão, pensando que é a uma grande emissora de São Paulo ou do Rio. Dizem barbaridades! Alguns nem sabem arremedar duas palavras (erradas) numa frase comunicável.



            Quem vive tais fatos e acontecimentos nunca leu um livro (nem bom, nem mau), nunca leu o jornal, não possui uma boa discoteca, agora tudo é no pendraive – músicas de “carregação” copiadas na mídia que se chama internet - pode ter o que falar? Altos pensamentos, idéias brilhantes que transformem o mundo e a alma das pessoas nele envolvidas?  Ficam somente no “eu acho pra cá”, “eu acho pra lá”, e pronto. Há horas em que só se ouvem as moscas, desde que a música barulhenta e enrolada tenha cessado. E essa rotina só termina quando chega um fim-de-semana prolangado (e nos últimos tempos têm sido prolongados até demais): começam às vezes numa quinta-feira e terminam na segunda. Aí, sim, acaba-se a rotina. Cada um pega seu carro novo ou velho e dana-se na estrada para o litoral (os litorais) ou para os interiores.



            Digam-me uma coisa: o que é que uma pessoa do Nordeste, por exemplo, vai buscar no interior, numa Semana Santa, se todas as tradições desapareceram. Se não há mais roças como antigamente, primeiro porque não há mais trabalhadores como antigamente, nem há invernos como antigamente, não mais parentes como antigamente.



Se entrarmos por este caminho é capaz de não termos volta: casados, descasados, recasados, amancebados, juntos, namorados e namoradas com filhos morando na casa dos sogros e sogras, ou sogras tortas, tios tortos, sobrinhos que não são de sangue nem foram adotados. É a maior barafunda. E os adolescentes que simplesmente “ficam”?- “Você é Felix ou Serginando”? “Ah! Eu te amo”, diz a garota. Não importa! Algumas e alguns nos quintais, outros no quarto mais escuro (A luz se apaga). E o Carnaval já passou. Quando ele vem de novo? – “Aí! Você me abraça sem me apertar. Sei lá”. Não há mais aquele joguinho de bola, de sorrisos à distância, nem flertes, nem nada. O negócio é chegar às vias de fato (nos dois sentidos).



Por falar em jogos, lembro agora de outro. Mas era só entre os homens: Nas tardes de abril, jogo de bola feita de palhas de milho, no qual os melhores nunca deixavam a bola cair, enquanto faziam a troca de um lado para o outro, os mais bobinhos ficavam somente de boca aberta, de cabeça pra cima, sem aparar uma. Até que terminavam, suados, iam para o banho. Agora a ceia, com muita coalhada.



            “Hoje”, fala o dono da fazenda, “a coalhada foi pouca, não choveu. Não sei se dá pra todos”. Chega um, chega outro, uns se empurram, no final, saem em seus carros correndo para a cidade e terminam ceando coalhada de copo, leite de lata, pão de ontem, depois de terem enfrentado uma estrada violenta, pois de todo lado sai carro, cada qual querendo chegar primeiro. Felizes daqueles que chegam são e salvos, na cidade, para contar a história, ou melhor, saber da história através das noticias da tevê, sobre os desastres, os que ficaram paraplégicos, os que morreram. Ninguém diz nada, ninguém avalia nada, ninguém sabe de nada.  “Acham” que sabem tudo pelas manchetes dos jornais do dia seguinte.  – “Com foi seu fim de semana prolongado, amigo?” - Eu “acho que foi bom”.  Mas quando trata de contar o que passou, já o outro virou as costas e foi achar o que o compadre e cunhado “achou” da estada no interior, ou da temporada na praia.  É a vida normal, sem monotonia, só com muita buzina, muito apito de sirena indicando que alguém foi pro hospital, morreu ou foi preso.  É o tempo do “ACHISMO”.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui